José Medeiros de Lacerda

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Textos

AS SETE MENINAS DO POÇO
Poço Redondo em Sergipe
Era um pequeno povoado
Que na década de trinta
Esteve muito ligado
Ao movimento andarilho
Tendo muito de seus filhos
No banditismo ingressado.

Esse dito povoado
Ficou no Brasil inteiro
Famoso por ter criado
Mais de trinta cangaceiros
E ainda sete meninas
Que amargaram suas sinas
Nesse mundão bandoleiro.

E além de cangaceiros
Provocando estardalhaço
Também havia coiteiros
Inrustidos no pedaço
Poço Redondo ganhou
O título que a nomeou
De Capital do Cangaço.

Antes do grande fracasso
O famoso Lampião
Exerceu forte influência
Por toda a região
Em tudo ele opinava
O povo já o chamava
De poderoso chefão.

E além de Lampião
Sub-chefe Zé Sereno
Sub-chefe Mariano
E também Mané Moreno
Sub-grupos comandavam
Também influenciavam
Em todo aquele terreno.

A mulher de Zé Sereno
Mais duas do povoado
As três que sobreviveram
Ao cangaço do passado
Só três que sobreviveram
As outras quatro tiveram
O seu destino traçado.

O pequeno povoado
Que seu destino traçou
No Estado sergipano
Que grande fama ganhou
Nesse estado pequenino
Foi por obra do destino
Que o cangaço acabou.


A chacina que matou
Maria mais Lampião
Foi na Grota de Angicos
Naquele vasto sertão
Por ironia do destino
O final de Virgolino
Foi naquela vastidão.

E nessa povoação
Poço Redondo afamada
Mais de trinta aventureiros
Abandonaram a morada
E a família segura
Pra seguir a aventura
De uma vida desregrada.

E também nessa jornada
Se foram sete meninas
Deixando suas vidas mansas
Pela vida severina
Perigosa, perturbada
Violenta e arriscada
Da caatinga nordestina.

Cada uma das meninas
Se uniram a cangaceiros
Jovens simples que viveram
Perigosos bandoleiros
Que morriam a céu aberto
Ou viviam incobertos
Por abastados coiteiros.

Nomes com Marinheiro
Zabelê e Cajazeira
Correnteza, Delicado
Os melhores em carreira
Novo Tempo, Diferente
Que morreram de repente
Com a cara na poeira.

Das mulheres cangaceiras
Quatro delas pereceram
Na caatinga nordestina
Outras três sobreviveram
Para contar suas histórias
E suas lutas inglórias
No cangaço onde viveram.

Das mulheres que morreram
No cangaço, Enedina
A mulher de Cajazeira
Cumpriu sua triste sina
Quando em Angicos morreu
Junto ao companheiro seu
Naquela carnificina.

Áurea, outra bela menina
Que vivia com o cangaceiro
Mané Moreno foi morta
Junta com seu companheiro
Quando tiveram um rompante
Com soldados da volante
Morreram no tabuleiro.

Pela lei dos cangaceiros
Mulher sozinha no bando
Tinha que ter companheiro
Pra não cometer desmando
Rosinha de Mariano
Perdeu o seu soberano
Morreu de modo nefando.

Morta pelo próprio bando
Por ter ficado sozinha
Se Mariano morreu
Também morria Rosinha
Desprezou sua família
Para seguir nova trilha
E teve morte mesquinha.

Áurea, Enedina, Rosinha
A quarta era Adelaide
Companheira de Criança
Que morreu na flor da idade
De parto mal sucedido
Junto com o recém-nascido
Em uma calamidade.

Assim como Adelaide
Muitas mulheres morriam
No cangaço ou na caatinga
De parto e ninguém sabia
Sem recurso, sem ajuda
Sem ninguém que lhes acuda
E poucas sobreviviam.

Com elas também morriam
Os rebentos sem futuro
Por falta de condições
Muitas vezes prematuros
Por fome, desnutrição
Fraqueza ou inanição
Sem ter um porto seguro.

Muitas vezes o futuro
Era um amparo coiteiro
Que criavam esses filhos
Nascidos no tabuleiro
E só depois lhes contavam
Que os pais não os criavam
Porque eram cangaceiros.

Houve muitos brasileiros
Que foram homens de bem
Nascidos na caatinga
Criados por outro alguém
Porém os pais verdadeiros
Mesmo sendo cangaceiros
Eram humanos também.

Sendo pessoas de bem
Nunca sentiram saudade
Do lugar onde nasciam
Talvez por dificuldade
Por isso nunca quiseram
Saber como e donde vieram
Preferiam a cidade.

As outras três, na verdade,
Foram Adília de Canário
E Sila de Zé Sereno
Que cumpriram seu fadário
Com Dinda de Delicado
Que trouxeram seus legados
Desse tempo refratário.

Poço Redondo o cenário
De tantos jovens ordeiros
Que abandonaram as famílias
Pra se tornar cangaceiros
Mudarem da vida o jeito
Virar bandidos no eito
E morrer nos tabuleiros

A sina dos cangaceiros
Foi terminar em destroço
Envelhecendo criança
Morrendo ainda tão moço
Como morreu Virgolino
E tendo o mesmo destino
SETE MENINAS DO POÇO.
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 08/11/2021
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