O ENCONTRO DE LAMPIÃO COM OS CABRAS DO MENSALÃO
Há alguns anos atrás
Deu-se um fato inusitado: Um senador do Nordeste Trazia o povo enganado Dando uma de salafrário, Inventava funcionário Pra aumentar seu ordenado. «Os fantasmas do senado» Assim ficou conhecido Até que foi descoberto E o senador foi punido Pois nunca mais ganhou nada, Findou virando piada E o caso foi esquecido. Depois desse acontecido Roubar virou tradição Os fantasmas se espalharam Por muita repartição, Invadiram a Petrobras E entre outras coisas mais Engrossaram o mensalão. Fantasma da corrupção Na política se espalhou Ficaram desorientados Com a queda do senador Alguns ficaram vagando Houve quem ficou sobrando E até quem reencarnou. Sei de um que ressuscitou Com toda essa confusão Não procurou mais voltar À antiga condição De fantasma nordestino, Seu nome era Virgolino, O famoso Lampião. Na primeira informação Ficou muito revoltado Ao descobrir que acabaram O cangaço do passado, Que não havia mais trilha Mas existia em Brasília Um cangaço engravatado. Só agiam de um lado Não ajudavam ninguém Diferente do seu tempo Mulher mandava também E o povo obedecia, Mas tudo que ela fazia Só pensava no seu bem. Soube que um zé ninguém De lá do seu Pernambuco Começou a fazer greve Sem peixeira, sem trabuco, Tornou-se um homem potente Chegou a ser presidente E fez esse vuco-vuco. Mas filho de Pernambuco Não podia agir assim. Já que ele ressuscitou Graças ao tal de Efraim, Enveredou numa trilha E foi parar em Brasília Pra nessas coisas por fim. Chegando em Brasília, enfim Começou o quiprocó: Foi barrado no congresso Por não usar paletó, Pensou, «A coisa ta feia, Hoje eu viro uma surrupeia Mas aqui vou dar um nó.» Um cabra de Cabrobó Tava na recepção Presenciando o barulho Reconheceu Lampião Entrou pedindo licença No meio da desavença Disse, «Calma, Capitão! Gente, este é Lampião Um grande herói do Nordeste! Está uniformizado, Roupa de cabra da peste, Não é cabra do senado Também não é deputado, Só mexe em coisa que preste!» «Vosmicê é do Nordeste!» Lampião falou arisco. - Eu sou la de Cabrobó No Vale do São Francisco Conhecedor da história E sei toda trajetória Do senhor e de Corisco! L - Do Vale do São Francisco Eu tenho rescordação. Mas eu num vim fazê briga Nessa tá recepição. Eu vim a esse lugá Pruque preciso encontrá Os cabra do mensalão, - Veja bem, meu capitão, Aqui não vai se encontrar Nenhum desses envolvidos, Estão por todo lugar. Alguns já estão enjaulados E outros em seus Estados É mais fácil se encontrar. Se eu puder ajudar Com alguma informação... Lampião disse: - Eu quero A lista do mensalão Pois eu vim pra ensiná Esses homi a trabaiá Sem tá roubando a Nação. - Se chama corrupção Isso que estão fazendo. L - Pegá no alheio é roubo, Fique vosmicê sabendo! Deixe de ser abiudo, Eu quero uma lista de tudo E vocês tão escondendo! Responde o outro tremendo: - Isso a nós não compete. A lista do mensalão Já está na internet, É só o senhor procurar... L - Já vi que aqui vai entrá Muita gente no bufete! E quem tiver o tupete Dessas coisa me escondê... - Calma, vejo que o senhor Não chegou a conhecer Nada ainda de informática, É uma nova sistemática Que nos ajuda a crescer. Hoje quem quiser saber De tudo que se passou É só procurar no Gugo Ligando o computador. Vou ver essa lista aqui E vou mandar imprimir Na impressora pra o senhor. Lampião se enfezou Com aquele palavreado Disse, - Pelo que eu tou vendo Puraqui só tem viado! Se Labareda chegasse Aqui e isso escutasse, Vocês iam ser capados! O outro aperreado Terminou a impressão Dizendo, - Tá aqui a lista Da turma do mensalão Para o povo conhecer, Se quiser eu posso ler Para o senhor, capitão. Lhe respondeu Lampião: - Já pode inté começá... O outro disse, - São muitos, Porém eu vou separar Cada um por seu Estado, Pois estando separado O senhor pode julgar. Tem alguns do Paraná, São Paulo é onde tem mais De Pernambuco e Bahia, De Mato Grosso e Goiás, Com lavagem de dinheiro Tem do Rio de Janeiro Também de Minas Gerais. L - Eu não quero saber mais Dessa cambada do Sul Que derna que o mundo é mundo Que faz esse sangangu. Eu quero é os nordestino, Pois é com esses minino Que vai haver sururu. O povo do Pajeú É uma gente honesta e