A SAGA DE UM BROCOIÓ NA PRAIA DE CAMBOINHA
Trecho do Cordel:
Camaleão é um bicho Integrado à natureza Muda de cor com o clima Para evitar surpresa Se outro bicho lhe atacar Fica mais fácil escapar Mais difícil virar presa A nossa Mãe natureza Difere por região O povo do litoral Não entende de sertão E o sertanejo pé quente Tem costumes diferentes Da tal civilização. Nessa minha profissão De professor veterano Tenho viajado muito Sempre no final do ano Com alunos concluintes Pra lugares de requintes Religioso e profano. Pensando,fazendo plano, Vou agora me valer Do oficio de poeta Para tentar escrever uma história De aventura sem glória Que eu vi acontecer. No humano o proceder Não é tal camaleão Principalmnte o matuto Nascido lá no sertão, Mesmo tendo estudado Fica meio ababacado. Frente a civilização. Numa certa excursão Que fiz a joão pessoa Presente de um politico A uma moçada boa Uma semana inteirinha Na praia de camboinha Beber e fica à toa. Camboinha em joão pessoa É local bem frequentado E também a moradia Do político citado Que escolheu pra hospedar A turma perto do mar Em um bar abandonado. Depois do gupo instalado Começou a se espalhar Uns já bem ambientados Saíram em busca do mar Alguns ficaram bebendo Outros ainda temendo procuravam disfarçar. Quem nasce pra caçuar Não adianta por sela Por mais que haja esforço Finda fazendo mazela Chegando noutro ambiente Termina sempre aparente Do sertanejo a sequela. Até parece novela O causo que vou contar Mas é fato real Não estou aqui pra aumentar Só quero mostra melhor A saga de um brocoió Chegando na beira mar Primeiro quero explicar O que seja um brocoió É um sujeito simplório Nascido no cafundó Que por mais que se aventura Pra chegar em Formosura Não passa de Brogodó. Esse aluno brocoió Ao chegar na maresia Quis dar uma de bacana Fingindo que conhecia Os traquejos da paquera Mas todos viam que era Mais um falso malaquia. Tudo que ele fazia Logo chamava àtenção Até a roupa de banho Parecia um cuecão Pelas areias gingando Correndo, serpenteando, Era ver um formigão. Começou a confusão Quando ele quis paquerar Uma louraça formosa Que acabava de chegar Do tipo siliconada Cabeça oxigenada Colírio pra quem olhar. O cabra chegando lá Disse: «Agora me dou bem Eu sou bonito e gostoso Faceiro como ninguém, Vou mostrar com argumento Para esse monumento O que o sertanejo tem.» E nesse terém-tem-tEm Achando a hora propícia Querendo assim demonstrar Do seu molejo a perícia Todo ancho, todo prosa, Junto da loira formosa Foi deitando com malícia. A tal loira fictícia Se aguentando pra não rir Com o sujeito amatutado Que lhe apareceu ali Fingiu que lhe dava trela Ele já abraçou ela Convidando-a pra sair. Também pertinho dali Três sujeitos corpulentos Da galega companheiros Observava o momento Que o matuto alvoroçado Se deitava do seu lado Já falando em casamento. Quem já viu um papa-vento, Um bode pai de chiqueiro Um pombo arrulhando a pomba Ou um galo no terreiro Na hora do reboliço, Pois quem já viu tudo isso Esteja vendo o beradeiro! Se levantando primeiro Pegou ela pelo braço Ajudando a levantá-la Já foi lhe dando um abraço Excitado e com desejo Tentava lhe dar um beijo Mas ela fugiu do laço. Sem fazer estardalhaço Os outros se levantaram Caminhando lentamente Do casal se aproximaram Ela entendendo o riscado Afastou-se para um lado Dele os outros se acercaram. Calmamente perguntaram: - Que é que há, meu camarada? O outro falou seguro Como quem topa a parada: - Não se metam, vão passando, Não vê que estou conversando Com a minha namorada? Dando uma gargalhada A loira se aproximou Abraçando o beradeiro Foi dizendo: «Calma, amor! Deixe eu lhe explicar direito Quem são esses tres sujeitos Que a nós dois atrapalhou! O primeiro é nicanor De judô é campeão O terceiro é Karateca Todos dois meus irmãos E esse mais desenvolvido , O do meio é meu marido, Tá feita a apresentação.>> Foi segurar sua mão Porém ele escapuliu Os outros também tentaram Mas o sujeito fugiu Pela praia se esvaindo Com os outros perseguindo Daí nada mais se viu. Só depois se descobriu Onde ele estava entocado Dentro da mala do Ônibus Que estava estacionado E ali ficou escondido Sujo como um desvalido Branco que só finado. No tal bar abandonado Ficou sem poder sair Temendo que o quarteto Pudesse lhe descubrir Só no fim da excursão No caminho pro sertão Ele voltou a sorrir. Nem deu para descobrir Com esse entrevero passado Na galega gostosona Por quem estava apaixonado O nó na garganta dela Pois a suposta donzela Era um baita veado. Nove anos são passados E disso ele não esquece Quando ver uma galega O pobre chega estremece Se falar em Camboinha Sai pra dar uma voltinha E logo desaparece. Essas coisas acontecem Por falta de informação Quem toma banho em riacho Não passa o pé pela mão Querendo nadar no mar Pois é certo que o lugar De matuto é no sertão. Somente o camaleão Usa a cor que lhe compete O drama de Camboinha Até hoje nos diverte Mas é bem certo o falsete: Quem nasce para trinchete Nunca chega a canivete! Quero contar para vocês Aquilo que descobri... Ser eternamente jovem Não é difícil, senti. Sorrir sempre com alegria, Viver com intensidade, Não importa os nossos anos, Mas nossa jovialidade. É da maior importância, De juventude entender - Coração não envelhece Se o fizer de amor bater! Ame sempre tudo e todos, Que estiverem ao seu redor, Semeie a paz e a concórdia, Dê de si sempre o melhor. Transmita os ensinamentos Que a vida lhe ensinar, Sua bagagem e vivência, Coisas que vivenciar. Dignidade e respeito Sejam o seu maoir legado, Serão a maior fortuna Que você terá deixado Quantas e linda histórias Não teremos par contar? Estradas quepalmilhamos Para esta idade alcançar... Orgulho sejam as rugas Que uma a uma ganhamos. Felicidades e dores? Quantas.quantas já passamos. Logenvidade é a certeza De ter o monte escalado Colocar nosso pendão No mastro,ao vento agitado. Quem saber por que O cabelo embranqueceu Terá que viver também, Tudo que agente viveu. Tantas e tantas vitórias Não foram fáceis conseguir; Foi preciso muita luta, Ora chorar, ora sorrir... Vou contar um segredinho... Pra chegar até aqui, Tem que ser jovem primeiro... E viver o que eu vivi. A alma sim é eterna, Não tem rugas, nem tristeza. Vive em cada um de nós, Disto podem ter certeza. Vivo despreocupada, Cada dia, um dia a mais; Se eu partir, tenho a certeza, Minha alma vai atrás!
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 18/02/2012
Alterado em 29/07/2014 Copyright © 2012. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |