José Medeiros de Lacerda

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Textos

A BELA E A FERA
Era uma vez um príncipe
Jovem, muito vaidoso,
Que apesar de ser bonito
Era muito presunçoso
Nunca praticava o bem
Não ajudava a ninguém
Era mesmo impiedoso.

Esse príncipe vaidoso
Durante uma tempestade
Viu bater em sua porta
Uma senhora de idade
Exposta á chuva e ao vento
Lhe suplicando aposento
Pedindo por caridade.

Mas o jovem por maldade
Vendo a velhinha sofrer
Negou-lhe apoio e guarida
Sentindo imenso prazer
Pois sua maior alegria
Era ver a agonia
De plebeu a padecer.

Quem maltrata por prazer
Comete grande besteira
Quem semeia tempestade
Não espere pasmaceira
Pois só colhe tempestade;
A velhinha, na verdade,
Era uma feiticeira.

Vendo do jovem a asneira
Por prazer e gozação
A feiticeira zangou-se,
Lançou-lhe uma maldição
Que a partir daquele dia
Em fera transformaria
O príncipe sem coração.

Pra acabar a maldição,
Quebranto ou seja o que for
Era preciso uma jovem
Abandonar seu pavor
Da fera descomunal
E, de forma natural,
Lhe desse um beijo de amor

Assim o príncipe ficou
No seu castelo isolado
Oculto entre calabouços
Infeliz, envergonhado,
Sem prazer, sem alegria,
Sofrendo sem regalia
E em fera transformado.

Bem próximo do seu reinado
Havia um comerciante
Pai de uma linda moça
Educada e elegante
Bonita por natureza,
Sua esplêndida beleza
Valia mais que um brilhante.

Seu pai, o comerciante
Amava a filha donzela
Como bom pai que ele era
Fazia tudo por ela
Sua beleza fazia
Jus ao nome que trazia
Porque se chamava Bela.

O pai da jovem donzela
Precisava viajar
Perguntou a sua filha
Se ela queria ganhar
Dele um bonito presente
Que ele, alegremente,
Fazia questão de comprar.

Ela para agradar
Ao pai que lhe tinha amor
Respondeu-lhe com carinho:
«Meu presente é o senhor
Que eu espero voltar,
Mas, se acaso encontrar,
Traga pra mim uma flor!

O pai então viajou
Sempre a negociar
Mas quando estava voltando
Algo o impede de chegar,
Um tremendo temporal,
Uma chuva torrencial
Alaga tudo por lá.

Impedido de andar,
Faminto e no desabrigo
Estava quase congelando
Parecia até castigo
Uma castelo ele avistou
Para lá se deslocou
Afim de encontrar abrigo.

Sempre pensando consigo
Na filhinha e no presente
Encontrou uma porta aberta
Entrou naquele ambiente
No escuro nada avistava
E cansado como estava
Adormeceu de repente.

O tenebroso ambiente
Que ele entrou sem pressentir
O perigo que corria
E até conseguiu dormir
Era a toca verdadeira
Da fera da feiticeira
E ninguém entrava ali.

Logo cedinho ao sair
Viu aberta uma janela
E embaixo dela um jardim
Flor branca, azul, amarela
Ele lembrou do presente
E foi colher, inocente,
Algumas flores pra Bela.

Porém naquela janela,
De repente viu surgir
A tal fera furiosa
Que não o deixou fugir
Violento o segurou
E logo lhe perguntou
O que ele fazia ali.

Comerciante a sorrir
Do outro se desvencilha
Disse que ia passando,
Viu aquela maravilha
Flores tão maravilhosa
E quis colher umas rosas
Para Bela, sua filha.

«Porém essa maravilha
- Disse a fera no embalo -
É minha propriedade
Não é pra qualquer vassalo
Elas são o meu alento
Por isso. neste momento,
Eu terei que assassiná-lo.»

«Mas eu não sou seu vassalo,
Eu sou um comerciante
Moro pelas redondezas
Aqui sou só um passante,
Sei que não tenho razão
Por isso peço perdão
Por ser tão ignorante.»

Disse a fera nesse instante:
«Perdão tá indeferido
Terei mesmo que matá-lo
Isso é fato decidido,
Trate logo de rezar
E antes de lhe matar
Ainda concedo um pedido.»

Comerciante comovido
Resolve então lhe pedir
Pra que ele concedesse
Da filha se despedir
A fera lhe disse: «Pois
Se não voltar mato os dois!»
Então deixou-o partir.

Comerciante ao sair
Chegou em casa chorando
Contou para sua filha
O que estava se passando
A grande fera encontrou
E à morte o sentenciou
Quando ele estava voltando.

Bela foi lhe perguntando
Como era esse animal
Comerciante respondeu,
«É um bicho descomunal
Que era mau quando foi gente
E agora, diferente,
Ficou fora do normal.

A minha vida afinal
Ao fim já está chegando...»
Ela disse: «Eu vou contigo»
E saíram conversando
O pai com a filha abraçado
Chorando descompassado
No castelo foram entrando.

Quando eles foram chegando
A fera os viu chegar
Desceu com todo furou
Para com o homem acabar
A moça se antecipou
E lhe pediu por favor
Para a ela escutar.

«Para o senhor não matar
Meu pai, eu vim lhe pedir
Deixe que ele se vá,
Eu fico morando aqui
E lhe faço companhia.»
A fera com alegria
Mandou o homem sair.

A moça ao se despedir
Chorava feito criança
Por ver seu amado pai
Livre daquela matança
Ela ficou no local
Vivendo com o bicho mau
Mas viva e com esperança.

Com muita perseverança
Ela soube se fazer
Juntos a Bela e a Fera
Começaram a se entender
E viveram, na verdade,
Uma grande amizade
Um com o outro a conviver.

Conviviam com prazer,
Com caráter, com pudor,
Ela nunca se zangava,
Ele sempre a respeitou
E com essa convivência
Ele, sem experiência,
Por ela se apaixonou.

Algum tempo mais durou
Esse relacionamento
A fera apaixonada
Achou que era o momento
De um assunto mais sério
E foi com esse critério
Que a pediu em casamento.

Ela achou atrevimento
E recusou o pedido
Mas continuou com ele
Que estava arrependido
Sofrendo esse dissabor,
Pois se existisse amor
Ela tinha concedido.

Bela lhe fez um pedido
Abatida e comovente
Queria visitar o pai
Que estava muito doente
A fera lhe concedeu
O pedido e ainda deu
Sete dias de presente.

Uma semana ausente
Da fera e quando voltou
Bela encontra o monstruoso
Sobre um canteiro de flor
Quase morto de saudade
Por ter dado liberdade
A ela, seu grande amor.

Bela então o levantou
E o ajuda a caminhar
Sentindo forte emoção
Sem querer acreditar
No que estava acontecendo,
Como por um ser horrendo
Ela foi se apaixonar?

Mas o fato estava lá,
Ela mesma comprovou
Na convivência com a fera
A sua vida mudou
Também o comportamento
Daquele ser violento
Com o tempo se transformou.

Para o castelo o levou,
Lentamente, com cuidado,
Deitou-o, deu-lhe um beijo
E o encanto foi quebrado,
O beijo o desencantou
E a fera se transformou
Em príncipe desencantado.

O príncipe vil e malvado
Tinha acabado também
O homem agora pensava
Somente em fazer o bem
Aquele ser arrogante
Rancoroso, petulante,
Não atacou mais ninguém.

Agora sendo do bem
Pediu Bela novamente
Em casamento e ela
Aceitou alegremente
Casaram, foram felizes
Sob novas diretrizes
E em um novo ambiente.

Esse fato claramente
Mostra um exemplo de vida
Uma moça tão bonita
Com a convivência vivida
Mesmo sem ter liberdade
Se apaixona de verdade
Sem escolha definida.

Uma história parecida
Foi noutro cordel narrada
Como a Princesa e o Sapo
Que a deixou apaixonada
E quando ao sapo beijou
Em príncipe o transformou;
Era outro conto de fada.
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 05/11/2021
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