José Medeiros de Lacerda

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Textos

CANDEEIRO O CORREIO DE LAMPIÃO
Mais uma história colhida
No nordeste brasileiro
Quando o povo era sujeito
A volante e cangaceiro
Vida, morte e confusão
De um cabra de Lampião
Por nome de Candeeiro.

Seu papel de mensageiro
No bando de Lampião
Sempre lhe expunha ao perigo
De sofrer uma traição
Mas o medo de vingança
Lhe garantia a chegança
Nunca perdeu uma missão.

Candeeiro no sertão
Nunca foi homem valente
Tinha uma vida pacata
Ao lado de sua gente
Estava sempre comentando
Que só entrou para o bando
Devido a um acidente.

No seio de sua gente
Nunca foi o Candeeiro,
Manoel Dantas Loiola
O seu nome verdadeiro
Né, o povo lhe chamava
Na roça ele trabalhava
E era excelente vaqueiro.

Pernambuco era o celeiro
Do cangaço nordestino
Os maiores cangaceiros
Tiveram ali seu destino
Assim como o Cabeleira
Os filhos de Zé Ferreira
Dentre eles Virgolino..

Todo sertão nordestino
Tem um causo cangaceiro
Pernambuco teve mais
Por nascer mais bandoleiro
Buíque imortalizou-se
Por ter dois que destacou-se,
Jararaca e Candeeiro.

Quando um grupo cangaceiro
Do grupo de Lampião
Passando em uma fazenda
Encontrou um batalhão
Formou-se um tiroteio
O espernegue foi feio
Bala em toda direção.

Naquela ocasião
Manoel tava na fazenda
Teve que se esconder
Pra escapar da contenda
No fim do panavueiro
Fugiu com os cangaceiros
Pra evitar reprimenda.

No fim de toda contenda
Entre volante e cangaço
Com a fuga dos cangaceiros
Fosse vitória ou fracasso
Quem ficasse no local
Polícia baixava o pau
No maior estardalhaço.

Zelando pelo espinhaço
Manoel foi com os cangaceiros
Passou uns dias seguindo
O bando no tabuleiro
Até ser apresentado
Ao chefe e batizado
Com o nome de candeeiro.

No seu combate primeiro
Candeeiro foi baleado
Com um balaço na coxa
Mas logo ficou curado
Com pimenta esmagada
E farinha peneirada
Não ficando deformado

Quando estava baleado
Chegou a ocasião
Que ele tanto esperava
De conhecer Lampião
Que sempre afastado esteva
E nunca se misturava
Muito tempo com o grupão.

Depois da apresentação
Lampião ficou sabendo
Que ele era Buíque
Sorridente foi dizendo:
«Sua cidade não é fraca
Pois já me deu Jararaca
Que morreu me defendendo.»

Candeeiro convalescendo
Já recebeu a missão
De levar cartas escritas
Pelo chefe Lampião
A coronéis e coiteiros
Comerciantes, fazendeiros,
Lhes pedindo doação.

Nunca perdeu uma missão
Sempre trouxe resultado
Com isso ele conquistou
O chefe desconfiado,
Onde Lampião estava
Maria lhe acompanhava
E Candeeiro de um lado.

Quando estavam acampandos
Em Angicos, Alagoas
Candeeiro comentou
Que a toca não era boa
Podiam mudar de lugar
Lampião disse «Tu tá
Se preocupando á toa.»

A coisa não estava boa
O chefe desanimado
Ia reunir o grupo
Para um comunicado
Lhes davam autonomia
E ele se afastaria
Que estava muito cansado.

Estava preocupado
Com a falta de segurança
Os «macacos» nas estradas
Tinham arma em abundância
E eles na capoeira
Não podiam dar bobeira
Nem cair numa matança.

O claro do dia avança
Era hora de acordar
Candeeiro se levanta
Vai lá fora urinar
Viu Lampião no terreiro
Ouviu o tiro certeiro
E viu o chefe tombar.

Só deu tempo de abaixar
E correr todo mijado
Faiscas por todo canto
Com bala pra todo lado
Gente no chão se arrastando
Ele desceu atirando
Correndo desesperado.

Ainda foi baleado
No braço, mas não ligou
No eito Maria Bonita
Com outros também tombou
A volante em euforia
Com Lampião e Maria
Por isso ele escapou.

No mato se amocambou
Até que o braço sarasse
O governo prometeu
Salvar a quem se entregasse
E prometiam também
Não atirar em ninguém
Se ninguém mais atirasse.

Criou-se então um impasse
No meio do tabuleiro
Uns seguiram com Corisco
Continuando cangaceiro
Outros sem querer brigar
Resolveram se entregar
Entre eles, Candeeiro

Seguiram como romeiro
Pela estrada caminhando
Com o braço na tipóia
Candeeiro ía andando
A policia os encontrava
Um por um os desarmava
E seguia acompanhando.

Em Jeremoabo entrando
Parecia uma procissão
O povo os acompanhava
Sem briga, sem confusão
E dezesseis cangaceiros
Seguindo o mesmo roteiro,
O caminho da prisão.

O governo deu o perdão
Não assassinou ninguém
Passaram dois anos presos
E o candeeiro também
Cumpriu a pena num pique
Saiu de iá pra Buíque
Tornou-se um homem de bem.

Se instalou com um armazém
De estivas e cereias
Manoel Dantas Loiola
Morando com os seus pais
Não quis mais ser cangaceiro
E por nome Candeeiro
Não atendeu nunca mais.

Vivendo nos carrascais
Do lugar onde nasceu
Seu Né construiu família
Daquele tempo esqueceu
E ainda cheio de planos
Com noventa e sete anos
Em Buíque faleceu.

Dois anos ele viveu
No cangaço ao relento
Dois anos em jeremoado
Na condição de detento
Se alguém nisso falava
Ele apenas comentava:
«Foi tempo de sofrimento.»
    
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 12/07/2015
Alterado em 14/07/2015


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