A HISTÓRIA DE AURELITA E O VELHO FANFARRÃO
Trecho do Cordel:
Vou versejar uma história Que escutei pela estrada Sobre a festa de Aurelita Onde teve uma peixada Inimiga de regime Que quase termina em crime E transformou-se em piada. No Sítio Canoa Furada Havia um solteirão Que vivia reclamando Por viver na solidão Sem carinho de ninguém Até que achou com quem Compartilhar o coração. Já era um sessentão Quando casou com Aurelita Morena, muito vistosa, Melhor dizendo, bonita Formosa e cheia de graça Daquelas que quando passa A macharada se agita. Uma dianteira bonita Um bumbum avantanjado Dava até a impressão Que esse seu predicado De saciar quelquer sede Era por dormir na rede Que tinha o fundo furado. Ele um velhote enfadado Ela um brotinho novo Aumentava na cidade O falatório do povo Sobre o velho ser chifrado Mas ele muito animado Diza:-Isso eu resolvo. <<Cavalo véi, capim novo>> É um ditado perfeito Comer filé com os amigos Sei que tiro mais proveito. Vale um filé com vizinho ue comer péia sozinho E a carne não ter direito. Aos trinta anos bem feitos Ele disse à camarada: -Vamos festejar a data De forma bem animada No domingo bem cedinho A gente chama os vizinhos Pra comer uma peixada. Na data ali combinada Os dois estavam postados À entrda do barraco Recebendo os convidados Fazendo as honras da casa E o peixe assando na brasa Pra todos os convidados. Com tanto homem<<afmado>> Aurelita não escondia O grande contentamento Todo mundo percebia Estava armada a esparrela Diante das piscadelas Aos homens que recebia. O cacoete parecia Um tic tic nervoso Impressão que foi desfeita Quando chegou bem fogoso Gingando pelo salão O pandeirista Tião Um rapazola famoso Vinte e três anos, famoso Dois metros de envergadura Nas rodas da gafieira Era constante figura Totalmente analfabeto: Mesmo sendo um bebe-quieto Fazia muita loucura. Ela com sus desnvoltura Aos homens puxava prosa O velho a tudo assistia Vendo ela toda dengosa Com seus trejeitos formosos Seus requebros tão dengosos Tendo no peito uma rosa. A peixada era gostosa Temperada, muito boa, Preparada por Zefinha Uma excelente pessoa Mas era uma interesseira E também alcoviteira Das «fugidas» da patroa. Enquanto o povo, numa boa, Comia com delicadeza O Tião mais Aurelita Tocavam os pés sob a mesa Isso descaradamente E telepaticamente Acertavam a sobremesa. O velho viu com surpresa O povo se retirar Depois do almoço findado Foi que ele veio notar A ausência de Aurelita E não viu, pra sua desdita, Na porta o Tião passar. Então lhe veio a pensar No que ia acontecer Correu bufando pra o quarto Deu um grito pra valer Na surpresa dessa hora: «Se os dois brincar, agora, Tejam certos, vão morrer! Viu Aurelita correr Fazendo grande alarido Porém Tião levantou-se Já de todo prevenido Desesperado gritando E com um revolver apontando Para o marido traido. Com a arma no ouvido Perguntou ao camarada: «Diga como quer morrer?» Com a voz resignada O velho com emoção Respondeu: «De indigestão, Que a comida foi pesada!» Tião deu uma risada E logo se acalmou Recolhendo sua arma Altivo se retirou Aurelita com emoção Ao velho pediu perdão E ele lhe desculpou. Mas o casal não notou Que tinha alguém escondido Assistindo a tudo isso Que havia acontecido E saiu fazendo infuca Chegou no bar da sinuca Contou todo o ocorrido. Depois do acontecido Uma semana passado O velho veio a saber Dos boatos de Conrado Veio logo a decisão: «Vou tomar satisfação Com aquele cabra safado.» E lhe perguntou: - Conrado, Me diga se é verdade Que voce anda espalhando Por toda nossa cidade Que sou corno convencido. Diga se isso faz sentido Ou é pura falsidade? Falou com severidade Mas Conrado se calou Pergunta o velho de novo Conrado não respostou Que descobriu o segredo Disse o velho: - Tá com medo? Repita então se falou! Conrado se levantou Jogou o cigarro no chão Levou a mão na cintura Puxou sua <<Conceição>> Uma lambedira afiada De umas doze polegadas E a enterrou no balcão. Deu uma cuspida no chão E começou a falar Disse:-Velho, tu é corno, Isso não pode negar Nã adianta se doer, Se corno deixar de ser Eu deixarei de falar. O velho ao se retirar Saiu dali descontente Foi pros braços de Aurelita Chorou copiosamente Feito um cara de pamonha Lembrando toda vergonha Que sofreu recentemente. Aurelita,paciente, Consolava seu marido Dizendo: não chore não, Ao povo não dê ouvidos, Deite na nossa cama Que eu te amo e tu me ama Isso é o que importa,querido! O velho mais comedido Resolve então aceitar Os conselhos da esposa Mas resolve se mudar Com a família sem demora Dacarmolândia onde mora pra cidade de axixá. Terminei de relatar Pois achei muito bacana A história desse casal Uma mulher muito sacana Que amorosa se fingia Mas ao marido traía Por ele ser um banana. Toda mulher que engana Tem o dom de desfarçar Aurelita já casou-se Com a intenção de enganar E velho,consientemente, Sabia desse incidente Não podia reclamar. Lorotas de arrepiar Aprende-se nesses confins Como essa que escutei Em viagem ao tocantins Resta agora agradecer Depois que a história ler Aos meus leitores afins.
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 11/02/2012
Alterado em 29/07/2014 Copyright © 2012. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |