José Medeiros de Lacerda

Leia poesia - A poesia é o remédio da alma

Textos

CACHINHOS DOURADOS E OS TRÊS URSOS
Era uma vez uma família
De ursos que habitava
Em uma linda casinha
Que na floresta ficava
Mamãe ursa, papai urso
E completando o recurso
O ursinho que os amava.

Mamãe ursa cozinhava
O mingau para o almoço
Papai urso retirava
Água no fundo do poço
E à companheira ajudava
Enquanto o ursinho brincava;
Era o ritmo colosso.

Mamãe botava o almoço
Nos pratos para esfriar
E os três, enquanto esfriava
Saíam pra caminhar
Ali pela redondeza
Contemplando a natureza
Essa família exemplar.

Voltavam para almoçar
A comida estava fria
Cada um no seu banquinho
Sentava com alegria
Comia até se fartar
Depois ia se deitar
Em sua cama macia.

Até que um certo dia
Saíram pra caminhar
Enquanto o mingau na mesa
Começava a esfriar
Surgiu uma criancinha
E vendo aquela casinha
Resolveu se aproximar.

Bateu palmas a chamar
Porém ninguém respondia
«Oh de casa!» Ela chamava
Mas só silêncio existia
Depois que chamou, chamou,
Sem resposta, constatou
Que a casa estava vazia.

Também viu com alegria
Que a porta estava aberta
Resolve então penetrar
Naquela casa deserta
Pra explorar a novidade
Matar a curiosidade
De sua nova descoberta.

Aquela menina esperta
Sozinha praqueles lados
Uma garotinha loira
De cabelos cacheados
Que havia se perdido
Tinha um bonito apelido,
O de Cachinhos Dourados.

Havia se separado
Quando estava a passear
Com a família na floresta
E distraiu-se a andar
Ficou vagando sozinha
E vendo aquela casinha
Resolveu se aproximar.

Observou ao entrar
Que a casa estava arrumada
Uma mesa, três cadeiras
Comida bem preparada,
Como ninguém avistou
Faminta se preparou
Pra se sentir saciada.

Sentou-se, bem animada
Numa cadeira espaçosa
Era muito grande e dura
E bastante volumosa;
A comida sobre a mesa
Ela provou, com certeza,
Era quente e desgostosa.

Sentou-se esperançosa
Numa cadeira menor
Também era muito dura
Como a cadeira maior
E o mingau naquele prato
Igual ao outro, de fato,
Talvez fosse até pior.

Faltava o outro menor
Numa lateral da mesa
A cadeira era menor,
Macia, sem aspereza,
Ela sentou-se e gostou
Até se apaixonou,
Diante de tanta leveza.

E a comida na mesa
Que em outro prato havia
Ela provou um pouquinho
Estava gostosa e fria,
Comeu, se deliciou,
Nenhum pouquinho deixou
Pois a barriga pedia.

Até pulou de alegria
Depois de alimentada
Mas a cadeirinha frágil
Com o pulo ficou quebrada
E ela no chão caiu
Porém levantou-se e riu
Alegre e muito animada.

Havia uma escada
Pra o andar superior
E um quarto com três camas
Alinhadas com amor
Ela subiu as escadas
E as caminhas arrumadas
Cachinhos observou.

Na primeira se deitou
Era uma cama escura
Muito grande e espaçosa
Com excesso de largura
Alta e inalcançável
Além de desconfortável
Também era muito dura.

O instinto de aventura
Qualquer esforço compensa
Havia uma segunda
Também bem alta e imensa
Ela tem que se deitar
Pois precisa descansar
Antes que o sono lhe vença.

O contrassenso dispensa
Sua verve aventureira,
Ao lado das camas grandes
Havia uma terceira
Pequena, baixa, macia
Que a Cachinhos permitia
Sair daquela canseira.

Dormiu uma hora inteira
Sem ninguém lhe perturbar
Eis que os donos da casa
Acabaram de voltar
Dos caminhos onde andara,
A comida já esfriara,
Precisavam almoçar.

Papai urso ao se sentar
Algo estranho ele notou
«Mexeram no meu mingau!»
Furioso resmungou
«Com a comida ainda quente,
Agora está diferente.
Veja como isso ficou!»

A mamãe ursa gritou:
«Mexeram aqui também!
Comeram do meu mingau
E aqui não tinha ninguém.
Que falta de consciência!
Com certeza em nossa ausência
Por aqui passou alguém!»

O bebê urso também
Gritou e pôs-se a chorar:
«Comeram minha comida,
Eu fiquei sem almoçar!
Não gostei da brincadeira.
Quebraram minha cadeira
E eu não posso me sentar.

Subiram pra se deitar
Papai urso reclamou:
«Mexeram na minha cama,
Alguém por aqui passou,
Remexeram na comida,
Até na nossa dormida
E depois se retirou!»

Mamãe ursa reclamou
Também bastante zangada:
Deitaram na minha cama,
Está toda desarrumada!
Isso é um despautério!
Mas que falta de critério!
Não nos faltava mais nada!»

Então ouviram a zuada
Lá do bebê urso vindo:
«Papai, tem uma menina
Na minha cama dormindo!»
Cachinhos logo acordou
Vendo os ursos  se assustou
Levantou-se e foi saindo.

Papai urso a impedindo
Chamou-a pra conversar
Disse: «Aqui é nossa casa
Você não podia entrar
Sem permissão consentida,
Mexer na minha comida
E as camas desarrumar!»

«E minha cadeira quebrar!»
Disse o ursinho gritando.
Ela, muito envergonhada,
Pediu desculpas chorando
Depois jurou entre pranto
Não entrar em nenhum canto
Sem ninguém a convidando..

E saiu dali chorando
Na floresta se embrenhou
Os ursos se acomodaram
E tudo ao normal voltou
Sem serem incomodados
Também Cachinhos Dourados
Nunca mais ali passou.

Quem essa história contou
Sem nenhum constrangimento
Quis falar sobre criança
Com o tema crescimento
Quando a criança é feliz
Não sabe o que fala ou diz,
Só pensa em divertimento.

Cachinhos em seu momento
Da família se perdeu
Achou a casinha, entrou,
Viu a comida, comeu
Inocente criancinha
Que vendo a menor caminha
Foi nela que adormeceu.

No momento se envolveu
Em suas próprias emoções
Sua curiosidade
Leva a investigações
Com seus pensamentos vivos
Sem precisar de motivos
Sem necessitar razões.

Um tempo sem ilusões
Estando ou não protegida
Os olhos apenas notam
Não sugere ou intimida
Nem demonstra ignorância,
É só o tempo da infância,
Primeira etapa da vida.
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 08/12/2021
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