José Medeiros de Lacerda

Leia poesia - A poesia é o remédio da alma

Textos

O CANGACEIRO LABAREDA NUMA PASSEATA GAY
Com os fantasmas do senado
Confusão de um senador
Entre muitas consequências
Lampião ressuscitou
Se envolveu com o mensalão
Tentando dar punição
Mas logo desencarnou.

Pouco tempo aqui passou
Mas foi o suficiente
Pra ficar horrorizado
Com as tramóias existentes
Diferente do passado
Viu ladrões engravatados
Num luxuoso ambiente.

Nos tempos de antigamente
Mulher era submissa
Agora era presidente
E comandava a mundiça
Até mesmo no sertão
Dentro da religião
A mulher rezava missa.

Uma verdadeira carniça
Chamada «corrupição»
Para encobrir quem roubava
Sem ser chamado ladrão
E outro fato inusitado:
Nunca viu tanto viado
Numa tal «recepição.»

Falavam com mansidão
E tanta delicadeza
Que se um dia Labareda
Chegasse ali de surpresa
E visse essa arrumação
Cortava tanto culhão
De cabra sem dar moleza.

O amor à natureza
Já não existia mais
Não tinha mais cangaceiro
Vagando nos carrascais,
Como ele soube eu não sei
Que havia parada gay
Em todas as capitais.

Não podendo aguentar mais
Aquela situação
Resolveu morrer de novo
E voltar à condição
De fantasma nordestino
E aceitar seu destino
De vagar na imensidão.

Foi assim que Lampião
Com Labareda encontrou
Vagando na imensidão
E enfezado lhe contou
Da sua ressurreição
Da história do mensalão
E como desencarnou.

Labareda até gostou
De encontrar o capitão
Conversarem sobre os vivos
Falarem sobre o sertão
Do fato que aconteceu
Como Lampião perdeu
Pra os cabras do mensalão.

De repente Lampião
Falou sobre o retrocesso
Dos homens de fala mansa
Que ele viu no congresso
E aquele acontecido
Deixou Lampião sentido
E Labareda possesso.

O cabra teve um excesso
De raiva ao ficar sabendo
Que as coisas no Brasil
Estavam tudo se invertendo
Mulher com mulher casava
O homem se requebrava
E só falava gemendo.

Labareda se tremendo
Disse, «Eu vou voltá lá!»
Lampião disse, «Eu ensino
Como se reencarnar,
Tu pode envivecer,
Mas vai se arrepender
Na hora que lá chegar.

Tu até pode capar
Meia dúzia de viado
Mas tem uns que não tem mais
Porque já foi operado
Com outro homem já casou
Outros solteiro ficou
Mas em mulher transformado.»

Diz Labareda enfezado:
«Mas eu quero voltá lá»
Lampião que já sabia
Fez ele ressuscitar
O cabra desembestado
Desceu num raio agarrado
Em São Paulo foi parar.

Pelas ruas a vagar
Encontrou duas nisseis
Disse, «Só faltava essa,
Eu encontrar japonês!
Vou deixar elas passá
Que eu vim a esse lugá
Prumóde procurar gays.

Acaso alguma de vocês
Viu algum gay por aqui?
Enquanto uma respondia
A outra danou-se a rir.
«Já pare de procurar
Que acabou de encontrar
Pois nós somos travesti!»

«Moça, pare de se rí,
Tou ficando encabulado.
Eu ando caçando gay
E estou bem informado
Que aqui tem de montão.
E pelas informação
O tá de gay é viado.»

«O amigo tá assustado
Arisco que só raposa,
Gay também é travesti
Fresco, bicha, mariposa,
Diva, dondoca, dengosa,
Marica, manso, mimosa
E viado, é a mesma coisa.»

«Não sei como voces ousa
Caçoar assim comigo
Duas minina bonita
Num tem medo de castigo?
Saiba que eu ressuscitei
Somente pra capar gay
Que gay é meu inmigo.»

