José Medeiros de Lacerda

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Textos

ICAMIABAS - UMA LENDA DA AMAZÔNIA
Há alguns séculos atrás
Na Amazônia existia
Uma tribo feminina
Onde não se permitia
Do homem intromissão,
Se entrasse sem permissão
Com cereteza morreria.

Essa tribo residia
Bem próximo às cabeceiras
Do grande Rio Jamundá
E todas eram guerreiras,
Famosas Icamiabas
Que mantinham suas tabas
No meio das seringueiras.

Essa mulheres guerreiras
Completamente isoladas,
Em certa época do ano
Estando necessitadas
Deixavam os seus domínios
E com grupos masculinos
Ficavam acasaladas.

A festa era organizada
Como se fosse uma rua
Próximo ao lago sagrado
Chamado Yaci Uarua,
Tudo ali acontecia
Quando a água recebia
O grande espelho da lua.

Quando Yaci Uarua
Sentia a Deusa Pagã
Liberava as pedras verdes
Chamadas Muiraquitã,
Era o clímax da festa
Que reinava na floresta
Até a luz da manhã.

A Mãe do Muiraquitã
A todas presenteava
Uma lama de cor verde
Que das águas emanava,
Com geléia parecia,
Fora d'água endurecia
E em pedra se tranformava.

Toda icamiaba usava
A tal pedra no pescoço
Que ganhava da mãe lua
Nas fundas águas do poço,
Aquele era o argumento,
No ato do acasalamento
Dava de presente ao moço.

Ninguém mais naquele poço
Ganhava um muiraquitã,
Somente as icamiabas
Usavam esse talismã
No pescoço pendurado
Ou num canto bem guardado
Pra ter uma vida sã.

E quando a luz da manhã
Na floresta refletia
A grande festa acabava
As índias se despediam
Dos índios, que resolutos
Voltavam pros seus redutos
Sozinhos, sem companhia.

Muita criança nascia
Por causa dessa noitada,
Quando nascia menino
Ao pai era enviada,
Se não levassem, matavam,
Só as meninas ficavam
Pelas mães sendo criadas.

Há uma versão contada
Sobre a pedra talismã,
As famosas pedras verdes
Chamadas "muiraquitã",
Os brancos chamam de jade
Mas as índias, na verdade,
Chamavam "Luz da Manhã".

Dizem que o muiraquitã
Era um tipo de animal
Que nadavam submersos
Em lagos no matagal
As índias para apanhá-los
Entravam para buscá-los
Depois de um ritual.

Esse tipo de animal
As índias adquiriam
Jogando um pouco de sangue
Sobre eles, que morriam
Ao ser da água tirados
Eram por elas tirados
Até que endureciam.

Outras tribos existiam
Por aquela região
A tribo Uaboí
É quem conta essa versão
Das pedras serem animais
Que viraram minerais
Pra ajudar na procriação.

Outra tribo da região
Que eram os mais aproximados
Das índias icamiabas
Com quem tinham seus tratados
Eram os índios Guacarís
Que tinham um pacto feliz
Com as vizinhas do lado.

Por eles que foi narrado
O combate de Orelhana
Navegador espanhol
Na região acreana
Vinham em expedição
E meteu-se em confusão,
Uma guerra soberana.

O combate de Orelhana
Aconteceu, na verdade,
Com índios encabelados,
Tribo da localidade
Mulheres participavam
Porque também guerreavam
Com muita capacidade.

As mulheres, na verdade,
Segundo Frei Carvajal
Da expedição de Orelhana
Viviam no matagal
Guerreando com os maridos
Daí terem confundido
Porque era tudo igual.

Icamiaba, afinal,
Depois foi esclarecido
No dialeto dos índios,
Era, "mulher sem marido"
Que mantinha seu reduto
Em regime absoluto
Sem homem tomar partido.

Sendo o combate perdido
E Orelhana derrotado
O "País das pedras verdes"
Foi assim denominada
De tanta pedra que havia,
Os índios as conduzia
E também tinham guardado.

Depois de séculos passados
É difícil de julgar
Os muiraquitãs existem
Estão aí a enfeitar
Museus, casas de valores,
Com colecionadores
Que já andaram por lá.

Não dá para constatar
Se é verdade ou invenção
Mas a lenda foi tão forte
Que chegou à criação
De um rio muito profundo,
O maior rio do mundo
E um Estado da Nação.

Quem vai a Alter-do-Chão
Uma vila localizada
À margem do Tapajós
E que hoje está ligada
Ao mundo por avião,
Por rios à região
E a Santarém por estrada.

Um lago cor de esmeralda
Azulado nas manhãs
Com o sol vai se formando
Outras matizes terçãs
Por fim termina formado
O lago verde, chamado
Lago dos muiraquitãs.

Essas mulheres pagãs
Que da floresta eram donas
Combateram os espanhóis
Em todo baixo-Amazonas
Eram elas, verdadeiras
Icamiabas guerreiras
As genuinas matronas.

Contam que as amazonas
Costumavam mutilar
Um seio, para melhor
O seu arco envergar,
Na convivência com o meio,
Quanto ao segundo seio,
Usavam pra amamentar.

Assim veio a se formar
O vocábulo em qustão
Seio em grego é "mazos"
Daí a constatação,
«Amazos» fica "sem seios"
Por hibridismo ou outros meios
Chegou-se ao nome de então.

Em outra constatação
Se conseguiu apurar
Que a pedra verde é "nefrita"
Que as índias íam buscar
No lago onde existiam
Moldavam como queriam
E botavam pra secar.

Pra quem gosta de explorar
Vá lá em Alter-do-Chão
Conhecer o lago verde
Sagrado na região
Onde a lama esverdeada
Continua retirada
Pra trabalho de artesão.

Hoje a minha ocupação,
O meu trabalho servil,
É estudar esses causos
Que no passado existiu
Para em versos escrever
E o leitor conhecer
Mais uma lenda do Brasil.
Vitória da Conquista, 03/03/2016.
SÉRIE LENDAS BRASILEIRAS - VOLUME 27
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 20/11/2022
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