O MASSACRE DE CORUMBIARA
Massacres pelo Brasil
Não são coisas do passado Desde a colonização Que existe conflito armado Sempre há motivo pra guerra. Com o início dos Sem terra Vez por outra há massacrado. A Guerra do Contestado Guerra de Porecatu Revolta dos Marimbondos Outro grande sururu Quilombolas, Conselheiro A caça ao cangaceiro Começou no Pajeú. Em Carajás o rebu Matou gente de coivara Julgamento a criminoso Nesse caso é coisa rara Falar de tudo eu me atrevo E neste cordel descrevo O massacre em Corumbiara. A história não é rara O país todo conhece Mas esse tipo de história Que raramente acontece Vira manchete em jornais Inquéritos policiais Porém logo o povo esquece. Mas quando eu sei que acontece Estudo o que se passou Pra transformar em poesia Pois à História dou valor E descrevo com afinco: No ano noventa e cinco Essa encrenca começou. A notícia se espalhou Que lá em Corumbiara A Fazenda Santa Elina Seu dono desocupara Não achando comprador Então logo a destinou Para a reforma agrária. O MST se prepara Para a ocupação E haja chegar sem terra Começando a invasão Mas de quinhentas famílias E o movimento nas trilhas Rural, jeep e caminhão. Do outro lado a ação Pelos outros fazendeiros Era contratar soldados Lhes pagando um bom dinheiro Pra reforçar a resistência Inibindo a permanência De grileiros e posseiros. Os sem terra mais ordeiros Escrevem ao governador Denunciando o clima tenso Que por ali se formou Foi uma denúncia banal, Que a Sociedade Rural A isso se antecipou. Sociedade bajulou Tanto que Vossa Excelência Deu reintegração de posse Imediato, com urgência Tropas foram deslocadas E áreas foram tomadas Debaixo de violência. Demonstrando inocência Os sem terra se espalharam Enquanto os policiais Seu acampamento armaram Armas potentes portando E obediente o comando Pacientemente esperaram. Sem terras também se armaram Só esperando a lambança Quarenta homens armados O grupo de segurança A polícia já previa E era o que ela queria Pra começar a matança. Havia na tal lambança Guaxeba em ambos os lados (Era jagunço em Rondônia) Que podiam andar armados E eram pagos pra fazer Sumir, desaparecer Desafetos ou intrigados. O tiroteio formado Gente rolando no chão Dia nove de agosto Estava feia a confusão A polícia em maioria Bem antes do meio dia Dominou a situação. Começa a execução Psicológica e abusiva O empilhamento dos corpos Gente morta e ainda viva Empilhavam por prazer Vendo os feridos sofrer Numa sanha compulsiva. Policiais da ativa Outros que se contratou Pra eliminar os sem terra Numa cena de terror Muito sangue ali correu, No lugar que aconteceu A nódoa no chão ficou. Onze mortos se contou Com mais dois policiais Isso é o que foi escrito Nos registros oficiais Mas algum sobrevivente Esses números desmente, Diz que morreu muito mais. Um que estava entre os demais Zé Carlos Leite Ferreira Que escapou do massacre Contou à sua maneira O que pôde constatar Ao ver, sentir e escutar O clamor na bagaceira. Via gente na carreira Na madrugada caindo Uns tentavam se arrastar Outros em galhos subindo Alguém gritando dizer «Por Deus, não quero morrer!» Já em sangue se esvaindo. Aquilo tudo ele ouvindo Pedindo a Deus proteção Enxergava policiais Vindo em sua direção Ele se desesperava Lentamente se arrastava Quase enterrado no chão. Sérgio Rodrigues, Serjão, Baleado no desvario Levado pela polícia Pra onde, jamais se viu, Dezoito dias passado Seu corpo foi encontrado Boiando dentro de um rio. No corpo ainda se viu Lá mesmo em Corumbiara Várias marcas de tortura E de execução sumária São os traços do progresso Desse imenso retrocesso Que chamam reforma agrária. A classe latifundiária Esses grandes pecuaristas Promovem desmatamentos Estão numa suja lista Fazem tudo e fica oculto Deles não se ver nem vulto, Só o pobre dá na vista. Jornal, TV e revista