MARIA FELIPA - A INDEPENDÊNCIA DA BAHIA
Mais um nome ignorado
Na nossa cultura rica Maria Felipa Oliveira Como no registro indica Negra, forte, decidida E bastante conhecida Na ilha de Itaparica. A Bahia é muito rica Em cultura e tradição É uma pequena África Dentro da nossa Nação E tem o povo e os tratos Culinária e artesanatos Do tempo da escravidão. Mas não passa informação Do que foi acontecido Nos tempos coloniais Que deve ser expandido Na educação de fato, Se ficar no anonimato Termina tudo esquecido. Meu propósito é estendido A esses casos também Pesquisar lendas e fatos De hoje, ontem e de além E versejar sem embaraço Pois essa poesia eu faço E dizem que faço bem. Maria Felipa também Está na História brasileira Nascida em Itaparica Negra, pobre e marisqueira Mas foi de grande valia Na defesa da Bahia Foi excelente guerreira. Nossa negra marisqueira Tinha sua habitação Lá na Ponta das Baleias No Convento Casarão Que abrigava indigente Agasalhava doente E dava alimentação. Segundo a informação Que eu consegui colher dela Era uma negra alta, forte Não fugia de querela E andava bem arrumada, Vestida saia rodada De bata, torso e chinela. Na ilha só falam nela Desde sua existência Foi a Heroína Negra Da História da Independência Do Estado da Bahia Quando o português queria Impor subserviência. Felipa com resistência Grande grupo liderou De negros, índios e brancos E as praias fortificou Com construção de trincheiras Palafitas e barreiras E isso muito adiantou. Com destino ao interior Mantimentos enviava Organizava as vedetas Que as praias vigiava Pra revidar os ataques E inibir os desembarques Do inimigo que chegava. Ela mesma guerreava Lutando em várias trincheiras Dividindo liderança Junto a outras três guerreiras Negras de alma ferina, Brígida Vale, Marcolina E Joana Soaleira. Incendiaram a Canhoneira Nome Dez de Fevereiro Em outubro de vinte e dois Logo no dia primeiro No dia 12 outra ação, A Barca Constituição Virou um grande braseiro. Dia sete de janeiro Data que na história fica No ano de vinte e três Felipa se identifica Com mais quarenta guerreiras Defendo com peixeiras As praias de Itaparica. Segundo a história indica As armas de atuação Que Felipa guerreava Chamava muita atenção Pois ela e suas guerreiras Só lutavam com peixeiras E galhos de cansanção. Queimavam embarcação Com tochas pre-fabricadas De palha de coco e chumbo Delas não sobravam nada E os portugueses surrados Ficavam todos queimados Pela ramagem usada. Felipa foi comentada Por sua garra e bravura No livro «Sargento Pedro» Clássico da Literatura E em João Ubaldo Ribeiro «Viva o Povo Brasileiro» Seu nome também figura. Também da Literatura «A Ilha de Itaparica» Livro de Ubaldo Osório Felipa se identifica Por seu valente legado E tudo que é registrado Na literatura, fica. A História também indica Que Felipa padecia Pelo fato de ser negra Brancas não aceitaria Mesmo ela tendo lutado Na independência do Estado Ninguém a reconhecia. Ela não figuraria No Panteão Dois de Julho O Símbolo da Bahia Que do seu povo é orgulho Mesmo sendo uma guerreira, Por ser negra e marisqueira Foi tida como um bagulho. Ferida no seu orgulho Felipa se resguardou. No Forte de São Lourenço Quando a bandeira hasteou Simbolizando a vitória, Nos que entraram pra história Felipa não figurou. Com isso se revoltou Reuniu seu batalhão Começando a represália Incendiou o barracão De um português abastado E surrou seu empregado Com urtiga e cansanção. Era sua intenção Deixar com isso um recado Depois de tantas conquistas Seu povo discriminado Aquele incêndio indica Que as lutas de Itaparica Não haviam terminado. Surgem conflitos armados Dos ricos contra a pobreza Querendo tomar a ilha Cuja única natureza Não tinha um salvo conduto, A ilha seria reduto Para o lazer da nobreza. Chega à ilha de surpresa Uma notificação Do governo de Cachoeira Pra toda a população Felipa e seu contingente Fizessem imediatamente Sua desocupação. Uma nova revolução Da ilha contra a cidade Estava pra começar Com toda ferocidade Resolveram se agrupar Permanecer e lutar Pela sua liberdade. Valas de profundidade Cavam com desenvoltura Um reclama, «Estou cavando Minha própria sepultura.» Diz Felipa a intervir, «Cavas, mas não é pra ti, Vamos deixar de frouxura!» Defenderam com bravura Sem vencido ou vencedor Sem mortos ou matadores Mas pra saber quem ganhou É bem fácil a conclusão: Pela sua população, Foi o negro quem ganhou! Hoje existe em Salvador Imensa população Que não é negro nem branco Pela miscigenação, É raça baiana pura, Famosa pela cultura, Rica pela tradição. A grande população Convive de forma ordeira A Ilha de Itaparica Fala com voz altaneira Nessa filha tão amada Que já foi classificada Preta, pobre e marisqueira. Maria Felipa Oliveira Cumpriu ali sua sina Junto a Joana Soaleira Brígida Vale e Marcolina Que deixaram seu legado; E com meus versos rimados A história aqui termina. Teresina, 15/12/2016 SÉRIE ESCRAVIDÃO - VOLUME 13
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 18/11/2022
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