O CANGACEIRO LABAREDA NUMA PASSEATA GAY
Com os fantasmas do senado
Confusão de um senador Entre muitas consequências Lampião ressuscitou Se envolveu com o mensalão Tentando dar punição Mas logo desencarnou. Pouco tempo aqui passou Mas foi o suficiente Pra ficar horrorizado Com as tramóias existentes Diferente do passado Viu ladrões engravatados Num luxuoso ambiente. Nos tempos de antigamente Mulher era submissa Agora era presidente E comandava a mundiça Até mesmo no sertão Dentro da religião A mulher rezava missa. Uma verdadeira carniça Chamada «corrupição» Para encobrir quem roubava Sem ser chamado ladrão E outro fato inusitado: Nunca viu tanto viado Numa tal «recepição.» Falavam com mansidão E tanta delicadeza Que se um dia Labareda Chegasse ali de surpresa E visse essa arrumação Cortava tanto culhão De cabra sem dar moleza. O amor à natureza Já não existia mais Não tinha mais cangaceiro Vagando nos carrascais, Como ele soube eu não sei Que havia parada gay Em todas as capitais. Não podendo aguentar mais Aquela situação Resolveu morrer de novo E voltar à condição De fantasma nordestino E aceitar seu destino De vagar na imensidão. Foi assim que Lampião Com Labareda encontrou Vagando na imensidão E enfezado lhe contou Da sua ressurreição Da história do mensalão E como desencarnou. Labareda até gostou De encontrar o capitão Conversarem sobre os vivos Falarem sobre o sertão Do fato que aconteceu Como Lampião perdeu Pra os cabras do mensalão. De repente Lampião Falou sobre o retrocesso Dos homens de fala mansa Que ele viu no congresso E aquele acontecido Deixou Lampião sentido E Labareda possesso. O cabra teve um excesso De raiva ao ficar sabendo Que as coisas no Brasil Estavam tudo se invertendo Mulher com mulher casava O homem se requebrava E só falava gemendo. Labareda se tremendo Disse, «Eu vou voltá lá!» Lampião disse, «Eu ensino Como se reencarnar, Tu pode envivecer, Mas vai se arrepender Na hora que lá chegar. Tu até pode capar Meia dúzia de viado Mas tem uns que não tem mais Porque já foi operado Com outro homem já casou Outros solteiro ficou Mas em mulher transformado.» Diz Labareda enfezado: «Mas eu quero voltá lá» Lampião que já sabia Fez ele ressuscitar O cabra desembestado Desceu num raio agarrado Em São Paulo foi parar. Pelas ruas a vagar Encontrou duas nisseis Disse, «Só faltava essa, Eu encontrar japonês! Vou deixar elas passá Que eu vim a esse lugá Prumóde procurar gays. Acaso alguma de vocês Viu algum gay por aqui? Enquanto uma respondia A outra danou-se a rir. «Já pare de procurar Que acabou de encontrar Pois nós somos travesti!» «Moça, pare de se rí, Tou ficando encabulado. Eu ando caçando gay E estou bem informado Que aqui tem de montão. E pelas informação O tá de gay é viado.» «O amigo tá assustado Arisco que só raposa, Gay também é travesti Fresco, bicha, mariposa, Diva, dondoca, dengosa, Marica, manso, mimosa E viado, é a mesma coisa.» «Não sei como voces ousa Caçoar assim comigo Duas minina bonita Num tem medo de castigo? Saiba que eu ressuscitei Somente pra capar gay Que gay é meu inmigo.» «Pois voce é nosso amigo E acabou de encontrar Dois viados nessa praça Mas não pode nos capar. Tu perdeu essa parada Pois nós não temos mais nada, Já mandemos arrancar. Mas nós vamos te levar Lá no nosso movimento Mais de quatorze mil bichas, Vai ser um divertimento Quando você chegar lá. Se de algum arrancar Vai ter agradecimento!» «Deixe de farsejamento Não quero conversar mais Viado é caça do mato E bicho lá tem de mais. Essa conversa nojenta Tá me dando dor nas venta E saudade dos carrascais.» «Não se aflija, rapaz, Se não voce sai da linha, Voce está entre amigos, Nossa fome se avizinha Vamos levar esse bofe Pra comer um strogonoff Com as nossas amiguinhas!» «Já tá me dando a murrinha Com esse seu cunversê, Bem que o capitão me disse... Onde é que eu fui me meter?! Se quiser que estrague Onofre Mas não me chame de bofe Que isso é coisa de comer!» «Nós vamos levar você Numa passeata gay Na Avenida Paulista, Você vai gostar que eu sei. Lá tem bicha portuguesa Chinesa, mongol, francesa E como nós tem nissei.» Diz Labareda, «Não sei Desse seu palavriado. Inté que eu gosto de fême E já tou necessitado Mas só vou me atracar Com voces quando eu capar Meia duzia de viado!» «Já que tu é complicado Em nós não acreditou Pois nós vamos lhe provar Pra voce como ficou:» Levantaram seus vestidos Com Labareda aturdido E a cirurgia mostrou. O cangaceiro surtou Com o que acabou de assistir As bichas aproveitaram Para levá-lo dali Quando ele limpou a vista Já estava na Paulista Cercado de travesti. Todos morrendo de rir Dele naquele momento Ele sacou de um punhal Mas não tinha fundamento Elas a roupa tiraram E para ele mostraram, Nenhum tinha os documentos. Lhes mostraram um movimento Que havia do outro lado As mulheres se beijando Ele ficou assustado, Lhe afirmaram com fé: «Aquilo tudo é mulher E não tem nenhum viado!» Ele disse, «Tá danado! Mas num pode ser assim Mulher é pra beijar macho E eu quero uma pra mim Se Zé Baiano saber Vai querer envivecer E ferrá elas tudim! Até que chegou enfim Uns gays de calça e camisa Quiseram lhe apresentar Uns disseram: «Não precisa Viemos aqui ligeiro Pegar esse cangaceiro E vamos dá-lhe uma pisa.» Foram tirando a camisa Mostrando os enormes peitos Ele exclamou, «Isso é macho Com as mamas desse jeito? Disconjuro todo mundo! Valei-me meu São Raimundo! Eu vou simbora pro eito! Se o mundo tá desse jeito O diabo é quem quer vivê! Que besteira essa minha De querê envivicê! Quem quiser que isso aceite! Se aqueles peito tem leite Eu é que num vou bebê!» Uns disseram, «Tu vai ver Agora outra arrumação!» Aí baixaram as calças Com cada par de culhão; «Tu num veio nos capar? Vai ter que anestesiar Pra fazer a operação!» No meio da confusão Labareda não quis mais Saber de nada e correu Com os gays correndo atrás Mas ele se escafedeu E da carreira que deu Foi parar nos carrascais. Pensou, «Como é que se faz Pra viver daquele jeito? Tudo é muito diferente Da nossa vida no eito Naquilo eu num boto fé, Mulher beijando mulher E homi cheio de peito? Eu preciso dar um jeito De voltar pra imensidão!» Excomungou os viventes, Fez lá sua oração Rastejou feito uma cobra E morreu com a manobra Que aprendeu com Lampião.
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 15/02/2017
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