COSME BENTO - A REVOLTA DA BALAIADA
O tempo da escravidão
É uma história inacabada Lutas, revoltas, motins Terminaram dando em nada Dessa época sem vitória Sempre existe alguma história Que merece ser contada. Por exemplo, a Balaiada No Estado do Maranhão Ou Guerra dos Bem-te-vis Chamada na ocasião Foi luta de potentados Com pobres discriminados E envolveu a escravidão. Um negro da região Já escravo alforriado, O Cosme Bento das Chagas, «Negro Cosme» apelidado Provocou estrepolia, Fez coisa que não devia Antes de ser enforcado. Em registros encontrados Daquela época vulgar Negro Cosme foi nascido Em Sobral, no Ceará No ano mil e oitocentos Segundo os documentos Que conseguiu se encontrar. Começou a trabalhar Separado dos demais Servindo a seu senhorio Em mandados especiais E enquanto aprendia a ler Era obrigado a fazer Outras tarefas braçais. Por dotes especiais, Patrão, pra lhe compensar, Com ele ainda bem jovem Resolveu lhe alforriar. Com a alforria na mão Se mandou pra o Maranhão, Se ausentou do Ceará. Em São Luís a morar Se envolveu num entrevero, Terminou assassinando Um tal Raimundo Ribeiro De um fazendeiro o capanga E para a Vila da Manga Foi levado prisioneiro. Fugiu sem deixar roteiro Dessa nefasta prisão Depois de ter provocado Uma grande rebelião E após se escafeder Começou a promover Uma vasta insurreição. Com negros da região Começou a devastar Senzalas onde passava E aos negros libertar Andando sempre no escuro Atrás de um lugar seguro Pra poder se aquilombar. Difícil de se encontrar Agindo na escuridão Assim passou muito tempo Sem se ter informação Enquanto ele escapava, Onde chegasse fundava Quilombos na região. No Estado do Maranhão A repressão comandada Pelo Duque de Caxias Deixava desesperada Intensa população Que invadindo a prisão Deu início à Balaiada. A invasão comandada Por um tal Raimundo Gomes Só conseguiu ser mantida Com a ajuda de três mil homens Negro Cosme comandando Todos eufóricos bradando «Rebelados não tem nomes!» Cosme aliado a Gomes Logo um título adotou «Dom Cosme Bento das Chagas Tutor e Imperador Liberdade Bem-te-vi» E ninguém chegava ali Onde ele se aquilombou. Nessa região fundou Com a sua guarnição Na fazenda Tocanguira Lagoa Amarela, então, Deixando ali seu legado Maior quilombo formado Na história do Maranhão. Depois veio a rendição De Gomes, seu aliado Janeiro, quarenta e um Passa a ser considerado Mesmo com dificuldade Por todas autoridades Movimento debelado. Cosme não foi encontrado Naquela oportunidade Mas sempre estava presente Levando fraternidade A todos que o apoiavam E que também cultivavam O sonho de liberdade. Já havia a irmandade Da Senhora do Rosário Ele era muito devoto, Da santa era um missionário Reunia multidões Proferindo seus sermões, Construindo campanários. Na função de missionário Ele nunca estava só, Andando entre multidões Aconteceu o pior, Por um batalhão armado Foi visto e capturado Na cidade de Codó. Durante esse quiprocó Negro Cosme foi ordeiro Depois de capturado Foi levado prisioneiro Pra Capital do Estado Onde seria julgado Tachado de arruaceiro. O Exército Basileiro Envolto com a Balaiada Adiou seu julgamento Pra uma data a ser marcada, Cosme fugiu novamente De forma surpreendente Sem se suspeitar de nada. Em fuga desenfreada Pra Tocanguira voltou Seu quilombo devastado Novamente organizou Juntou muitos aliados Escravos e alforriados E uma seita fundou. Com hierarquia criou Uma ordem soberana A Guerra da Liberdade E da Lei Republicana Derrubando preconceito Para o pobre ter direito A uma vida mais humana. Cosme Bento se irmana Com os líderes da região Formando um grupo forte Pra fazer oposição Contra os proprietários Que oprimiam operários E escravos da região. Com essa reunião Reforçou a Balaiada Vaqueiros, ex-policiais A classe discriminada Escravos e lavradores Pelo fim dos opressores Pra quem não valiam nada. Partiram em caminhada Com destino ao Piauí Ao chegarem em Caxias Tomaram conta dali E seguiram firmemente Com Cosme Bento na frente Sem ninguém para impedir. Para melhor resumir Aquela rebelião Durou cerca de dois anos Até que um batalhão Pois fim àquela parada Acabando a Balaiada No Estado do Maranhão. Alguns foram pra prisão Outros ganharam anistia Só negros não se renderam E a Cosme Bento seguia O último bando, mais forte Resistiu até à morte Sem direito a alforria. Negro Cosme preso ia No tribunal ser julgado Primeiro por ter fugido Da cadeia e sublevado Escravo a se rebelar E por quilombos formar, Por isso foi condenado. Na hora em que foi julgado No ano quarenta e dois Em frente à cadeia pública Não deixaram pra depois Setembro o mês indicado Foi Negro Cosme enforcado Na praça e ninguém se impôs. Com o final desses dois O movimento acalmou Era final de reinado E novamente aumentou Arruaças, rebeliões, Motins e agitações Que a regência dominou. Mas essa época ficou Com uma mancha infeliz O período regencial Não teve boa diretriz, Economia fracassada A fase mais conturbada Na história do país. Nesse período infeliz Já tinha no Maranhão Duzentos mil habitantes E dessa população Mais da metade eram escravos Que lutavam como bravos Nas lavouras de algodão. Vaqueiros e artesãos Pequenos agricultores Que mesmo não sendo escravos Sofriam ante os opressores Grandes latifundiários Com regimes sanguinários Que oprimiam os moradores. Os grandes exportadores Tiveram que amargar As baixas na exportação Sem dinheiro pra pagar A mão de obra barata E o regime escravocrata Sem poder escravizar. Na política a se enfrentar Haviam os competidores A oposição liberal Contra os conservadores Bem-ti-vis, os mais humanos. Conservadores, cabanos Os principais contendores. Quem luta contra opressores Não consegue obter nada Mas isso não me interessa Se é história a ser contada, Só usei meu conhecimento Pra falar de Cosme Bento E a Revolta Balaiada. Manaus, 21 de Outubro de 2022 SÉRIE ESCRAVIDÃO - VOLUME 27
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 19/11/2022
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