Só estavam preocupados Durante esse movimento Com a morte dos dois soldados Sem terra. deixa pra lá, O importante é encontrar Os verdadeiros culpados. Logo dois indiciados Escolheram pra acusar Cícero Pereira leite Que estava a comandar E que elaborava os planos, Claudemir Gilberto Ramos Que estava a auxiliar. Foram a juri popular Dez Pms, dois sem terra Sem balística, sem perícia Só pelo clima de guerra Um troço bem complicado, Foi o juri mais fraudado Que a nossa história encerra. Quando uma coisa se emperra Em torno de fantasia Era o clima desse juri Pois o povo já previa O fim do acontecido, Soldado era absolvido, Só sem terra pagaria. O interior fervia Num clima tenso, infernal, Resolveram transferir O juri pra capital Pois mais segurança havia Porto Velho nesse dia Deu férias municipal. Do lado policial Era feia a situação Rondõnia não tinha meios Pra fazer investigação Batalhão não se ordenava Nem mesmo se controlava Saída de munição. Um médico do batalhão Ao chegar no acampamento Chocou-se vendo civis Junto do policiamento Portando armas potentes Caminhando livremente Igual ao destacamento. Mas descobriu no momento Depois de investigar Que aqueles eram jagunços Habitantes do lugar Pagos pelos fazendeiros Para expulsar os posseiros Ou quem mais se aproximar. Mas ao juri popular Nenhum se comprometeu Os jagunços criminosos O fazendeiro escondeu Só sem terras e soldados Que são assalariados Foi quem crime cometeu. O clima então se inverteu Quando o promotor surgiu Logo no primeiro dia Proclamando em tom viril «Isto aqui é uma guerra, Brasil, acabe os sem terra, Ou eles acabam o Brasil!» Foi assim que se previu Como tudo ia acabar Mesmo quem foi condenado Hoje vive a trabalhar Os fazendeiros crescendo Jagunços obedecendo E a vida a continuar. Fim do juri popular Houve até condenação Os sem terra, dois soldados E também um capitão Que foi despatenteado Porém logo aposentado Por ter servido à Nação. Toda essa confusão No início começou Com um latifundiário Que aos jagunços armou E as tropas de Santa Elina Pra fazer a tal chacina Ele mesmo incentivou. Era um tal de Antenor Latifundiário paulista Em Mato Grosso e Rondônia Era um grande pecuarista Fundador na região Da seccional da União Democrática Ruralista. Os jornais e as revistas Já o conhecia de perto Por ser um desmatador Deixando a mata um deserto Fazia e acontecia E tudo se escondia Até que foi descoberto. Fazendo um retrospecto Do que aqui já foi versado A Guerra de Corumbiara Há vinte anos passados É um retrato do Brasil Pois aqui sempre existiu Esses confrontos armados. Camponeses destinados Seguiam pela campina Na intenção de invadirem A Fazenda Santa Elina Na certeza que invadiam Sem suspeitar que seriam Vítimas de uma chacina. Logo cedo da matina Tem início a tal lambança No dia nove de agosto Quando acontece a matança Com treze mortos na guerra Dois PMs, dois sem terra E ainda uma criança. Em Rondônia a esperança De ver tudo se acabar Ficou perdida no tempo Pois se comenta por lá Que o Estado sem resistência Em termo de violência Já desbancou o Pará Ainda há muito a contar Desse caso acontecido Como a menina Vanessa Que teve o corpo rompido Quando do fogo corria E que no chão padecia Cinquenta e cinco feridos. Outros fatos ocorridos Como ossos calcinados De esqueletos humanos Como ficou comprovado Depois de avançado estudo E mulher servindo de escudo Para proteger soldado. O Brasil tá abandonado Dá pra todo mundo ver Crianças se prostituindo Sem os pais poder deter Preso é quem dá o recado E o livre em casa enjaulado Temendo fora morrer. Esse tal MST Foi uma grande armação Criada pelo PT Quando era oposição E agora no poder Não consegue mais deter Essa chaga da Nação.
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 12/07/2015
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