José Medeiros de Lacerda

Leia poesia - A poesia é o remédio da alma

Textos

CINTA LARGA, O MASSACRE DO PARALELO 11
Brasil que foi descoberto
Por Pedro Álvares Cabral
Depois foi se transformando
Em potência nacional
Até virar um pardieiro
E o que era brasileiro
Virou internacional.

Mas quando era Portugal
Quem comandava a Nação
Índio era catequizado
Não havia corrupção
E mesmo levando ouro,
Roubando nosso tesouro
Não tinha tanto ladrão.

Essa tal corrupção
Não havia por aqui
O povo era primitivo
Havia a raça Tupi
Tapuia, Tupinambás
Parintintins, carajás
Aymorés e Guarani.

A grande nação Tupi
Logo se proliferou
Pelo Norte do Brasil
Muito se ramificou
Entre conquista e invasão
Geração a geração
Muitas tribos se criou.

Carajás sempre imperou
No Norte com parcimônia
Parintins na Grande Ilha
É tradição na Amazônia
Desde a Serra Paracaima
Tem Yanomami em Roraima
E Cinta Larga em Rondônia.

Bem famosa na Amazônia
Onde se proliferaram
A tribo dos Cinta-larga
Esse apelido ganharam
Desde a primeira invasão
E depois a Fundação
Do Índio a registraram.

Esse apelido ganharam
Por usarem o «tauari»
Cinta feita do entre-casca
De uma árvore dali
São índios desbravadores
Grandes grupos caçadores
Oriundos do Tupi.

Chegaram a dividir
Grande parte da Amazônia
Do Noroeste em Mato Grosso
Até o Leste de Rondônia
Em três grupos: o Kabã
Grupo Kakim e o Mã
Três festas com cerimônia.

Três tribos da Amazõnia
Com algumas subdivisões
Mas com os mesmo costumes
Nas festas e tradições
Língua do tronco tupi
Bem falada por ali
Com poucas variações.

Essas subdivisões
No idioma tupi-mondé
São também compartilhadas
Desde o baixo Guaporé
Em escala bem pequena
No Rio Branco, Juruena
Juína e Camararé.

Tribos Surui-Paiter
Os Zorós, os Gaviões
Vizinhos dos Cintas-largas
Sofreram variações
No idioma, na agricultura
Na caça, pesca, cultura
Costumes e tradições.

Ao fazerem plantações
Os homens abandonavam
As lavouras sem capina
Que no mato se criavam
As mulheres que colhiam
Às vezes até perdiam
O que os maridos plantavam.

Quando a terra se esgotava
Mudava-se de local
Às vezes até conflitos
Criavam no matagal
Quando um grupo invadia
Terreno onde outro existia
Guardando um manancial.

O habitat natural
Onde Cinta-larga havia
No fim dos anos cincoenta
Ainda compreendia
Uma faixa não tão pequena
Do Rio Roosevelt ao Juruena
Onde outro grupo existia.

Antigamente viviam
Em conflito permanente
Com outros grupos indígenas
Defendendo o seu ambiente
Muitas vezes guerreavam
E essas guerras resultavam
Na morte de muita gente.

Em sessenta infelizmente
Foram vítimas de invasões
Muitas fronteiras agrícolas
Ocupando regiões
Que ao índio pertencia
O homem branco invadia
Para fazer plantações.

Também as explorações
De recursos naturais
Por toda região Norte
E a caça aos animais
Teve como resultado
Muito índio assassinado
Cinta-larga e outros mais.

Os donos de seringais
Eram os exploradores
Para se livrar dos índios
Contratavam matadores
E essas atrocidades
Extinguiu comunidades
Por aqueles arredores.

Mas ninguém tomou as dores
Pelo índio assassinado
O Estado Brasileiro
Foi até denunciado
Internacionalmente
Por dizimar tanta gente
Sem apresentar culpado.

Um fazendeiro afamado
Chamado Antônio Junqueira
Na ganância por dinheiro
Matava por brincadeira
Para expandir os seringais
Explorar os minerais
E para extrair madeira.

Tribo Cinta-larga inteira
Foi vítima desse homicida
Homem, mulher e criança
Todos perderam a vida
Paralelo 11 sem glória
Foi massacrado e a história
Assim ficou conhecida.

Esse Junqueira homicida
Foi até denunciado
Por praticar genocídio
E declarado culpado
Mas por ser uma potência
E ter muita influência
Não sei se foi condenado.

O Cinta-larga contado
Pelos recenseamento
No ano 2003
Havia Hum mil e trezentos
Dois mil e dez se contou
E a população passou
Para hum mil e seiscentos.

Trinta e três aldeamentos
Em Mato Grosso e Rondônia
Usando a mesma cultura
Costumes e cerimônia
Mas mesmo sendo briguentos
São vítimas de violentos
Ataques na Amazônia.

Eu já citei que em Rondônia
Índios foram massacrados
Lá no Paralelo 11
Por bandidos comandados
Em combates violentos
Estupros, enforcamentos
E até envenenados.

Os bandidos tocaiados
Observavam a aldeia
Enquanto eles dormiam
Tranquilos como sereia
Quando amanheceu o dia
Começou a agonia
Numa saraivada feia.

Pouco sobrou da aldeia
Depois da destruição
Uma índia conduzindo
Uma criança pela mão
Sem poder se defender
Viu seu filhinho morrer
Com um tiro no coração.

Depois de uma confusão
Pelos bandidos gerada
Sobre o que fazer com ela
A índia foi pendurada
Pelos pés, alta do chão
E depois com um facão
Ali mesmo esquartejada.

Uma aldeia dizimada
E ninguém se dignou
A contar quantos morreram,
A imprensa só falou
Que grileiros e posseiros
Se uniram a garimpeiros
E a aldeia incendiou.

Um dos que participou
Do massacre na aldeia
Contou detalhes de tudo
Disse que a coisa foi feia
O chefe Chico Luís
Fez tudo como ele quis
E como lhe deu na veia.

Só gritava, «Mete a peia!»
Era grande o desvario
Era matando e jogando
Todos os corpos no rio
Quem fugisse da surpresa
Caia na redondeza
E vivo ninguém saiu.

Quando enfim se conseguiu
Acabar com o derradeiro
Os assassinos partiram
Pra casa do fazendeiro
Pois pelo que praticou
Cada jagunço embolsou
Uns cinquenta mil cruzeiros.

Por causa do seringueiro
Que encomendou a chacina
Os índios se revoltaram
Fizeram uma carnificina
Lá mesmo mo matagal.
Quem foi atrás do metal
Cumpriu alí sua sina.

Aonde o mal predomina
Nada de bom se resolve
Os Cintas-largas armados
No mato se locomove
Com seus melhores guerreiros
Atacaram os garimpeiros
E mataram vinte e nove.

Se a Justiça não resolve
Com imparcialidade
Ficando só de um lado,
Há essa desigualdade
Entre os assassinados
Só brancos foram contados
E enterrados de verdade.

A cobiça e a maldade
Cometeu esse displante
Matando e roubando índio
Numa proporção gigante.
Por sorte triste e amarga
A terra dos Cintas-largas
É cheia de diamante.

A formiga e o elefante
Nunca podem fazer guerra
Assim é na Amazônia
Onde a ambição encerra
Ódio, cobiça e bravata
Se apoderando da mata
Matando os donos da terra.

A burocracia emperra
Permitindo o desvario
Os potentados se valem
Dessa política vil
Que chamam democracia,
Mas é só demagogia
Que destrói nosso Brasil.

SIGNIFICASDO DE ALGUMAS PALAVRAS
E EXPRESSÕES DESSE POEMA

Pardieiro - caos, algo descontrolado
Parintins - Cidade ilha no baixo Rio Amazonas
onde acontece em junho um dos maiores even-
tos culturais do país, A Festa do Boi Bumbá.
Entrecasca - película existente entre a casca e
a madeira das árvores. sempre quase usada
como remédio pelos nativos.
Kabã, Kakim e Mã ou Mon - Subdivisões da
tribo Cinta-larga.
Tupi-mondé - um dialeto tupi
Tradição indígena: o homem planta a
mulher colhe.
O Paralelo 11 Sul é um paralelo no 11° grau a
sul do plano equatorial terrestre. Um ponto da
fronteira Brasil-Peru é definido justamente por
estar à latitude 11º Sul.
Um dos... - Ataíde Pereira dos Santos, seringuei-
ro e jagunço que participou do massacre do
Paralelo 11, mas só foi processado por extração
de madeira (mogno) da região..

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 12/07/2015


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