A LENDA DE MARINGÁ (MARIA DO INGÁ)
O folclore sertanejo
É rico em variações Precisa ser resgatado Valorizando os sertões Tantas lendas esquecidas Inocências corrompidas Destruindo as tradições. Desde outras gerações Se cultiva a tradição Mas pouco a pouco se acaba Crença, fé, religião, Os costumes vão mudando Pureza vai se acabando Por tanta renovação. Tendo por inspiração As coisas do meu lugar Resgato com meus cordéis A cultura popular Do jeito quer sei fazer E neste vou escrever A lenda de Maringá. Antes preciso falar De onde essa lenda saiu A origem desse nome Como foi que ela surgiu A dimensão que tomou E o sucesso que emplacou Dentro e fora do Brasil. Onde a verdade surgiu A mentira sempre emana, Associam Maringá À região curitibana, Mas que a verdade se exiba, Maria era Paraiba E a lenda paraibana. O Nordeste vira chama No período de estiagem Que às vezes dura anos Secando toda a paisagem Quando a seca nos castiga Só resta morte e fadiga Provocando a derrocagem. Existe muita vantagem No nordeste de hoje-em-dia Mas no século dezenove Essas coisas não havia Quando secava o sertão Não havia solução, Só migração resolvia. A família de Maria Cujo pai era um vaqueiro No agreste paraibano Terra de gado leiteiro Habitava no Ingá Mas o pai a trabalhar Nunca tinha paradeiro. Certa feita um boiadeiro O contrata para ir Com a sua comitiva Pra muito longe dali Fazer uma condução De gado para o sertão Comprado no Piauí. O vaqueiro a decidir Reúne seu pessoal Estava determinado Morar em outro local Mais perto de sua trilha E muda com a família Pra cidade de Pombal. Chegou Maria afinal Na sua nova cidade Trazendo em seu matulão Pureza e ingenuidade Menina-moça, simplória, Sem saber que sua história Iria à posteridade. Com sua simplicidade Jeito manso de falar Conquistou a vizinhança E os jovens do lugar Tornou-se moça prendada Logo cognominada De Maria do Ingá. Mas como é de se esperar Nas caatingas do sertão O inverno é variado Um ano chove, outro não, Nesse entrevero sofrido Pombal se ver atingido Por seca e destruição. Foi grande a devastação Que a seca provocara Lavoura morrendo à mingua Mato virando coivara Gente de fome morrendo E os criadores perdendo A criação que restara. Século vinte começara Terrível, devastador, Tristeza do pecuarista Martírio do agricultor Era grande a migração Abandonando o sertão Levando tristeza e dor. Um futuro promissor Não se ousava pensar Vivendo naquela seca Sem previsão de acabar Desprovida de alegria A família de Maria Então resolve voltar. Se foi Maria de Ingá Pra sua terra natal Deixando desolação E tristeza sem igual Na terra que a acolheu Onde o amor conheceu: A cidade de Pombal. A riqueza cultural De um povo, uma região, Nasce involuntariamente Cresce e vira tradição Como lendas que acontecem Enraizam, permanecem, Geração a geração. Um pacato cidadão De Maria o namorado Vendo a amada partir, Se sentindo abandonado, Chorou tanto de saudade Que comoveu a cidade Com seu pranto apaixonado. Maria virou passado Mas ninguém a esqueceu Todos lembravam o conflito Que o caboclo viveu Volta o tempo da bonança Mas da amada a lembrança Pra sempre permaneceu. Muita coisa aconteceu Depois que se foi Maria Mas a história dos dois O povo não esquecia O tempo foi se passando Idéias foram mudando E a lembrança não saía. Passa ano, mês e dia E a história continuou Pouco a pouco em nosso estado A notícia se alastrou Conduzida por tropeiro Em todo chão brasileiro E uma lenda se formou. Um ilustre senador Da cidade de Pombal Sempre contava essa história Na Capital Federal Até que um certo dia Alguém ouvindo dizia: «Isso dá um musical!» De forma bem natural Começou a musicar Porém não encontrou métrica Em Maria do Ingá Mas sempre dentro da norma Fez a música criar forma Com o nome de Maringá. E a maneira de cantar Embalando as multidões Mostrando a simplicidade De um romance dos sertões Criou asas, foi-se embora, Seguiu pelo mundo afora Aquecendo corações. Virou moda entre os peões Que cantava a trabalhar Por ser tema tão dolente De riqueza singular Grandeza e simplicidade Deu nome a uma cidade Do estado do Paraná. De Maria do Ingá Ficou a recordação Depois que ela se foi Não voltou mais no sertão. Onde será que ela andava? Será que ainda voltava? Restava a interrogação. Contrariamente ou não Vale a pena ressaltar Paraiba criou fama Desse episódio pra cá, Sertão mais considerado Pombal cognominado «A Terra de Maringá». O universalizar Da lenda, depois canção Mostra a angústia da seca E a angústia do coração Mas também mostra a pureza No seio da Natureza Nas terras do meu sertão. Toda e qualquer região Tem sua própria cultura Na fé, no povo, na crença, Na poesia, na pintura, Na roça ou civilidade, Na mentira ou na verdade, Sempre há boa figura. Com minha literatura Gosto muito de contar As coisas do meu país De forma bem singular, Me inspiro em qualquer tema. E aqui termino o poema A LENDA DE MARINGÁ. SÉRIE LENDAS BRASILEIRAS - VOLUME 7
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 11/02/2012
Alterado em 19/11/2022 Copyright © 2012. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |