José Medeiros de Lacerda

Leia poesia - A poesia é o remédio da alma

Textos

AQUALTUME - A REPÚBLICA DE PALMARES
A escravidão no Brasil
Foi um fato inusitado
Quem era branco apoiava
Esse crime organizado
Que com suas diretrizes
Traziam de outros países
O humano escravizado.

Os negros capturados
Em pleno torrão natal
Presos a grossas correntes
Com a ajuda de Portugal
Vinham em navios negreiros
Vendidos aos brasileiros
Como se fosse animal.

Na África era normal
A luta entre guerreiros
De reinados diferentes
Combates interesseiros
Muitas vezes quem vencia
Os derrotados vendia
Aos traficantes negreiros.

Num combate entre guerreiros
Dos reinos de Congo e Jaga
A filha do rei do Congo
Defendendo sua plaga
Dez mil homens comandando
Viu seu povo se acabando
Deixando a equipe vaga.

Com uma derrota larga
O congo foi dizimado
Os guerreiros que sobraram
Foram aprisionados
Os mais fortes escolhidos
E para o Brasil vendidos
Para serem escravizados.

Com os aprisionados
No meio do sururu
A filha do rei do Congo,
Aqualtume Ezgondidu
Estava entre os penitentes
Presa por grossas correntes
Comendo ração de angu.

Aqualtume Ezgondidu
Uma princesa encantadora
Transportada no porão
Numa viagem opressora
Cuja lavoura era o alvo
Foi vendida em Porto Calvo
Para ser reprodutora.

Mesmo sem estar na lavoura
Mas na senzala dormia
Com um negro forte e sadio
Que o senhor escolhia
Pois era do seu intento
Vir daquele cruzamento
Uma criança sadia.

Mesmo assim ainda dormia
Com os escravos nas quilhas
Aqualtume ainda gerou
Dois filhos e algumas filhas
Que os negros mesmo cuidavam,
Era assim que aumentavam
Nas senzalas as famílias.

Sabina e outras filhas
Ali vieram nascer
Ganga Zumba e Ganazone
Filhos do seu bem querer
Que construíram seus lares
E na Serra dos Palmares
Vieram história fazer.

Veio Aqualtume saber
Do quilombo a história plena
Chamado de Angola Janga
«Minha Angola Pequena»
Que aqui chamavam palmares
Onde haviam muitos lares
De sua raça morena.

Aqualtume coordena
Uma fuga espetacular
Em direção a Palmares
Novos mocambos formar
Todos ali assentados
Formaram quase um Estado
Sem branco participar.

Ao se identificar
Como sendo uma princesa
Capturada no Congo
Negros sentiram firmeza
Tendo a nobreza aliada,
E ela passa a ser tratada
Como alguém da realeza.

Três mocambos, com certeza,
Vieram logo a criar
Ganga Zumba e Ganazone
Já trataram de casar
Perante os soberanos,
E os costumes africanos
Começaram a praticar.

Aqualtume a organizar
Com Ganga Zumba seu filho
Um governo democrático
Sem encontrar empecilho
Brocando e tombando terra
Implantaram em toda serra
Roças de algodão e milho.

Ganazone o outro filho
Também era um negro forte
Governava um dos mocambos
O maior do lado norte
Assim Palmares crescia
E Aqualtume geria
Com a ajuda da própria sorte.

Sabina foi a consorte
De um chefe por sua vez
Com meia dúzia de filhos
Zumbi, primeiro dos seis,
No momento em que nascia
Palmares se defendia
De um ataque holandês.

Mas Zumbi por sua vez
Nasceu forte igual Sansão
E com Andalaquituche
O caçula seu irmão
Tornou-se um grande guerreiro
Tendo sido o derradeiro
A comandar sua Nação.

Lá fora a escravidão
Continuava soberana
Cada vez mais traficavam
Negros da terra africana
Enchendo o Brasil de escravos
Submetidos aos bravos
Donos de engenhos de cana.

Mas a negrada africana
Logo logo descobriam
A existência de Palmares
E vez em quando fugiam
Sem poder cruzar os mares
Seguiam para Palmares
E os chefes acolhiam.

Em Palmares se sentiam
Todos livres, triunfantes,
Mesmo tendo hierarquia
De outros negros dominantes
Tudo ali se acomodava
E Palmares já contava
Cinquenta mil habitantes.

Palmares seguiu adiante
Como se fosse um Estado
Seus domínios se estendiam,
Mocambos pra todo lado
Aqualtume já velhinha
Mas com porte de rainha
Mantinha esse legado.

Ganga Zumba envenenado
Por ato de traição
Pois até mesmo em Palmares
Imperava a ambição
Disputas se promovendo
Terminou com Zumbi sendo
Último rei da Nação.

Consagrou sua união
Com Dandara, uma guerreira,
Enfrentou grandes batalhas
Ao lado da companheira
Aqualtume recolhida
Acompanhava a subida
Do neto em sua carreira.

A ganância interesseira
Do branco em seu ato vil
De destruir a Palmares
Que algum tempo resistiu;
Esse episódio consiste
Na página mais feia e triste
Da História do Brasil.

Todo quilombo se uniu
Fortemente a resistir
Aqualtume com sua filha
Sabrina, a mãe de Zumbi,
No mocambo resistindo
E o português invadindo
Foi a primeira a cair.

Negro sempre a resistir
Numa luta desigual
Durante dezoito anos
Lutando por um ideal
O quilombo defendendo
Terminou com Zumbi sendo
Vencido por Portugal.

Ao Brasil Colonial
Se atribui essa conquista
Com Domingos Jorge Velho
Passando a tropa em revista
Assumiu esse legado
Do quilombo derrotado
Por sua bandeira paulista.

Todo jornal e revista
Tem o feito registrado
Dia 20 de Novembro
Zumbi foi assassinado
Depois de muita contenda
Esse feito virou lenda
No Brasil é feriado.

Aqualtume em seu legado
Com os seus conhecimentos
E estratégias de guerra
Consolidou fundamentos
Com os seus familiares
Pra República de Palmares
No Século Mil e Seiscentos.
Miguel Calmom-BA, 23/05/2016
SÉRIE ESCRAVIDÃO - VOLUME 11
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 18/11/2022
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras