José Medeiros de Lacerda

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Textos

VINTE E CINCO - UM CANGACEIRO NA JUSTIÇA
O registro no cangaço
Era meio divertido
Pois ninguém lá tinha nome
Todos tinham apelido
Uns ao entrar já traziam
Outros depois conseguiam
Por um fato acontecido.

Foi o caso de um bandido
Perdido na capoeira
Encontrando cangaceiros
Não tremeu nem deu bobeira
Só mostrou disposição,
Foi levado a Lampião
Num dia de Terça feira.

O chefe da cabroeira
Depois de interrogá-lo
Fazer com ele alguns testes
Decide então aceitá-lo
De início no acampamento
Atendendo a chamamento
Ou tratando de cavalo.

Mostrando ser bom vassalo
Até foi bem recebido
Demonstrando confiança,
E por não ter apelido
Por todos era estimado
Por Vinte Cinco chamado
Assim ficou conhecido.

O seu nome adquirido
Lá na pia batismal
Ele mesmo esqueceu
Mas não era essencial
Pois viver no anonimato
Era até bem mais sensato
Pra andar no matagal.

Sua família afinal
Agora era os bandoleiros
Os dois irmãos que o seguia
Como leais companheiros
Vendo o mais velho sair
Não tendo pra onde ir
Se tornaram cangaceiros.

O nome dos companheiros
Um era Atividade
Por ser um sujeito esperto
O outro Velocidade
Por ser veloz no gatilho
Pra correr por entre os trilhos
E invadir propriedade.

Naquela fatalidade
Que vitimou Lampião
Ele tinha ido fazer
Um mandado do patrão
Com os irmãos Atividade
E também Velocidade
Comandados pelo irmão.

Naquela sua missão
Que ele escapou por um triz
Em Lagoa do Bezerro
Tinha ido ver dois fuzis.
Depois disso acontecer
Costumava até dizer:
«No cangaço eu fui feliz!»

Já vinha com os dois fuzis
Tinha o mandado cumprido
Passando em Pão de Açucar
Souberam do acontecido
Quis fugir sem paradeiro
Porém preferiu primeiro
Ficar uns dias escondido.

Estava quase decidido
A novo bando formar
Mas só ele e os dois irmãos,
Onde mais gente encontrar?
E sem haver munição,
Em uma perseguição,
Como ia se safar?

Decidiram procurar
Corisco, o chefe valente
Mas sua mulher Dadá
Era muito prepotente
Mandona e muito arengueira,
«E se nós desse bobeira
Ela montava na gente!»

Os outros sobreviventes
Decidiram se entregar
Na Bahia, em Sergipe
Em tudo quanto é lugar
Talvez assim se entregando
Estivessem se livrando
Da polícia os matar.

Resolvem se separar
Cada um tomou destino
No dia 13 de outubro
Vinte Cinco em desatino
Em Poço Redondo entrou
E a um sargento se entregou
Para não perder o tino.

Doravante seu destino
Tinha perdido as manhas
De lá de Poço Redondo
Foi levado pra Piranhas
E Santana do Ipanema.
Parecia até cinema
Produzindo tais façanhas.

A polícia com suas manhas
Pra nos cabras dar um nó
Andava pra todo canto
Provocando um quiprocó
Até parar suas viárias
Numa penitenciária
Na capital Maceió.

Dentro desse xilindró
Vinte Cinco encontrou
Cobra Verde, Vila Nova
Que da chacina escapou
Maria Jovina, Barreira
Pancada e outra cangaceira
Que também se entregou.

Lá também reencontrou
Peitica e Santa Cruz
E por bom comportamento
Vinte Cinco lá fez jus
A crédito de confiança
E toda perseverança
Que a restauração produz.

Com confiança conduz
Sua recuperação
Obtendo privilégios
Dos agentes de plantão
Tão breve recuperou-se
Que em pouco tempo tornou-se
O chaveiro da prisão.

Porém a situação
De quem era ex-cangaceiro
Não podia ser pior
Porque o mais verdadeiro
É que crime não havia
Mas soltando voltaria
Todos para o tabuleiro.

Recorrendo a um engenheiro
Que estava na prisão
Vinte Cinco lhe pediu
Que fizesse uma petição
Com letras claras e largas
Ao Presidente Vargas
Expondo a situação.

Sendo feita a petição
Vinte Cinco encontrou meios
De falar com uma senhora
Que ali fazia uns recheios
Pediu pr’ela lhe ajudar
E conseguisse botar
A tal carta nos correios.

Foi assim por esses meios
Que a tal carta chegou
Ao Presidente Getúlio
Que um decreto baixou
Libertando os cangaceiros
E de vigias a lixeiros
Todos eles empregou.

Vinte Cinco conquistou
Um emprego de atendente
Faculdade de Direito
Era o seu expediente
Por razões circunstanciais
Lá não poude ficar mais
Mas aceitou bravamente.

Foi trabalhar finalmente
Em uma nova função
No Orfanato São Domingos
Depois Granja Conceição
E como guarda civil
Dezoito anos serviu
Cumprindo sua missão.

Certa vez um pistolão
O chamou pra trabalhar
No TRE de atendente
Não relutou em aceitar
E lá, já bem mais moderno
Passou num concurso interno
Para Técnico Auxiliar.

Hoje ele vive a contar
Todo alegre e prazenteiro
As suas loucas façanhas
Do tempo de bandoleiro
Relatando com prazer
Disse não se arrepender
Da vida de cangaceiro.

Noventa e cinco janeiros
Tinha na ocasião
Da reportagem que versos
Faço hoje a narração
Na época ele e mais três
Vivos que tiveram vez
No grupo de Lampião.

O Vinte Cinco em questão
Nunca o seu nome falou
Por José Alves de Matos
Com este se batizou
Se é vivo ou se já morreu
Sempre em Maceió viveu
Depois que se aposentou.

Em Buique sempre morou
Manoel Dantas o Candeeiro
Aristéia em Paulo Afonso
Também fez seu paradeiro
Dulce se foi pra Campinas
Encerrando sua sinas
Em terreno campineiro.

Do tempo dos cangaceiros
Eu gosto de recordar
Pois faz parte de uma história
Que o tempo teima em apagar
Mas passado é trapo usado,
Sempre tem que ser tirado
Do baú pra não mofar.

O Brasil vivo a estudar
Seus períodos, suas glórias
Quando descubro um passado
Estudarei sua memória
Embora simplificado,
Pra com meus versos rimados
Continuar sua história.
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 07/11/2021
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