José Medeiros de Lacerda

Leia poesia - A poesia é o remédio da alma

Textos

O VALOR DE UMA DONA DE CASA
Chegando em casa cansado
Após tanto trabalhar
Na soleira do jardim
Marido deu de estranhar
Os filhos fora das camas
Ainda vestindo pijamas
Sem companhia, a brincar.

Começou logo a pensar
Que as coisas não iam bem
Crianças sujas de terra
Sem a ajuda de ninguém,
- E a cadela Zuria
Que sempre lhe recebia,
Porque hoje ela não vem?

Observou mais além
Uma embalagem vazia
De comida entregue em casa
Como fazem todo dia,
A porta do carro aberta,
Da esposa, sempre alerta...
«Que será que acontecia?»

De pronto já pensaria:
«Cadela havia sumido.»
A porta da casa aberta
«Será que entrou bandido?»
A televisão ligada
Uma barulheira danada
Chega doer nos ouvidos.

Nada faria sentido
Tanta desarrumação
Bagunça por toda parte
Roupas jogadas no chão
O tapete enrolado
E até um copo quebrado
Tinha em cima do balcão.

Veio a interrogação:
«Que será que acontecia?»
Pratos e talheres sujos
Amontoados na pia
Cascas de ovo e maçã
E até café da manhã
Ainda na mesa havia.

Algo estranho acontecia...
Subiu correndo a escada
Tropeçando nas bonecas
Pelos degraus espalhadas
A suspeita natural:
«Minha mulher passou mal,
Será que está desmaiada?»

Roupa suja amontoada,
Lhe bateu um desespero
Filete d’água escorrendo
Pela porta do banheiro,
No chão, toalha ensopada
Saboneteira quebrada
Subindo aquele espumeiro.

Ainda dentro do banheiro
Aberta a pasta de dente
Até tinha sido usada
Mas de forma diferente
Papel higiênico na pia
E no sanitário havia
Algo mais surpreendente.

Outra coisa diferente,
A comida de cachorro
Joga pela cozinha,
Areia junta como um morro
Brinquedos e mais brinquedos
Espalhados de dar medo,
Coisa pra pedir socorro!

O marido deu esporro
Vendo a casa diferente
Tudo de pernas pro ar
A começar do batente
Entrando de porta a dentro
Não havia um aposento
Com aparência decente.

Dirigiu-se finalmente
Para o quarto do casal
Já tendo toda certeza
Que a mulher passou mal
Pois tudo era perfeito
E estava daquele jeito...
Coisa sobrenatural!

E no quarto do casal.
Estiradinha na cama
Estava a sua mulher
Ainda usando pijama
Lendo uma boa revista
Dessas que fala de artista,
Coisas do mundo da fama.

Confuso ela reclama,
Reclama não, perguntou:
«O que aconteceu aqui?
Por que não se levantou?
Você está tão diferente...
Por acaso, estás doente?
Por que não telefonou?»

Ela sorriu e falou:
«Tenha calma, meu benzinho!
Eu estou bem de saúde,
Vem me fazer um carinho!
Não vá se preocupar
E pare de reclamar,
Sente aqui no nosso ninho!»

«Tenha calma meu benzinho...
Como posso me acalmar?
As crianças lá por fora
Sem ninguém pra lhes cuidar,
Eu chego em casa, cansado,
Vejo a mulher nesse estado...
O que tem para almoçar?»

«Não para de reclamar...
Pra que tanto desespero?
Todo dia você chega,
Não vem nem me dar um cheiro
E a pergunta sempre traz:
O que é que você faz
Nesta casa o dia inteiro?

Pois agora, companheiro,
Está sua resposta dada.
Você, que sempre encontrou
Sua casa bem arrumada,
Se conforme, meu amigo,
Tome isso por castigo,
Porque hoje eu não fiz nada!»
Manaus, 22 de Outubro de 2022
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 17/11/2022
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