José Medeiros de Lacerda

Leia poesia - A poesia é o remédio da alma

Textos

A BRIGA DE LAMPIÃO COM CLEMENTINO QUELÉ
Mesmo depois do cangaço
As histórias continuam
Pois muitos pesquisadores
Nessa área ainda atuam
Enfrentando até apuro
E pra descobrir um furo
As suas camisas suam.

E onde eles atuam
Eu estou sempre atuando
Pegando as prosas dos outros
E em poesia transformando
Pois versar é minha praia;
Mas para fugir da raia
Proseio de vez em quando.

Neste cordel vou citando
Um dos causos do sertão
Que envolve tiroteio
Cangaceiro, confusão
Volantes, coitos, terrenos
E um grupo de nazarenos
Os calos de Lampião.

Uma grande confusão
Se deu entre cangaceiros
E Clementino Quelé
Um sargento aventureiro
Que cometeu o displante
De ingressar na volante
Depois de ser desordeiro.

Quando era cangaceiro
Recebeu nomeação
De Tamanduá Vermelho
Nomeado por Lampião
E era muito valente
Mas deixou a sua gente
Acusado de traição.

Quando deixou Lampião
O traidor desordeiro
Se alistou na volante
Pra combater cangaceiro
E perseguindo o cangaço
Provocou estardalhaço
Matando ex-companheiro.

Brigando no tabuleiro
Quelé saiu baleado
Sem poder guerrear mais
Teve que ser carregado
Muito embora reclamando
Por não estar guerreando
Teve que ficar deitado

Estando imobilizado
Recebeu a informação
De que Quintino Quelé
Um soldado seu irmão
Da volante paraibana
Em um partido de cana
Caiu sem vida no chão.

Com a morte do seu irmão
Clementino se enfezou
Mesmo estando ardendo em febre
Da cama se levantou
Limpou seu equipamento
Munição e armamento
E a lutar se destinou.

Muitos combates travou
Com o bando de Lampião
Cinco anos de batalha
Tiroteio e confusão
Um lado ameaçava
Outro lado praguejava
E defunto em profusão.

Gritava assim Lampião:
- De hoje você não passa!
Quelé gritava do outro:
Tu tá fazendo trapaça!
Enquanto bala zunia
Desaforo vinha e ia
Dos dois fazendo pirraça.

E continua a chalaça
De volante e cangaceiro
Um soldado é atingido
Com um tiro bem certeiro
Ao lado de Clementino
Que o fez perder o tino
Lá mesmo no tabuleiro.

Quelé abriu o berreiro
E aumentou o tiroteio
Lampião reconheceu
Que o negócio tava feio
Chamou o bando e fugiu
Pra o Riacho do Navio
Pra escapar do esperneio.

O tranco ficou mais feio
Pra o bando de Lampião
O grupo dos nazarenos
Estava na região
Volantes se reagrupando
Grupos se organizando
Piorando a situação.

O bando de Lampião
Em Pernambuco acossado
Pelo grupo nazareno
E Quelé do outro lado
No solo paraibano
Começou a fazer plano
Para não ser dizimado.

O estratagema adotado
Foi o de se refugiar
Pulando de coito em coito
Sem poder se demorar
De vez em quando surgia
Logo desaparecia
Para confronto evitar,

Mesmo sem querer brigar
Mas isso não teve jeito
Pois Clementino Quelé
Com a volante no eito
Estava no seu encalço
E ali qualquer passo em falso
O fracasso tava feito.

«Se agora não tem mais jeito
Então nós vamos brigar»
Volantes e cangaceiros
Começaram a atirar
Tiroteio, Xingamento
Gente morta, ferimento
E o fumaceiro no ar.

Como era de se esperar
Três cangaceiros feridos
E dois cangaceiros mortos
No meio do alarido
Antônio Ferreira, irmão
Do Capitão Lampião
Falou então decidido.

«Estamos quase perdidos
Acho melhor arribar
É hora de escapulir
Pra o bando não fracassar
Os macaco da volante
Numa fúria apavorante
Querem nos desmantelar»

Mal terminou de falar
Grande silêncio reinou
O sangue corria a rodo
Se ouvia gritos de dor
Se houve baixa de um lado
Também morreram soldados
E a volante recuou.

Quelé então planejou
Se embrenhar no sertão
E atacar a família
Do famoso Lampião
E invadiu o terreno
Da volante nazareno
Os calos do capítão.

Recebeu contradição
Do volante Euclides Flor
Cabeça dos nazarenos
Que lhe desaconselhou
A não mexer com ninguém
Pois eram gente de bem
Por aquele interior.

Porém Quelé não gostou
Da resposta que ouviu
Do volante nazareno
Em seguida deduziu
Que nazareno era forte
Podia encontrar a morte
Juntou a tropa e sumiu.

Na Paraiba surgiu
Com todo seu contingente
Disposto a matar coiteiro
Era o que tinha na mente
Novamente um nazareno
Lha bloqueou o terreno
Chegando na sua frente.

Clementino descontente
Quase perdeu a razão
Pois ia para a fazenda
De um famoso do sertão
Raimundo Nogueira, um rico
Que era Nogueira do Pico
Coiteiro de Lampião.

Devido a intervenção
Do volante nazareno
Nome David Jurubeba
Que aplacou o veneno
De Quelé com sua besteira
Salvou Raimundo Nogueira
E bloqueou seu terreno.

Esse grupo nazareno
Que perseguia Lampião
Também barrava Quelé
Com sua obstinação
Que era perseguir coiteiro
Também matar cangaceiro
Para vingar seu irmão.

Enquanto isso Lampião
Que no Pernambuco estava
Seguia sua rotina
De Quelé se distanciava
E este na obstinação
De vingar o seu irmão
Cada vez mais se enganava.

Jurubeba lhe explicava
Que aquilo era ilusão
Nogueira do Pico era
Um pacato cidadão
Trabalhava honestamente
E nunca lhe veio à mente
Ser coiteiro de Lampião.

Com aquela afirmação
O sargento Clementino
Desistiu daquela idéia
De perseguir Virgulino
E ficou desiludido
Por não haver conseguido
Vingar o irmão Quintino.
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 08/11/2021
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras