José Medeiros de Lacerda

Leia poesia - A poesia é o remédio da alma

Textos

A CHAVE DOURADA
Olá, Criancinha linda,
Venho convidar você
Para brincarmos um pouco
Mas não é de se esconder
Nem toca o amarelinha,
É uma brincadeirinha
Onde eu te chamo pra ler.

Quero convidar você,
Te chamar, como se diz,
Para uma longa viagem
A um distante país
Usando a imaginação
Conhecer essa Nação
De um povo muito feliz.

Esse ditoso país
Cercado de muitas ilhas
Tem o sugestivo nome
De País das Maravilhas,
Tinha lindos animais
Que auxiliavam os pais
Cuidar dos filhos e filhas.

Distante algumas milhas
Do país que aqui eu disse
Morava uma garotinha
Que tinha o nome de Alice
Loirinha, maravilhosa
Educada, estudiosa
Um mar de pura meiguice

Um dia a menina Alice
Pelo bosque passeando
Encontrou um lindo coelho
E ficaram conversando
Ela nada entendia
O que o coelhinho dizia
Mas ficava imaginando.

O coelho foi se afastando
Ela para não perdê-lo
Embrenhou-se pelo bosque
Em completo desmazelo
Sem notar que se afastava,
De casa se distanciava,
Estava feito o desmantelo.

E querendo não perdêlo
Continuou seguindo o coelho
Entrou numa grande gruta
Ferindo um pouco o joelho
Ela ali viu outro mundo,
Um grande lago profundo
Que parecia um espelho.

Esquecendo um pouco o coelho
Ela resolveu entrar
Naquela água espelhada
E começou afundar,
Quanto mais ela afundava
Só água espelhada achava
Nada de chão encontrar.

Haja a menina afundar
Até que chegou no chão
Tudo era diferente:;
Havia um grande salão
Era outra Natureza...
No centro havia uma mesa
E na mesa um garrafão.

Voltou a sua atenção
Para uma chave dourada
Bem ao lado da garrafa
Que a deixou ofuscada;
E como estava sedenta
Aquela água barrenta
A deixou muito animada.

Estava entusiasmada
Com aquela novidade
Quis logo pegar a chave
Porém a necessidade
Devido estar sedenta,
Aquela água barrenta
Era uma preciosidade.

Mas a maior novidade
Era uma frase gravada
Onde estava escrito: «Beba-me»
Na garrafa pendurada...
Sorveu  a água fresquinha
E ficou pequenininha
Como uma polegada!

Ficou um tanto assustada
Com aquilo ao seu redor
Estava dimuida
Ou tudo ficou maior
Só depois compreendeu
Que o líquido que bebeu
Fez ela ficar menor.

A relva ao seu redor
Chegava lhe meter medo
Qualquer raminho de folhas
Parecia um arvoredo
Alice sem entender
Queria muito saber
Daquela água o segredo.

Porém aquele enredo
Não sabia desvendar
A chave ficou na mesa
Sem conseguir alcançar
Por estar diminuída;
Desenganada da vida
Começou logo a chorar.

Chorando pôs-se a andar
Por aquele bosque vago
As lágrimas caíam tanto
Que formou um grande lago
E viu bichinhos nadando
Debatendo, se afogando
Sem poder dar-lhes afago.

E aumentava mais o lago
Quanto mais ela chorava
Nadando em suas lágrimas
Notou que também boiava;
Uma pequena caixinha
Que à deriva  também vinha
E dela se aproximava.

Em instantes alcançava
A caixa naquele rolo
Dentro da caixinha havia
Um bom pedaço de bolo
Que iria lhe alimentar
Sua fome saciar
E lhe servir de consolo.

Um pequeno escrito tolo
Na caixinha apareceu
«Coma-me», a frase dizia,
Pegou o bolo e comeu.
E tudo que era gigante
Diminuiu num instante,
Só seu tamanho cresceu.

Tudo à vista se inverteu,
Só ela era gigante;
O lago onde ela nadava
Também sumiu num instante
Ficou só uma laminha
Como sendo uma formiguinha
Son os pés de um elefante.

Para seu maior displante
Ainda pôde avistar
Aquela chave dourada
Mas não podia alcançar
Pela sua enormidade,
E por incapacidade
Não conseguia alcançar.

Antes de se imaginar
De forma descomunal
Ficou pequena outra vez
Num gesto brusco e banal.
Esticava e encolhia
E tudo que ela queria
Era voltar ao normal.

O lago artificial
Que suas lágrimas formou
Novamente apareceu
E seu corpinho inundou.
Quando olhou para o lado
Daquele lago salgado
Um grande rato   avistou.

Então se aproximou
Redemoninhando à toa
Imaginando que o rato
Teria uma alma boa
Perguntou sem aparato:
- Responda-me, amigo rato,
Como sai dessa lagoa?

A pergunta não foi boa
Pois perguntou em francês
Quis ser bastante educada
E provocou insensatez,
Em vez de chamar-lhe rato
Chamou o bicho de gato
E a confusão se fez.

O rato por sua vez
Ficou muito indignado
Ao confundirem seu nome
Com seu maior intrigado
Mas ela se desculpou
Reconheceu que errou
Ao ter seu nome trocado.

O rato muito educado
Foi dizendo: - É por aqui
Logo outros bichos chegaram
Todos querendo intervir
Mas com a passagem estreita
Estava a bagunça feita
Sem ninguém poder sair.

Resolveram competir
Todos em uma corrida
Pois correndo se secavam
E achariam a saída
Um ao outro se ajudava
No final não importava
Quem ganharia a partida.

E teve início a corrida
Sem ter um fim ou começo
Todos correndo a seu modo
Cada qual com seu apreço
Quando alguém pronunciou
:- A corrida terminou
E não vai ter recomeço!

Outro alguém gritou avesso:
- E quem foi o vencedor?
Quem levou o grande prêmio?
Terá sido o roedor?
Quando uma ave respondeu:
- Desta vez ninguém venceu.
Aqui quem correu ganhou.

Todo mundo se secou
E essa era a intenção
No fim todos aplaudiram
Na mais perfeita união
Alice até já sorria
Tendo tanta companhia
Sem nenhuma confusão.

Lhe veio a recordação
Como tudo aconteceu
Lembrou do coelhinho branco
Que ali desapareceu
Lembrou da chave dourada
Da garrafa derramada
E do líquido que bebeu.

O bolo que ela comeu
Tanto pranto derramado
Que deu até pra formar
Um grande lago salgado
Tantos bichos sem ação
Procurando salvação
Outros morrendo afogado.

Até mesmo seu estado
Que de repente crescia
E em fração de segundos
De novo diminuía
Como foi parar ali
Como poderia sair
Era grande a agonia.

A chave que ela queria
Dela se distanciou
Restando só a lembrança
Como de alguém que sonhou
Continuava pequena
Ou gigante, nada plena,
Seu tamanho não voltou.

Por último ela lembrou
Do lago como um espelho
Daquela gruta minúscula
Onde ralou o joelho
Quando estava a caminhar
E resolveu penetrar
Naquela toca do coelho.
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 05/11/2021
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