José Medeiros de Lacerda

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Textos

BOIUNA - UMA LENDA DA AMAZÕNIA
História da Cobra Grande,
Boiúna, Cobra Norato,
Mãe Grande, Cobra Maria
É uma lenda de fato
Mas é coisa verdadeira,
Se achas que é brincadeira
É só se embrenhar no mato...

É uma cobra de fato
De enormes proporções
Seus causos, suas histórias
Variam por regiões,
Boiúna no Tocantins
Cobra Grande em Parintins
Maria no Solimões.

Por ter grandes proporções
Habita as profundezas
Dos grandes lagos e rios
E por ter pouca destreza
Pra conseguir alimento
Quase não faz movimento
E ataca de surpresa.

Faz parte da Natureza
Dividir opiniões
A respeito dessa lenda
Ao longo do Solimões
Até onde ele sumiu
E ao Rio Negro se uniu
Unindo duas regiões.

Dizem no Rio Solimões
Que a Cobra Grande é visão
Nascida no cruzamento
De mulher com assombração
Por isso ninguém a ver
E ela vive a proteger
O povo da região.

Há outra divagação
Um tremendo zum, zum, zum,
Que a Cobra grande veio
De cruzamento nenhum
Não é visão pois tem vida
E que ela foi nascida
De um ovo de mutum.

Dentre os nomes tem mais um
Noutra lenda conhecida
Também do Rio Solimões
Que envolvem morte e vida,
A filha de um feiticeiro
Por um branco forasteiro
Foi um dia seduzida.

Dessa união indevida
Com a filha do pajé
Nasceu um casal de gêmeos
Nomes Maria e josé
A cunhã,  desprotegida
Teve os filhos escondida
Dentro de uma igarité.

Mas o raivoso pajé
O segredo descobriu
Foi lá, matou sua filha,
Jogou os bebês no rio
José na hora morreu
Maria sobreviveu
E o feiticeiro não viu.

É que a Iara  assistiu
Tudo quanto acontecia
Viu o pai matando a filha
Jogando os netos na ria
Compadecida e com mágoas
Doou José para as águas
E transformou a Maria.

A transformação seria
Uma enorme serpente
Com grandes olhos de fogo
Provocadora de enchente
Para encalhar navios
E atuar nos grandes rios
Assustando toda gente.

Essa famosa serpente
Criada para esses fins
Chamada Cobra Maria
Provocou momentos ruins
Enchendo o povo de mágoas
Desde o encontro das águas
Indo até Parintins.

Lá no Rio Tocantins
Apareceu outro fato
Uma índia engravidou
Da grande Cobra Norato
E essa fatalidade
Trouxe mais tranquilidade
Aos habitantes do mato.

Essa Maria Honorato
Que o povo ali chamaria
É a famosa Boiúna
A mesma Cobra Maria
Que praticava maldade
E tirava a liberdade
De quem ali residia.

Aconteceu certo dia
Da Boúna desejar
Deixar de ser uma serpente
E à forma humana voltar
Mas pra isso acontecer
Teria que aparecer
Alguém para a libertar.

Começou a procurar
Um homem para esse feito
Tería que em sua boca
Derramar leite de peito
Numa noite de luar
Para ela assim voltar
A ter um corpo perfeito.

Depois de tudo isso feito
Tería que provocar
Um corte em sua cabeça
Pra que pudesse sangrar
Só cumprindo essa missão
A sua transformação
Podia se completar.

No Estado do Pará
Aparece um cidadão
Um soldado de policia
Da cidade Redenção
Que decidiu atendê-la
Porque desejava vê-la
Depois da transformação.

Livrou com sua missão
Honorato do encanto
Transformando a cobra d’água
Num corpo divino e santo
Ela pegou sua trilha
E foi viver com a família
Na floresta em algum canto.

Pesquisando eu não me espanto
Pois já estou acostumado
A ver lendas diferentes
Dentro de um mesmo Estado
Referentes a um só tema
Às vezes é um problema
Do jeito que foi contado.

Roraima é outro Estado
Onde a Boiúna aparece
Lá surge no pensamento
Quanto mais pensam mais cresce
Vive desaparecida
É só dá sinal de vida
Quando a mata floresce.

Quando uma coisa acontece
Precisa ser registrada
Dizem que uma linda índia
Uma princesa adorada
Um dia se apaixonou
E a vingança a transformou
Numa serpente encantada.

Essa princesa adorada
Achou de se apaixonar
Pelo grande Rio Branco
Com isso foi provocar
Ciúme em Muirakitã
Que fez a linda cunhã
Em cobra se transformar.

O que se conta por lá
É que com esse desvario
Ela virou protetora
Das águas daquele rio
Ajudando os pescadores
E punindo os predadores
Que lhe fazem desafio.

Boiúna naquele rio
É mais que uma divindade
É a esposa do Rio Branco
Protegendo-o da maldade
Assim, toda região
Tem a sua proteção
Seja no campo ou cidade.

No Acre a divindade
Faz sua transformação
Numa linda moça e atua
Nas festas de São João
Seduz com seus predicados
Rapazes desavisados
Levando-os para o porão.

É a feminina versão
Bonita e maravilhosa
De outra lenda conhecida
A do boto cor-de-rosa
Sendo que o boto engravida
E a Boiúna tira a vira
De forma bem desastrosa.

Essa cobra perigosa
Também tem atuação
Nas populações urbanas
Segundo a superstição
Cidades foram fundadas
Mesmo em cima da morada
Do terror da região.

Pedreiras no Maranhão
Santana no Amapá
Parintins no Amazonas
Um dia podem afundar
Se a poderosa serpente
Aparecer de repente
E a cidade abraçar.

Seus nomes podem mudar
De acordo com a região
Alguns dos nomes citados
Na primeira informação
Ainda chamam Boiaçu
Sucuri, Sucuriju
Anaconda ou Boião.

Também há variação
No peso, no comprimento
Com cento e cinquenta quilos
Mas chega até os duzentos
Metros vai de cinco a sete
Mas até com dezessete
Foi vista em algum momento.

A Boiúna tem talento
Forma e porte varonil
É o maior serpentário
Que na terra já se viu
Tem brilho e tem proceder
É preciso ver pra crer
E é Coisa do Brasil.
Manaus, 14/10/2013
SÉRIE LENDAS BRASILEIRAS - VOLUME 28
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 20/11/2022
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