José Medeiros de Lacerda

Leia poesia - A poesia é o remédio da alma

Textos

MARIA FELIPA - A INDEPENDÊNCIA DA BAHIA
Mais um nome ignorado
Na nossa cultura rica
Maria Felipa Oliveira
Como no registro indica
Negra, forte, decidida
E bastante conhecida
Na ilha de Itaparica.

A Bahia é muito rica
Em cultura e tradição
É uma pequena África
Dentro da nossa Nação
E tem o povo e os tratos
Culinária e artesanatos
Do tempo da escravidão.

Mas não passa informação
Do que foi acontecido
Nos tempos coloniais
Que deve ser expandido
Na educação de fato,
Se ficar no anonimato
Termina tudo esquecido.

Meu propósito é estendido
A esses casos também
Pesquisar lendas e fatos
De hoje, ontem e de além
E versejar sem embaraço
Pois essa poesia eu faço
E dizem que faço bem.

Maria Felipa também
Está na História brasileira
Nascida em Itaparica
Negra, pobre e marisqueira
Mas foi de grande valia
Na defesa da Bahia
Foi excelente guerreira.

Nossa negra marisqueira
Tinha sua habitação
Lá na Ponta das Baleias
No Convento Casarão
Que abrigava indigente
Agasalhava doente
E dava alimentação.

Segundo a informação
Que eu consegui colher dela
Era uma negra alta, forte
Não fugia de querela
E andava bem arrumada,
Vestida saia rodada
De bata, torso e chinela.

Na ilha só falam nela
Desde sua existência
Foi a Heroína Negra
Da História da Independência
Do Estado da Bahia
Quando o português queria
Impor subserviência.

Felipa com resistência
Grande grupo liderou
De negros, índios e brancos
E as praias fortificou
Com construção de trincheiras
Palafitas e barreiras
E isso muito adiantou.

Com destino ao interior
Mantimentos enviava
Organizava as vedetas
Que as praias vigiava
Pra revidar os ataques
E inibir os desembarques
Do inimigo que chegava.

Ela mesma guerreava
Lutando em várias trincheiras
Dividindo liderança
Junto a outras três guerreiras
Negras de alma ferina,
Brígida Vale, Marcolina
E Joana Soaleira.

Incendiaram a Canhoneira
Nome Dez de Fevereiro
Em outubro de vinte e dois
Logo no dia primeiro
No dia 12 outra ação,
A Barca Constituição
Virou um grande braseiro.

Dia sete de janeiro
Data que na história fica
No ano de vinte e três
Felipa se identifica
Com mais quarenta guerreiras
Defendo com peixeiras
As praias de Itaparica.

Segundo a história indica
As armas de atuação
Que Felipa guerreava
Chamava muita atenção
Pois ela e suas guerreiras
Só lutavam com peixeiras
E galhos de cansanção.

Queimavam embarcação
Com tochas pre-fabricadas
De palha de coco e chumbo
Delas não sobravam nada
E os portugueses surrados
Ficavam todos queimados
Pela ramagem usada.

Felipa foi comentada
Por sua garra e bravura
No livro «Sargento Pedro»
Clássico da Literatura
E em João Ubaldo Ribeiro
«Viva o Povo Brasileiro»
Seu nome também figura.

Também da Literatura
«A Ilha de Itaparica»
Livro de Ubaldo Osório
Felipa se identifica
Por seu valente legado
E tudo que é registrado
Na literatura, fica.

A História também indica
Que Felipa padecia
Pelo fato de ser negra
Brancas não aceitaria
Mesmo ela tendo lutado
Na independência do Estado
Ninguém a reconhecia.

Ela não figuraria
No Panteão Dois de Julho
O Símbolo da Bahia
Que do seu povo é orgulho
Mesmo sendo uma guerreira,
Por ser negra e marisqueira
Foi tida como um bagulho.

Ferida no seu orgulho
Felipa se resguardou.
No Forte de São Lourenço
Quando a bandeira hasteou
Simbolizando a vitória,
Nos que entraram pra história
Felipa não figurou.

Com isso se revoltou
Reuniu seu batalhão
Começando a represália
Incendiou o barracão
De um português abastado
E surrou seu empregado
Com urtiga e cansanção.

Era sua intenção
Deixar com isso um recado
Depois de tantas conquistas
Seu povo discriminado
Aquele incêndio indica
Que as lutas de Itaparica
Não haviam terminado.

Surgem conflitos armados
Dos ricos contra a pobreza
Querendo tomar a ilha
Cuja única natureza
Não tinha um salvo conduto,
A ilha seria reduto
Para o lazer da nobreza.

Chega à ilha de surpresa
Uma notificação
Do governo de Cachoeira
Pra toda a população
Felipa e seu contingente
Fizessem imediatamente
Sua desocupação.

Uma nova revolução
Da ilha contra a cidade
Estava pra começar
Com toda ferocidade
Resolveram se agrupar
Permanecer e lutar
Pela sua liberdade.

Valas de profundidade
Cavam com desenvoltura
Um reclama, «Estou cavando
Minha própria sepultura.»
Diz Felipa a intervir,
«Cavas, mas não é pra ti,
Vamos deixar de frouxura!»

Defenderam com bravura
Sem vencido ou vencedor
Sem mortos ou matadores
Mas pra saber quem ganhou
É bem fácil a conclusão:
Pela sua população,
Foi o negro quem ganhou!

Hoje existe em Salvador
Imensa população
Que não é negro nem branco
Pela miscigenação,
É raça baiana pura,
Famosa pela cultura,
Rica pela tradição.

A grande população
Convive de forma ordeira
A Ilha de Itaparica
Fala com voz altaneira
Nessa filha tão amada
Que já foi classificada
Preta, pobre e marisqueira.

Maria Felipa Oliveira
Cumpriu ali sua sina
Junto a Joana Soaleira
Brígida Vale e Marcolina
Que deixaram seu legado;
E com meus versos rimados
A história aqui termina.
Teresina, 15/12/2016
SÉRIE ESCRAVIDÃO - VOLUME 13
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 18/11/2022
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