A BRIGA DE LAMPIÃO COM CLEMENTINO QUELÉ
Mesmo depois do cangaço
As histórias continuam Pois muitos pesquisadores Nessa área ainda atuam Enfrentando até apuro E pra descobrir um furo As suas camisas suam. E onde eles atuam Eu estou sempre atuando Pegando as prosas dos outros E em poesia transformando Pois versar é minha praia; Mas para fugir da raia Proseio de vez em quando. Neste cordel vou citando Um dos causos do sertão Que envolve tiroteio Cangaceiro, confusão Volantes, coitos, terrenos E um grupo de nazarenos Os calos de Lampião. Uma grande confusão Se deu entre cangaceiros E Clementino Quelé Um sargento aventureiro Que cometeu o displante De ingressar na volante Depois de ser desordeiro. Quando era cangaceiro Recebeu nomeação De Tamanduá Vermelho Nomeado por Lampião E era muito valente Mas deixou a sua gente Acusado de traição. Quando deixou Lampião O traidor desordeiro Se alistou na volante Pra combater cangaceiro E perseguindo o cangaço Provocou estardalhaço Matando ex-companheiro. Brigando no tabuleiro Quelé saiu baleado Sem poder guerrear mais Teve que ser carregado Muito embora reclamando Por não estar guerreando Teve que ficar deitado Estando imobilizado Recebeu a informação De que Quintino Quelé Um soldado seu irmão Da volante paraibana Em um partido de cana Caiu sem vida no chão. Com a morte do seu irmão Clementino se enfezou Mesmo estando ardendo em febre Da cama se levantou Limpou seu equipamento Munição e armamento E a lutar se destinou. Muitos combates travou Com o bando de Lampião Cinco anos de batalha Tiroteio e confusão Um lado ameaçava Outro lado praguejava E defunto em profusão. Gritava assim Lampião: - De hoje você não passa! Quelé gritava do outro: Tu tá fazendo trapaça! Enquanto bala zunia Desaforo vinha e ia Dos dois fazendo pirraça. E continua a chalaça De volante e cangaceiro Um soldado é atingido Com um tiro bem certeiro Ao lado de Clementino Que o fez perder o tino Lá mesmo no tabuleiro. Quelé abriu o berreiro E aumentou o tiroteio Lampião reconheceu Que o negócio tava feio Chamou o bando e fugiu Pra o Riacho do Navio Pra escapar do esperneio. O tranco ficou mais feio Pra o bando de Lampião O grupo dos nazarenos Estava na região Volantes se reagrupando Grupos se organizando Piorando a situação. O bando de Lampião Em Pernambuco acossado Pelo grupo nazareno E Quelé do outro lado No solo paraibano Começou a fazer plano Para não ser dizimado. O estratagema adotado Foi o de se refugiar Pulando de coito em coito Sem poder se demorar De vez em quando surgia Logo desaparecia Para confronto evitar, Mesmo sem querer brigar Mas isso não teve jeito Pois Clementino Quelé Com a volante no eito Estava no seu encalço E ali qualquer passo em falso O fracasso tava feito. «Se agora não tem mais jeito Então nós vamos brigar» Volantes e cangaceiros Começaram a atirar Tiroteio, Xingamento Gente morta, ferimento E o fumaceiro no ar. Como era de se esperar Três cangaceiros feridos E dois cangaceiros mortos No meio do alarido Antônio Ferreira, irmão Do Capitão Lampião Falou então decidido. «Estamos quase perdidos Acho melhor arribar É hora de escapulir Pra o bando não fracassar Os macaco da volante Numa fúria apavorante Querem nos desmantelar» Mal terminou de falar Grande silêncio reinou O sangue corria a rodo Se ouvia gritos de dor Se houve baixa de um lado Também morreram soldados E a volante recuou. Quelé então planejou Se embrenhar no sertão E atacar a família Do famoso Lampião E invadiu o terreno Da volante nazareno Os calos do capítão. Recebeu contradição Do volante Euclides Flor Cabeça dos nazarenos Que lhe desaconselhou A não mexer com ninguém Pois eram gente de bem Por aquele interior. Porém Quelé não gostou Da resposta que ouviu Do volante nazareno Em seguida deduziu Que nazareno era forte Podia encontrar a morte Juntou a tropa e sumiu. Na Paraiba surgiu Com todo seu contingente Disposto a matar coiteiro Era o que tinha na mente Novamente um nazareno Lha bloqueou o terreno Chegando na sua frente. Clementino descontente Quase perdeu a razão Pois ia para a fazenda De um famoso do sertão Raimundo Nogueira, um rico Que era Nogueira do Pico Coiteiro de Lampião. Devido a intervenção Do volante nazareno Nome David Jurubeba Que aplacou o veneno De Quelé com sua besteira Salvou Raimundo Nogueira E bloqueou seu terreno. Esse grupo nazareno Que perseguia Lampião Também barrava Quelé Com sua obstinação Que era perseguir coiteiro Também matar cangaceiro Para vingar seu irmão. Enquanto isso Lampião Que no Pernambuco estava Seguia sua rotina De Quelé se distanciava E este na obstinação De vingar o seu irmão Cada vez mais se enganava. Jurubeba lhe explicava Que aquilo era ilusão Nogueira do Pico era Um pacato cidadão Trabalhava honestamente E nunca lhe veio à mente Ser coiteiro de Lampião. Com aquela afirmação O sargento Clementino Desistiu daquela idéia De perseguir Virgulino E ficou desiludido Por não haver conseguido Vingar o irmão Quintino.
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 08/11/2021
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