A TRÁGICA MORTE DE CRISTINA DE PORTUGUÊS
Essa é mais uma história
Ocorrida no cangaço Quando tudo acontecia E terminava em fracasso Estavam sempre correndo Matando e também morrendo No maior estardalhaço. Mulher só tinha fracasso Andando com cangaceiro Que morriam em combate Ou apanhavam do parceiro Poucas se saíram bem Pois só se vale o que tem Neste mundo interesseiro. A morte entre cangaceiros Era coisa corriqueira Pelas regras que criavam De forma vil e grosseira Se um ou outro discordava Geralmente terminava Com a cara na poeira. Uma equipe cangaceira Chegou em uma fazenda Lá no sertão de Sergipe Não estavam em contenda Como sempre acontecia Pois dessa vez só queria Fazer umas encomendas. Ao chegarem na fazenda Provocaram um alvoroço Nas moças da região Pois era um grupo bem moço Bem vestido, perfumado Em bons cavalos montado Lenços de seda ao pescoço. Essa equipe de moço Chefiada por Português Foi muito bem recebida Por um antigo freguês E sairiam sem zuada Se não fosse a trapalhada Que o chefe do grupo fez. O chefe era Português Com foi esclarecido O grupo era pequeno Com seu lenços coloridos Bonitos chapéus de couro No dedos anéis de ouro Perfumados, bem vestidos. Não houve um atrevido Que atrapalhasse a ação Chegaram todos em paz Porém em compensação Os de lenço no pescoço Causaram grande alvoroço Nas moças da região. Alvoroço e confusão Recado vai, flerte vem Namoricos pelos cantos Mas sem ofensa a ninguém Até que chegou a hora Daquele bando ir embora E com eles mais alguém. Português levou um bem Que mudou a sua sina A prenda que ele levou Era uma bela menina Magra, de seios pequenos Olhos vivazes, amenos E se chamava Cristina. Essa ditosa menina Sonhava com aventura Conhecer o mundo além De sua máquina de costura Por impulso desejou O sonho concretizou E perdeu a compostura. E seguiu essa aventura Tomando iniciativa Juntou-se com Português E seguiu na comitiva Aos pais abandonou E o cangaço ganhou Uma cangaceira ativa. Cristina era muito viva E seguiu com aquela gente Pra ela era aventura Aquele novo ambiente Participando de brigas Confrontos, coitos, intrigas Tiroteio e tempo quente. Já entrou praticamente Trajada de cangaceira Já toda paramentada De bornal e cartucheira Chapéu, lenço colorido E um bonito vestido De mescla azul verdadeira. Sua verve aventureira E o fogo que Deus lhe deu Não a deixava entender Que agora o destino seu Era se integrar ao bando E seguir acompanhando O homem que ela escolheu. Mas ela não entendeu E resolveu se soltar Fez valer sua liberdade E em outros procurar O fogo que Português Por mais empenho que fez Não conseguiu apagar. E resolveu paquerar Se espalhar no acampamento Zombar de um e de outro Provocar constrangimento Brigas entre companheiros No meio dos cangaceiros Fez um grande movimento. Até que em dado momento Provocou grande desmando Ao concretizar um caso Com um cabra de outro bando Português inconformado Queria se sentir vingado E começou os desmandos. Foi num encontro de bandos Em um final de semana Cristina se enrabichou Por um tal de Gitirana Cangaceiro de Corisco Correndo todos os riscos Que o cheiro de pólvora emana. Cristina mais Gitirana Estavam sempre agarrados E o estopim foi aceso Em um baile perfumado Português se alterou A coisa se complicou E quase morre um bocado. Gitirana era entroncado E bastante habilidoso Moreno, cabelos lisos Bom de briga, musculoso Namorador infalível Sedutor incorrigível Repentista talentoso. Também era buliçoso Gostava de chavecar As mulheres dos amigos Pra ver o caldo entornar Com Cristina foi além Sem depender de ninguém E sem nada disfarçar. Português a observar Aquele comportamento Planejou uma vingança Fora do acampamento Sem complicações depois; Liquidar aqueles dois Estava em seu pensamento. Aproveitou o momento De uma reunião Entre o bando de Corisco E o bando de Lampião Em um coito em Alagoas Pra combinar umas boas Estratégias de traição. Fez uma combinação Com um cabra de confiança Chamado de Catingueira Para fazer a matança Assim que uma ocasião Facilitasse a ação Sem provocar uma lambança. Esse cabra de confiança Já havia assassinado O cangaceiro Marreca Atendendo a um mandado De Português o traido Que já agia escondido Para se sentir vingado. E no encontro marcado Dos cabras em reunião Português e Catingueira Preparavam a traição Corisco a observar Comentava com Dadá: Aqui vai ter confusão. E seguiu na direção Se afastando dos demais Dirigiu-se a Português No meio dos carrascais E na pergunta foi franco: - Que é isso, «boi do cu branco»? Tu quer matar meu rapaz? Dessa vez você não faz Como fez da outra vez Quando assassinou Marreca Com a ajuda de outros três Mas homem meu tu não mata. Se fizer qualquer bravata Sou eu que mato vocês. Nessa altura Português Reuniu sua cambada Se instalou no acampamento Um clima barra pesada Nisso o bando de Corisco Já se aproximou arisco Todos de arma engatilhada. E no meio da zuada Se aproximou Lampião Que acompanhava de longe A poeirenta questão E resolveu intervir Antes de alguém cair Estrebuchando no chão. Controlada a confusão Formou-se um tribunal Dentro das leis do cangaço Para julgar o casal Até Corisco se impôs E alí nenhum dos dois Chegou ao ato fatal. Cristina ali se deu mal No meio do rebuliço Maria Bonita e Dadá Não ajudaram no enguiço Corisco entrou na querela Dizendo: Deu o que dela Ninguém tem nada com isso. Pra resolver o enguiço O chefe-mor Lampião Terminou por condenar Cristina pela traição. Pra terminar tudo em paz E ali ninguém brigar mais Tomou uma decisão. A única resolução Sensata naquela hora Era esquecer o passado Mandar Cristina ir embora Pra sua família voltasse E Português procurasse Pra ele outra senhora. Dadá resolveu na hora Auxiliar a Cristina Lhe preparar pra viagem Sem saber que sua sina Estava predestinada A morrer numa emboscada Vítima de carnificina. Deu um vestido a Cristina Com a barra recheada De dinheiro pra ajudá-la E ela partiu montada Num cavalo galopando Com um coiteiro acompanhando À sua antiga morada. Mas caiu numa emboscada Juntamente com o coiteiro Cangaceiros Luis Pedro Juriti e Candeeiro Cristina foi derrubada E bastante esfaqueada Lá mesmo no tabuleiro. Desesperado o coiteiro Fugiu para não morrer Cristina implorou chorando Sem poder se defender Mas assim mesmo a mataram E numa vala a deixaram Para os urubus comer. Coiteiro volta a correr Numa grande agitação Chegando no acampamento Conta tudo a Lampião Que ficou inconformado Por Português ter mandado Promover a execução. Vingado da traição Português foi alegando Que se prendessem Cristina E acabassem a torturando Ela não resistiria E por fim revelaria O esconderijo do bando. Esse foi mais um desmando Quando o cangaço existiu Cristina sonhava alto Praticava desvario Não aproveitou em nada Sua liberdade sonhada E foi morta a sangue frio.
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 07/11/2021
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |