José Medeiros de Lacerda

Leia poesia - A poesia é o remédio da alma

Textos

AS PERGINTAS IDIOTAS E AS RESPOSTAS DE SEU LUNGA - PARTE 2
Continuando a história
Que versei de uma entrevista
Com Seu Lunga em Juazeiro
Junto com uma jornalista
Deixo aqui alguns rompantes
Perguntas ignorantes
E as respostas do popista.

Até uma grande revista
Já tomou conhecimento
De Seu Lunga intolerante
O assunto do momento
Norte, Sul, pra qualquer lado
Ele é sempre comentado
Seja qual for o evento.

Em seu próprio casamento
Lunga também aprontou
Mesmo diante do altar
O homem se enfezou
Deixou todos com vergonha
Na hora da cerimônia
Quando o padre perguntou:

Essa mulher, meu senhor,
Tu aceitas, diga sim
Como legítima esposa?
Lunga respondeu enfim:
- Não sei porque perguntar,
Isso é o mesmo que indagar
Se jumento quer capim

Para o padre disse assim:
- Eita povo fofoqueiro!
Veja que pergunta boba
Desse padre presepeiro!
Pois respondo sem demora:
Eu vou aceitá-la agora
Como minha mãe primeiro.

No centro de Juazeiro
Seu Lunga o carro encostou
Começou a caminhar
Uma amiga o abordou:
- Seu Lunga, por onde andas
Sozinho por essas bandas?
A amiga perguntou.

Seu Lunga então parou
Pondo a moça na berlinda
E respondeu resmungando
Àquela coroa linda:
- Se tu prestar atenção
Ver que eu ando pelo chão
Pois não sei voar ainda!

Nas suas idas e vindas
Em Juazeiro do Norte
Um dia seu Lunga estava
Martelando num suporte
Uns pregos enferrujados
Alguns deles entortados
Com um martelo bem forte

Pra sua falta de sorte
Ia passando um soldado
Vendo seu Lunga no sol
E já bastante suado
Vendo que o homem parou
O soldado perguntou:
-O negócio tá parado?

Lunga respondeu zangado:
- Mas que perguntinha vil!
O meu negócio está firme
Por enquanto não caiu
Tá no lugar que nasceu
E ali mesmo cresceu,
De lá nunca mais saiu.

Outro camarada viu
Seu Lunga batendo pregos
Perguntou:- Estás pregando?
Lunga respondeu:- são cegos?
E pra desmoraliza-los
Começou a insultá-los
Acabando com seus egos.

Aí respondeu: - Não nego,
Eu estou a martelar
O meu dedo que está troncho.
E aprumou num lugar
Continuou insultando
O martelo levantando
E o meteu no polegar.

Seu Lunga foi ajeitar
Sua própria encanação
No armazém que estava
Dando grande infiltração
Maior foi a agonia,
O velho passou o dia
Nessa canalização.

Lunga fez até serão
Consertando vaso e pia
Trocando os canos furados
Resmungando mas fazia
Já perto de terminar
Pra completar seu azar
Inda faltou energia.

Uma vela ele acendia
Veja só que sofrimento
Consertou a encanação
Deixando-a sem vazamento
E mal ele terminou
Um vizinho ali chegou
Pra aumentar seu tormento.

Bem no exato momento
Que Seu Lunga resmungão
Já guardava as ferramentas
Concluindo a instalação
O vizinho que chegou
De repente perguntou:
- Terminou a encanação?

Rosnando que só um cão
Lunga respondeu na hora:
- Num tá vendo, meu vizinho,
Que vou começar agora?
E com o martelo na mão
Quebrou toda instalação
Brabo que só um caipora.

Relógio que marca hora
Tem muito na loja dele
Um freguês chegou dizendo:
- Por favor, me mostre aquele,
O velho logo o pegou
O freguês lhe perguntou:
Posso tomar banho com ele?

Seu Lunga do lado dele
Sentado num tamborete
Respondeu assim pro cabra:
Ora bolas, seu cacete,
Um relógio tou vendendo,
Por acaso tu tá vendo
Aqui algum sabonete?

Lunga é cheio de cacoete
Irado como ele é
Um cabra chegou pra ele
No velho botando fé
Com um tom bem camarada
Lhe perguntou,- Essa estrada,
Ela vai pra Canindé?

Seu Lunga ficou de pé
Zangado disse ligeiro:
- Ela nunca se arrancou
Pra sair sem paradeiro
Mas te digo, seu peralta
Se ela for vai fazer falta
Pro povo de Juazeiro!

Do hospital pioneiro
Lunga saiu de repente
Um velho se aproximou
Perguntando imbecilmente:
Lunga você passou mal?
Saindo desse hospital,
Acaso tava doente?

Lunga o olhou ferozmente
Respondeu:- Resto de aborto,
Você é um idiota.
Que pensamento mais torto!
Se eu, conforme seu critério,
Saísse de um cemitério,
Por acaso estava morto?

Seu Lunga chegou do Horto
Viu a esposa sentada
Na porta da casa dele
Atrapalhando a entrada
Com a agulha tricotando
Lunga ficou resmungando
E entrou sem dizer nada.

Mas logo de madrugada
Lunga mandou assentar
Uma porta bem do lado
Da outra e pôs-se a falar
- Passaremos por aqui
E essa porta daí
Fica só pra tricotar

Pra uma conta cobrar
Um rapaz apareceu
Dizendo:- Meu caro Lunga,
Sua promissória venceu.
Lunga respondeu na hora:
- Não torço por promissória
Esse time não é meu!

Essa aqui aconteceu
Em uma churrascaria:
Lunga chegou no balcão
Pediu uma cerveja fria
O garçom lhe respondeu:
Hoje não dar, freguês meu
Está faltando energia.

Cheio de malicunia
Seu Lunga a esbravejar
Batendo forte na mesa
Disse pra o rapaz do bar:
-Oh, cara num sei de que,
Eu vim aqui pra beber,
Num foi pra choque tomar!

Pra o folheto terminar
Vou contar da pescaria:
Seu Lunga estava pescando
Numa lagoa que havia
Quando chegou um matuto
Perguntando ao velho bruto:
-Dá peixe nessa água fria?

Lunga cheio de maestria
Foi dizendo: Oh seu gaiato,
Num tá vendo que aqui dá
Peba, ticaca, até rato?
Se você quiser pescar
Aqui não é o lugar
Pois peixe aqui dá lá no mato!

Lunga existe de fato
Apesar do converseiro
Conversador, boa praça,
Enfim, um bom companheiro.
Resta parar os displantes
Dessa pessoa importante
Atração do Juazeiro!
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 12/02/2012
Alterado em 06/12/2016
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