José Medeiros de Lacerda

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Textos

MARIA JOVINA E A TRAIÇÃO A PANCADA
Adelaide de Jesus
Chamada Maria Jovina
Foi mais uma conhecida
Cangaceira nordestina
Optou pelo fracasso
Ao entrar para o cangaço
Ainda quase menina.

Essa moça nordestina
Era uma alagoana
Seu pai, Jovino Nonato
Zona rural de Santana
De Ipanema, agricultor
E pequeno produtor
de fumo, algodão e cana.

Jovina, muito bacana,
Descuidou-se e foi roubada
Por Lino José de Souza
Conhecido por Pancada
Do grupo de Lampião
Conhecido na região
Dos mais cruéis da cambada.

Maria Jovina e Pancada
Antes já se conheciam
Flertavam de vez em quando
Porém não se decidiam
Muitas vezes se encontravam
Nem um nem outro falavam
Escondendo o que sentiam.

Porém os dois já sabiam
Que havia grande atração
Moravam perto um do outro
Esperando uma ocasião
Depois Pancada sumiu
E de repente surgiu
No bando de Lampião.

Surgiu a ocasião
De ter uma companheira
E convidou Adelaide
Para ser sua parceira
Abandonar os seus pais
Se embrenhar nos carrascais
E se tornar cangaceira.

Adelaide deu bobeira
Sem querer se decidir
Ele a jogou na garupa
E se afastou dali
Ela não criou impasse
Deixou que ele a levasse
E resolveu lhe seguir.

Estava sempre a sorrir
Era formosa, baixinha
Mesmo sendo mulher feita
Só 14 anos tinha
Com o rosto arredondado
Cabelo encaracolado
Era muito engraçadinha.

Andava sempre na linha
A Pancada acompanhando
Todos já gostavam dela
Mas sempre lhe respeitando
Pancada era violento
E estava sempre atento
Os seus passos vigiando.

Virou destaque do bando
Por estar sempre animada
Gostava de enrolar
Os cigarros da moçada
Quanto mais lhe encomendava
Mais cigarro ela enrolava
Não reclamava de nada.

Acompanhava a cambada
Escondida pelo mato
Quando eles guerreavam
Foi numa dessas que gato
Lhe pediu que enrolasse
Um cigarro e lhe entregasse,
Foi o seu último ato.

Em Piranhas quando Gato
Brigava junto à cambada
Foi ferido em tiroteio
Não pôde fazer mais nada
Os companheiros fugiram
Ao Gato não acudiram
E ele foi morto a pedradas.

E quando a cangaceirada
Guerreava novamente
Jovina não atirava
Mas sempre estava presente
E viu Virgiínio alvejado
Cair no chão baleado
E morrer na sua frente.

E mesmo estando presente
Ajudando ao companheiro
Pancada era muito rude
Ignorante e grosseiro
E à mulher agredia
Batia o quanto queria
Como todo cangaceiro.

Certa vez num entrevero
Que teve com a mulher
Amarrou-a no cavalo
E fez ela andar a pé
Sem escutar seus apelos
Puxava-a pelos cabelos
Montado em seu pangaré.

Três léguas andando a pé
Sem dó do seu padecer
Se o cavalo galopava
Ela tinha que correr
Isso fez com que Jovina
Amargando sua sina
Procurasse lhe esquecer.

Começou sentir prazer
Só em pensar em traição
E jogou seu charme em cima
Do cangaceiro Balão
Um cabra conservador
Porém ela começou
Seu jogo de sedução.

O cangaceiro Balão
Era muito dedicado
Ao cangaceiro Pancada
E fazia seus mandados
Sempre alegre e divertido
No bando era conhecido
Por moleque de recado.

Certo dia, convidado,
O cangaceiro Balão
Teria que acompanhar
Jovina em uma missão
Ela cheia de desejo
Aproveitou o ensejo
Pra praticar a traição.

Pancada mandou Balão
Com a mulher e ninguém mais
Buscar umas previsões
E objetos pessoais
Que ele tinha trazido
E deixara escondido
Por aqueles carrascais.

Jovina não pensou mais
E iniciou a sedução
Abraçando o cangaceiro
Fazendo provocação
Dizendo que ele brigava
Porém não acreditava
Na macheza de Balão.

Aquela situação
Deixou o homem constrangido
O que ela estava dizendo
Não tinha nenhum sentido
Ela, mulher de pancada
Que era seu camarada
E um amigo querido.

«Não quero ser atrevido
Com a mulher de ninguém
Mulher você se controle
Se conforme com o que tem»
Jovina lhe respondeu:
- Digo isto porque eu
Te gosto e te quero bem.

Mas vi que você não tem
O que a mulher surpreende
- Jovina não diga isso
Se não voce se arrepende!
- Apois me jogue no chão
E mostre quem é Balão
Se é que você me entende.

- Já disse, tu te arrepende
De ficar me provocando!
Ela deitou-se no chão:
- Pois venha, estou te esperando
Ele não mais aguentou
Pra riba dela embicou
E terminaram «coisando».

Depois sairam andando
Pra cumprir o prometido
E ao voltar repetiram
O que tinha acontecido
Ao chegarem disfarçaram
Mas aí continuaram
Fazendo amor escondido.

Esse fato acontecido
Foi uma grande exceção
Porque a lei do cangaço
Não permitia traição
Mas se alguém insistisse
E o traido descobrisse
Haveria punição.

O cangaceiro Balão
Tinha muitas pretendentes
Já pai de 23 filhos
Com cinco mães diferentes
Garanhão insaciável
Conquistador implacável
Parceiras irreverentes.

Jovina foi diferente
Pois ele não procurou
Que ela já tinha dono
Ela foi que provocou
Depois ficaram se amando
Muito tempo se encontrando
E ninguém desconfiou.

Quando o bando se entregou
E receberam anistia
Uns foram pra Pernambuco
Outros foram pra Bahia
Em entrevista Balão
Falou nessa relação
Que entre eles existia.

E depois da anistia
Foi cada um pro seu lado
Lino terminou seus dias
Com Adelaide casado
E a história conturbada
De Jovina com Pancada
Ficou no tempo passado.

Jovina ter escapado
No cangaço foi por sorte
Pois mulheres como Lídia
Maria Bonita a mais forte
Eleonora, Enedina
Cumpriram lá sua sina
Se encontrando com a morte.

Por desatino, por sorte
Quem morreu, quem escapou
São histórias do cangaço
Que a muito tempo findou
Já não há mais ninguém vivo
Só histórias em arquivo
E o cordel terminou.
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 07/11/2021
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