José Medeiros de Lacerda

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Textos

A BRIGA DE MEIA NOITE COM LAMPIÃO
Desde que eu comecei
A escrever sobre o cançaço
Tenho me impressionado
Com tamanho estardalhaço
Envolvendo cangaceiro
No Nordeste Brasileiro
Que findou sempre em fracasso.

De vaqueiro bom no laço
A jagunço bom de tiro
O reduto da caatinga
Era sempre um bom retiro
Com coronéis e coiteiros
Mas são sempre os cangaceiros
Que no verso eu me refiro.

Se tem cangaço eu me viro
Para escrever suas histórias
A origem dos bandoleiros
Se derrotas, se vitórias
Vou contando um por um
Sempre num lugar comum
Entre atropelos e glórias.

Eu já contei a história
De um caso no sertão
Com Adolfo Meia Noite
Que entrou em confusão
Com filha de fazendeiro
E terminou cangaceiro
Por sua desilusão.

Bem antes de Lampião
Esse fato aconteceu
Essa história é mais recente
Porém mais velha eu,
Meia Noite outro bandido
Por Lampião protegido
E eu conto como se deu.

Tudo isso aconteceu
No sertão paraibano
Onde o pessoal vivia
Num regime sub humano
Violento e infeliz
Tempo que Otávio Mariz
Era um coronel tirano.

Já falei do desengano
Contado em dois cordéis
Da vez que Chico Pereira
Sofreu um grande revés
Vendo o pai assassinado
E ele marginalizado
Por políticos infiéis.

Pra enfrentar esse revés
Chico forma um batalhão
E ainda pede reforço
Ao bando de Lampião
Que se encontrava ferido
Por isso estava escondido
Em uma área do sertão.

Em ajuda Lampião
Manda o seu irmão Levino
Junto com Ezequiel
E um grupo em desatino
Destemida cabroeira
A ajudar Chico Pereira
No sertão dinossaurino.

Cumprindo o fatal destino
O troço saiu perfeito
O bando de Lampião
Levava tudo no eito
Foi tão grande a quebradeira
Que até Chico Pereira
Se assustou com o efeito.

E depois do contrafeito
Era hora de sair
Cerca de oitenta homens
Trataram de escapulir
E também Chico Pereira
Com a sua cabroeira
Se evadiram dalí.

Dos que estiveram alí
No ataque do sertão
A fina flor do cangaço
Do bando de Lampião,
Ezequiel e Levino
Zé Cachoeira, Sabino
Lua Branca e Barandão.

O Meia Noite em questão
Neste cordel relatado
Não é o que eu relatei
Em outro verso passado,
Antônio Augusto Feitosa
É a razão dessa prosa
Neste folheto rimado.

Tendo o fato consumado
Se evadiram do sertão
Para o Saco dos Caçulas
Onde estava Lampião
Convalescendo escondido
Sendo muito protegido
De tudo na região.

Retornando da missão
Pernoitaram nos caminhos
Perto da Fazenda Bruscas
No mato entre os espinhos
Mas sem movimentação
Pra não chamar a atenção
Dos outros sítios vizinhos.

Um cangaceiro sozinho
Aproveitando o revés
Chegou-se no Meia Noite
Isso na ponta dos pés
Sua capanga abriria
Surrupiando a quantia
De nove contos de réis.

Quando o Sol meteu os pés
E o dia anunciou
Ao começar a viagem
Meia Noite então notou
Que havia sido roubado,
O quiprocó foi formado
Daí o tempo fechou.

Meia Noite acusou
Um irmão de Lampião
De ter roubado o dinheiro
O chamando de ladrão
Já foi partindo pra briga
Daí formou-se a in triga
E aumentou a confusão.

Chegando então no grotão
Aonde estava escondido
Lampião convalescente
Com mais alguns protegidos
Sabendo da confusão
Tentou uma solução
De modo mais comedido.

Estava mesmo decidido
A tudo aquilo acabar
Ele mesmo prometeu
Os nove contos pagar
Porém impôs condições,
As armas e munições
O outro tinha que pagar.

Meia noite ao repensar
Aquela situação
Disse: «Eu entrego a arma
E caio morto no chão
Perco o dinheiro e a vida.»
E de forma decidida
Apontou pra Lampião.

Dizendo, «Entrego não,
Seu bando de infiéis!
Se eu entregar minhas armas
Cairei morto aos seus pés.
Já chega de tre-le-lê,
Acho bom me devolver
Meus nove contos de réis.»

Já pensando no revés
Lampião à sua maneira
Pensou, se ele atira em mim
Vai virar uma peneira
Mas eu também vou morrer.
É melhor obedecer
Para não fazer besteira.

Disse: «Deixe de bobeira
Vire essa arma pra lá,
Se tu atirar em mim
Meu bando vai te linchar.»
O outro disse: «Não relevo
Pois pro inferno eu te levo
Comigo no calcanhar!»

Lampião resolve pagar
Para acabar o desmando
Sabia que Meia Noite
Não estaria blefando
E pra que todos ouvissem
Mandou que o negro saísse
Deixasse de vez o bando.

O negro foi se esquivando
Sempre com a arma apontada
Para o chefe do cangaço
Que ordenou à cambada
Não fazer nenhuma ação
Que o outro tinha razão
E sempre foi camarada.

Com a causa solucionada
Meia Noite endiabrado
Deixa o Saco dos Caçulas
Aonde estava arranchado
E segue outra direção
Mas na mesma região
Da Serra do Pau Ferrado.

O negro escolheu errado
Ficar nessa região
Devido o ataque a Souxa
Houve uma aglomeração
Polícia em todo lugar
Todos querendo pegar
O bando de Lampião.

Mas do negro a decisão
É que em meio a ziguezira
Lá no Saco dos Caçulas
Tinha o Sítio Tataíra
E a filha de um sitiante
Que era a sua amante
E se chamava Zulmira.

Lá do Sítio Tataíra
Ele nunca mais saiu
Mas essa história é bem longa
E muito ele resistiu
Até entregar os pontos,
Mas noutro cordel eu conto
Como ele sucumbiu.
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 12/07/2015
Alterado em 14/07/2015


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