rara Quem tá envolvido nisso Num tem vergonha na cara; Os mensalão nordestino Vão selar o seu destino Queimados numa coivara. Para livrarem a cara Deixam Lampião entrar Na Câmara dos Deputados, Mas quando ele chegou lá O plenário aperreou-se Teve gente que mijou-se E até pediu pra cagar. Mas foi Lampião falar Todo mundo se calou. Ele disse: - Tenham carma, Foi Lampião que chegou Pra conversá puraqui, E só vou deixar sair O cabra que se mijou. Um deles se apavorou Vendo chegar Lampião Ajoelhou-se pedindo: - Clemência, meu capitão! Presidente, me ajuda! Me leve para a Papuda! Me prenda que eu sou ladrão! - Para! - gritou Lampião - Que fraco seu proceder! Antes de se borrar todo Responda, quem é você? - Meu nome é Valdemar Costa, Se precisar, como bosta, Eu só não quero morrer! L - Me diga, por que você Se envolveu no mensalão? VC - Pra conseguir umas vantagens Através de corrupção Mas já purguei meus pecados E até já fui condenado, Oito anos de prisão! L - Essa tá de corrução Inda num entendi por certo. E pru que tu num tá preso? VC - Meu regime é semi aberto. L- Essa coisa tá errada. Isso é prisão de fachada Pra ficar tudo incoberto! VC - Errado nada, tá certo, Pois aqui não tem bandidos Nós somos parlamentares Pelo povo escolhidos. Se há dinheiro de sobra Fazemos alguma manobra Para alguns favorecidos. L - Tirá dinheiro escondido Pra voces num é roubá. Se um pobre pega uma galinha Em um ou outro quintá Os macaco mete a peia Prende e deixa na cadeia Até o cabra mofá... VC - Se ele se candidatar E o povo o escolher Ele vem para Brasília Polícia não vai prender Que ele tá imunizado. Aqui todo deputado Usa desse proceder. Tiririca a interromper Gritou: - Senhor presidente, Isso é uma ofensa A quem age honestamente! Mas se acabou a zoada, Ninguém mais quis falar nada Com o cangaceiro presente. Virgolino disse, - Gente, Não adianta brigá! Por muito menos que isso Mandaro me chaciná! Agora quero entender: Nessas riqueza, pru que Vocês precisa roubá? T - Capitão vai desculpar, Isso é democracia. L - Essas coversa fiada Dá até dor nas viria. Pra mim é tudo ladrão! Eu quero é os mensalão De Pernambuco e Bahia! T - Vamos com calma, chefia, Não venha com acusação. Parlamentar nordestino Aqui tem uma porção Honesto, é bom que se diga. O senhor procure briga Com a turma do mensalão! Lhe respondeu Lampião: - Honesto inté pode ser, Mas burro e analfabeto É importante dizer, Ou surdo ou quer confusão, Pois eu falei mensalão, Não pra ninguém se doer. Faz favor de aparecer O cabra Pedro Correia E se explique pru que Entrou nessa coisa feia. Faça favor de dizer Pois se não me convencer Entra aqui mesmo na peia. Pedro da Silva Corrêa Tentando se desculpar Disse: - Calma, capitão, Ouça o que eu tenho a falar, Segui alguns companheiros Porém não roubei dinheiro, O que eu fiz foi desviar. Mas agora vou pagar Pela minha atuação Nove anos e cinco meses Eu já peguei de prisão Em regime absoluto, Eu posso até ser corrupto, Porém nunca fui ladrão. Lampião disse, - E meus irmão Do Estado da Bahia Que também tão envolvidos, O Paulo Rocha e o Josía? O que tem a me dizer? Procurem se defender Sem dizer muita arrelia. PR - Digo a Vossa Senhoria Que não sou nenhum bandido Usei grana pra pagar As contas do meu partido Já fui muito investigado Na justiça fui julgado E já fui absolvido. Josias não é bandido Nem está aqui presente Nada pesa contra ele Sendo assim é inocente, Vamos deixá-lo de lado Que ele já foi julgado E agora está ausente. Eu sei que tem muita gente Condenados na prisão PT, PMDB E até da oposição Lava-jato está em alta, Mas aqui está em pauta A turma do mensalão; Enfezado Lampião Nada podendo fazer Se fosse punir corrupto Todos iriam morrer Agora a contrapartida Era achar uma saída Sem ali nada dizer. Tratou de se escafeder Daquele amplo salão Com a caatinga martelando Na sua imaginação Assim pensava: - Eita peste, Se eu voltar pro Nordeste Não vou ser mais capitão! Tomando uma decisão Disse: «É assim que eu resolvo; Se eu voltar pro Nordeste Não encontro mais meu povo, Maria também não tá viva...» Tomando a iniciativa Resolveu morrer de novo.
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 15/02/2017
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