«Pois voce é nosso amigo
E acabou de encontrar
Dois viados nessa praça
Mas não pode nos capar.
Tu perdeu essa parada
Pois nós não temos mais nada,
Já mandemos arrancar.

Mas nós vamos te levar
Lá no nosso movimento
Mais de quatorze mil bichas,
Vai ser um divertimento
Quando você chegar lá.
Se de algum arrancar
Vai ter agradecimento!»

«Deixe de farsejamento
Não quero conversar mais
Viado é caça do mato
E bicho lá tem de mais.
Essa conversa nojenta
Tá me dando dor nas venta
E saudade dos carrascais.»

«Não se aflija, rapaz,
Se não voce sai da linha,
Voce está entre amigos,
Nossa fome se avizinha
Vamos levar esse bofe
Pra comer um strogonoff
Com as nossas amiguinhas!»

«Já tá me dando a murrinha
Com esse seu cunversê,
Bem que o capitão me disse...
Onde é que eu fui me meter?!
Se quiser que estrague Onofre
Mas não me chame de bofe
Que isso é coisa de comer!»

«Nós vamos levar você
Numa passeata gay
Na Avenida Paulista,
Você vai gostar que eu sei.
Lá tem bicha portuguesa
Chinesa, mongol, francesa
E como nós tem nissei.»

Diz Labareda, «Não sei
Desse seu palavriado.
Inté que eu gosto de fême
E já tou necessitado
Mas só vou me atracar
Com voces quando eu capar
Meia duzia de viado!»

«Já que tu é complicado
Em nós não acreditou
Pois  nós vamos lhe provar
Pra voce como ficou:»
Levantaram seus vestidos
Com Labareda aturdido
E a cirurgia mostrou.

O cangaceiro surtou
Com o que acabou de assistir
As bichas aproveitaram
Para levá-lo dali
Quando ele limpou a vista
Já estava na Paulista
Cercado de travesti.

Todos morrendo de rir
Dele naquele momento
Ele sacou de um punhal
Mas não tinha fundamento
Elas a roupa tiraram
E para ele mostraram,
Nenhum tinha os documentos.

Lhes mostraram um movimento
Que havia do outro lado
As mulheres se beijando
Ele ficou assustado,
Lhe afirmaram com fé:
«Aquilo tudo é mulher
E não tem nenhum viado!»

Ele disse, «Tá danado!
Mas num pode ser assim
Mulher é pra beijar macho
E eu quero uma pra mim
Se Zé Baiano saber
Vai querer envivecer
E ferrá elas tudim!

Até que chegou enfim
Uns gays de calça e camisa
Quiseram lhe apresentar
Uns disseram: «Não precisa
Viemos aqui ligeiro
Pegar esse cangaceiro
E vamos dá-lhe uma pisa.»

Foram tirando a camisa
Mostrando os enormes peitos
Ele exclamou, «Isso é macho
Com as mamas desse jeito?
Disconjuro todo mundo!
Valei-me meu São Raimundo!
Eu vou simbora pro eito!

Se o mundo tá desse jeito
O diabo é quem quer vivê!
Que besteira essa minha
De querê envivicê!
Quem quiser que isso aceite!
Se aqueles peito tem leite
Eu é que num vou bebê!»

Uns disseram, «Tu vai ver
Agora outra arrumação!»
Aí baixaram as calças
Com cada par de culhão;
«Tu num veio nos capar?
Vai ter que anestesiar
Pra fazer a operação!»

No meio da confusão
Labareda não quis mais
Saber de nada e correu
Com os gays correndo atrás
Mas ele se escafedeu
E da carreira que deu
Foi parar nos carrascais.

Pensou, «Como é que se faz
Pra viver daquele jeito?
Tudo é muito diferente
Da nossa vida no eito
Naquilo eu num boto fé,
Mulher beijando mulher
E homi cheio de peito?

Eu preciso dar um jeito
De voltar pra imensidão!»
Excomungou os viventes,
Fez lá sua oração
Rastejou feito uma cobra
E morreu com a manobra
Que aprendeu com Lampião.
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 15/02/2017
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