José Medeiros de Lacerda

Leia poesia - A poesia é o remédio da alma

Textos

A HISTÓRIA DE AURELITA E O VELHO FANFARRÃO
Trecho do Cordel:

Vou versejar uma história
Que escutei pela estrada
Sobre a festa de Aurelita
Onde teve uma peixada
Inimiga de regime
Que quase termina em crime
E transformou-se em piada.

No Sítio Canoa Furada
Havia um solteirão
Que vivia reclamando
Por viver na solidão
Sem carinho de ninguém
Até que achou com quem
Compartilhar o coração.

Já era um sessentão
Quando casou com Aurelita
Morena, muito vistosa,
Melhor dizendo, bonita
Formosa e cheia de graça
Daquelas que quando passa
A macharada se agita.

Uma dianteira bonita
Um bumbum avantanjado
Dava até a impressão
Que esse seu predicado
De saciar quelquer sede
Era por dormir na rede
Que tinha o fundo furado.

Ele um velhote enfadado
Ela um brotinho novo
Aumentava na cidade
O falatório do povo
Sobre o velho ser chifrado
Mas ele muito animado
Diza:-Isso eu resolvo.

<<Cavalo véi, capim novo>>
É um ditado perfeito
Comer filé com os amigos
Sei que tiro mais proveito.
Vale um filé com vizinho
ue comer péia sozinho
E a carne não ter direito.

Aos trinta anos bem feitos
Ele disse à camarada:
-Vamos festejar a data
De forma bem animada
No domingo bem cedinho
A gente chama os vizinhos
Pra comer uma peixada.

Na data ali combinada
Os dois estavam postados
À entrda do barraco
Recebendo os convidados
Fazendo as honras da casa
E o peixe assando na brasa
Pra todos os convidados.

Com tanto homem<<afmado>>
Aurelita não escondia
O grande contentamento
Todo mundo percebia
Estava armada a esparrela
Diante das piscadelas
Aos homens que recebia.

O cacoete parecia
Um tic tic nervoso
Impressão que foi desfeita
Quando chegou bem fogoso
Gingando pelo salão
O pandeirista Tião
Um rapazola famoso

Vinte e três anos, famoso
Dois metros de envergadura
Nas rodas da gafieira
Era constante figura
Totalmente analfabeto:
Mesmo sendo um bebe-quieto
Fazia muita loucura.

Ela com sus desnvoltura
Aos homens puxava prosa
O velho a tudo assistia
Vendo ela toda dengosa
Com seus trejeitos formosos
Seus requebros tão dengosos
Tendo no peito uma rosa.

A peixada era gostosa
Temperada, muito boa,
Preparada por Zefinha
Uma excelente pessoa
Mas era uma interesseira
E também alcoviteira
Das «fugidas» da patroa.

Enquanto o povo, numa boa,
Comia com delicadeza
O Tião mais Aurelita
Tocavam os pés sob a mesa
Isso descaradamente
E telepaticamente
Acertavam a sobremesa.

O velho viu com surpresa
O povo se retirar
Depois do almoço findado
Foi que ele veio notar
A ausência de Aurelita
E não viu, pra sua desdita,
Na porta o Tião passar.

Então lhe veio a pensar
No que ia acontecer
Correu bufando pra o quarto
Deu um grito pra valer
Na surpresa dessa hora:
«Se os dois brincar, agora,
Tejam certos, vão morrer!

Viu Aurelita correr
Fazendo grande alarido
Porém Tião levantou-se
Já de todo prevenido
Desesperado gritando
E com um revolver apontando
Para o marido traido.

Com a arma no ouvido
Perguntou ao camarada:
«Diga como quer morrer?»
Com a voz resignada
O velho com emoção
Respondeu: «De indigestão,
Que a comida foi pesada!»

Tião deu uma risada
E logo se acalmou
Recolhendo sua arma
Altivo se retirou
Aurelita com emoção
Ao velho pediu perdão
E ele lhe desculpou.

Mas o casal não notou
Que tinha alguém escondido
Assistindo a tudo isso
Que havia acontecido
E saiu fazendo infuca
Chegou no bar da sinuca
Contou todo o ocorrido.

Depois do acontecido
Uma semana passado
O velho veio a saber
Dos boatos de Conrado
Veio logo a decisão:
«Vou tomar satisfação
Com aquele cabra safado.»

E lhe perguntou: - Conrado,
Me diga se é verdade
Que voce anda espalhando
Por toda nossa cidade
Que sou corno convencido.
Diga se isso faz sentido
Ou é pura falsidade?

Falou com severidade
Mas Conrado se calou
Pergunta o velho de novo
Conrado não respostou
Que descobriu o segredo
Disse o velho: - Tá com medo?
Repita então se falou!

Conrado se levantou
Jogou o cigarro no chão
Levou a mão na cintura
Puxou sua <<Conceição>>
Uma lambedira  afiada
De umas doze polegadas
E a enterrou no balcão.

Deu uma cuspida no chão
E começou a falar
Disse:-Velho, tu é corno,
Isso não pode negar
Nã adianta se doer,
Se corno deixar de ser
Eu deixarei de falar.

O velho ao se retirar
Saiu dali descontente
Foi pros braços de Aurelita
Chorou copiosamente
Feito um cara de pamonha
Lembrando toda vergonha
Que sofreu recentemente.

Aurelita,paciente,
Consolava seu marido
Dizendo: não chore não,
Ao povo não dê ouvidos,
Deite na nossa cama
Que eu te amo e tu me ama
Isso é o que importa,querido!

O velho mais comedido
Resolve então aceitar
Os conselhos da esposa
Mas resolve se mudar
Com a família sem demora
Dacarmolândia onde mora
pra cidade  de axixá.

Terminei de relatar
Pois achei muito bacana
A história desse casal
Uma mulher muito sacana
Que amorosa se fingia
Mas ao marido traía
Por ele ser um banana.

Toda mulher que engana
Tem o dom de desfarçar
Aurelita já casou-se
Com a intenção de enganar
E velho,consientemente,
Sabia desse incidente
Não podia reclamar.

Lorotas de arrepiar
Aprende-se nesses confins
Como essa que escutei
Em viagem ao tocantins
Resta agora agradecer
Depois que a história ler
Aos meus leitores afins.






Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 11/02/2012
Alterado em 29/07/2014
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