JOSUÉ E GERALDINA - CANGAÇO NO MARANHÃO
O cangaço nordestino
Do tempo de Lampião Foi marcado por tortura Miséria e perseguição Ao longo de seis Estados Só tendo sido poupado, Piauí e Maranhão. Mas antes de Lampião O cangaço já imperava O pobre era oprimido O coronel dominava Por todo chão nordestino, Pobre cumpria o destino Que o rico lhe reservava. No Maranhão habitava Um terrível fazendeiro Patente de coronel Conseguida por dinheiro Tirano e sanguinolento Desonesto e avarento Orgulhoso e desordeiro. Otaviano Medeiros Esse dito se chamava Gostava de matar gente E maltratar quem passava Em sua propriedade Castrava só por maldade E muitas vezes sangrava. Se um passante chegava Em sua porta a bater Pedindo-lhe um copo d’água Ele mandava prender Amarrar numa forquilha E lhe dava uma vasilha De mijo para beber. Se alguém a se defender Tentasse se recusar A beber a tal urina Ele mandava castrar E enquanto gargalhava Uma orelha cortava E mandava desertar. Sempre andava a carregar Um cipó de boa grossura Com um metro de comprimento Enganchado na cintura Se agredisse um vivente Com dez lapadas somente Já matava a criatura. A sua cavalgadura Era pior que o velhote Que andava sempre armado De punhal e cravinote Pra torturar sem ter dó E mais aquele cipó Pior do que um chicote. Já chamavam o velhote O terror do Maranhão Dentro de sua fazenda Matava sem remissão Seguido por cangaceiros E terríveis desordeiros Dominava a região. Para sua maldição Tinha uma filha somente De treze anos de idade Muito linda e atraente De uma beleza plena Parecia Madalena Sob os pés do Onipotente. Essa jovem atraente Se chamava Geraldina Vivia triste e isolada Lamentando sua sina Prisioneira e bela Pois o monstro do pai dela Era uma fera assassina. Dizia o velho: - Menina Nunca queira namorar Porque se um dia você Um namorado arranjar Se arrependerá depois Pois eu sangro logo os dois, Não há quem possa empatar. Deixe esse velho pra lá Com esse gênio de serpente Vamos falar de um rapaz Muito disposto e valente Que morava com seus pais Filho de Minas Gerais No Maranhão residente. Esse jovem e sua gente Por motivos naturais Deixou sua terra natal A rica Minas Gerais Para outra região E parou no Maranhão Onde vivam em paz. Esse valente rapaz Se chamava Josué Negociava ambulante Com queijo, arroz e café E para acompanhá-lo Possuía um bom cavalo Para não andar a pé. Nessa luta Josué Percorria Bacabal, Santa Inês, Independência, Coroatá, Capinzal, Imperatriz e Codó, Caxias, Peritoró, Pedreiras e Pindobal. Josué soube afinal Do tal velho cangaceiro Que vivia no sertão Feito o pior desordeiro Cometendo atrocidade Fazendo perversidade Com seu bando desordeiro. Lhe avisou um companheiro: - O velho lá é malvado Quem passar nas suas terras De certo sai apanhado Quando ele pega de jeito Bate tanto no sujeito Do lombo ficar rachado. Tem uma filha o malvado Que é mesmo um querubim Mas quem olhar para ela Com namoro e com pantim Já se despeça dos seus E entregue sua alma a Deus Que o velho lhe dará fim. Quando ele ouviu enfim Falar na mocinha bela Disse: - Com fé em Jesus Eu me casarei com ela Dessa vez eu me desmando Bato no velho e no bando Mas desposo essa donzela. E ficou pensando nela Sem esquecer um momento Dizia: - Eu ainda vou Tirá-la do sofrimento Na força e fé eu mergulho E acabarei com o orgulho Daquele velho nojento. Vamos deixar um momento A filha do valentão Para encontrá-lo metido Em uma grande questão Com um fazendeiro vizinho Que também era mesquinho Da mais baixa cotação. O fazendeiro em questão Se chamava Fabiano Sua fazenda era anexa A do velho Otaviano O tal coronel malvado Que já foi mencionado Como perverso e tirano. Nessa luta Josué Percorria Bacabal, Santa Inês, Independência, Coroatá, Capinzal, Imperatriz e Codó, Caxias, Peritoró, Pedreiras e Pindobal. Josué soube afinal Do tal velho cangaceiro Que vivia no sertão Feito o pior desordeiro Cometendo atrocidade Fazendo perversidade Com seu bando desordeiro. Lhe avisou um companheiro: - O velho lá é malvado Quem passar nas suas terras De certo sai apanhado Quando ele pega de jeito Bate tanto no sujeito Do lombo ficar rachado. Tem uma filha o malvado Que é mesmo um querubim Mas quem olhar para ela Com namoro e com pantim Já se despeça dos seus E entregue sua alma a Deus Que o velho lhe dará fim. - Não ultrapasse a porteira Para sua proteção Vá dizendo, cavalheiro Qual é a sua intenção De onde vem, pra onde vai Pois por ordem do meu pai Não posso dar-lhe atenção. Respondeu o cidadão: - Pode ficar descansada Eu só quero de você Um copo d’água e mais nada Pois conheço meu valor E sei que seu genitor É uma fera assanhada. Sem lhe responder mais nada Ela entrou no casarão Sentindo a flecha do amor Varando seu coração E ele ficou percebendo Que era cupido acendendo A fogueira da paixão. Trouxe água ao cidadão Que perguntou-lhe:- Menina Como é que você se chama? Ela disse: - Geraldina. Vivo aqui amargurada Por meu pai aprisionada Como se fosse assassina. Cumpro sozinha essa sina. Diga seu nome completo. O rapaz disse: - Eu me chamo Josué Pereira Neto Simpatizei com você E posso lhe oferecer Amor, carinho e afeto. Seu pai é meu desafeto Que não respeita ninguém Sei o quanto você sofre Porém eu sofro também Juntemos as ilusões Pois temos dois corações Que padecem sem um bem. A moça disse: - Porém Fique você sabedor Que vai enfrentar a morte Se desejar meu amor Não vai sair triunfante Pois meu pai é semelhante A um tigre devorador. Ele disse: - Meu amor Bravura não me faz medo Sei que seu pai é valente Mas lhe digo sem segredo Não o quero como inimigo Mas se ele mexer comigo Encontra a desgraça cedo. Portanto não tenha medo E se quiser proteção Se monte aqui na garupa Do meu fogoso alazão Aceite o que eu tenho a dar Que você vai se livrar De viver nessa prisão. Geraldina com paixão Arrumou o que era seu Josué disse: - Querida Seu amor é todo meu Nossa paixão não tem fim Quem vir tomá-la de mim Pode dizer que morreu. O pior aconteceu Quando ela ia montar Na garupa do cavalo O jovem pôde avistar Numa curva da estrada O velho e sua cambada Que acabava de chegar. O velhote a gargalhar Bastante entusiasmado Conduzindo uma mulher E um homem todo amarrado A cabroeira gritando A pobre mulher chorando E o homem triste e calado. Haviam capturado Em uma luta acirrada O vizinho desafeto Por isso a sua cambada Empunhava uma bandeira Dando prova que vencera A batalha encarniçada. Quando ele viu na chegada Josué com sua filha Já prontos para fugirem Chamou a sua quadrilha Pior que fera assanhada Gritou: - Avança cambada Vamos ter nova guerrilha! Diz Josué: - Sua quadrilha De cangaceiros são poucos Os que tentarem pegar-me Ou são malucos ou loucos Derrubo todos no chão E de prêmio receberão Tapas, rasteiras e socos. Disse o velho: - Tu tá louco! Já trago um homem amarrado Agora encontrei você Com minha filha de lado Trate de se arrepender Que hoje urubu vai comer Do bico ficar rachado. Josué disse: - Cuidado Você e sua negrada Pois eu junto a sua filha Enfrento qualquer parada Fosse em paz eu não brigava Mas há tempo eu procurava Com quem dar uma brigada. O velho disse: - Que nada! Você está muito atrevido Chamou um dos seus capangas De nome Pedro Perdido Disse: - Não mate o sujeito Dê-lhe uma surra no jeito Do corpo ficar moído. Disse avançando o bandido: - Vou pegar esse amarelo! Josué disse: - Pretão Você vai virar farelo Porém de farinha pouca! E deu-lhe um soco na boca Que o negrão ficou banguelo. Veio logo outro amarelo Para pegar Josué O moço deu-lhe um sopapo Que o cabra caiu de ré Com as costas na parede Enganchado numa rede Quebrou um braço e um pé. Outro deu um pontapé Dizendo: - Cabra, esmoreça! Josué disse: - Bandido É melhor que não se cresça Seu cangaceiro infeliz! Deu-lhe um soco no nariz Que atravessou a cabeça. Nisso a cabroeira espessa Avançou contra o rapaz Ele viu que só de mão Não podia lutar mais; Com um passo retrocedendo Puxou seu punhal dizendo: - Vão ver como um homem faz. Pularam contra o rapaz Três bandidos de uma vez Ele meteu o punhal Com estranha rapidez E com certeira tacada Que de uma só punhalada Conseguiu varar os três. Pulou um negro outra vez Chamado Pedro Quiabo Josué meteu-lhe a faca Que entrou a folha e o cabo Num golpe certeiro e bruto; O cabra em cinco minutos Abraçou-se com o diabo. O velho feito um quiabo Querendo mostrar bravura Foi arrastando o cipó Que trazia na cintura Avançou contra o rapaz Veloz como o satanaz Com um gesto de loucura. Mas Josué com bravura Jogou o velho no chão Tomou o cipó e disse: - Cadê você, valentão? Só tem coragem cercado Seu povo tá derrotado Ninguém mais lhe dar a mão. Com esse ar de mandão Tu machucou muita gente, Tirou sangue, arrancou braço, Fez tudo que achou decente Maltratava sem ter dó Agora com seu cipó Vou dá-lhe uma surra quente! Tu vai ver como se sente Quando se está apanhando Aí baixou o porrete Com a filha dele olhando O velho gritou: - Menina! Me socorra, Geraldina! Meu genro está me matando! A moça se aproximando Disse: - Josué querido Solte esse velho nojento Que ele já está convencido Que não passa de um bagulho Pois quem luta com orgulho O seu trabalho é perdido. Disse o velho: - Estou vencido, Voce lutou com razão Eu fui um velho covarde Mereço a punição E agora não posso mais Pois entre a moça e o rapaz É louco quem põe a mão. Eu já não sou mais patrão Tome conta da fazenda Se case com Geraldina Porque ela é sua prenda Muita gente eu torturei Mas agora eu encontrei Um genro de encomenda. Me deixe aqui na fazenda Por vocês dois vigiado Você agora é patrão Faça tudo a seu agrado Cuide dela com carinho E me encomende um netinho Que eu já estou muito enfadado. O velho foi libertado Josué e Geraldina Se abraçaram e se beijaram Como a natureza ensina Cheios de felicidade O velho disse: - É verdade, Amar vem mesmo da sina! Josué e Geraldina Soltaram o homem amarrado Mandou que fossem embora Provando não ser malvado Casou-se com sua prenda Tomou conta da fazenda Como um cidadão honrado. O mal ficou no passado O amor prevaleceu Josué lutou bastante Mas ao cangaço venceu Insistiu com sua sina No fim ganhou Geraldina E o velho foi quem sofreu.
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 07/11/2021
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