José Medeiros de Lacerda

Leia poesia - A poesia é o remédio da alma

Textos

A LENDA DO GUARANÁ
Não quero fazer história
Mas simplesmente narrar
As lendas do meu país
Em poesia popular
Contadas em verso e prosa
Com o repentista, na glosa,
E em cordel vou registrar.

À Lenda do Guaraná
Meu cordel é referente
Vem dos índios brasileiros
De quem eu sou descendente
Gosto de ver nossa História
Com sua verve notória
Ser lida por nossa gente.

Quero, muito consciente,
Neste meu objetivo
Mostrar que o índio deixou-nos
Legado bem expressivo
Em tudo que lhes comportam
Nas histórias que denotam
Que nunca foram passivos.

Não quero fazer história
Mas simplesmente narrar
As lendas do meu país
Em poesia popular
Contadas em verso e prosa
Com o repentista, na glosa,
E em cordel vou registrar.

À Lenda do Guaraná
Meu cordel é referente
Vem dos índios brasileiros
De quem eu sou descendente
Gosto de ver nossa História
Com sua verve notória
Ser lida por nossa gente.

Quero, muito consciente,
Neste meu objetivo
Mostrar que o índio deixou-nos
Legado bem expressivo
Em tudo que lhes comportam
Nas histórias que denotam
Que nunca foram passivos.

Eram felizes até
Sentirem necessidade
De um jovem filho varão
Pra dar continuidade
Ao fruto daquele gente
Disseminando a semente
Naquela comunidade.

Ao grande Deus, na verdade
Rogam pelo dom divino
Tupã responde aos apelos
Com um saudável menino
Trazendo a felicidade
À sua comunidade
E ao seu próprio destino.

Com a chegada do menino
Prostra-se a tribo aos seus pés
Tupã falou num trovão
Aos caciques e pajés:
- Guardem com muito cuidado
Que o curumim é sagrado
Para todos os Maués.

Se vocês forem fiéis
Haverá muita fartura
Muita caça, muito peixe
Bons frutos na agricultura
Façam tudo com juizo
Que haverá um paraíso
No seio da «Mãe Natura».

Toda a aldeia procura
Trazê-lo sempre guardado
Pra passear na floresta
Só saía acompanhado
Por segura companhia
Em todo lugar que ia.
Era muito vigiado.

Deixo o jovem bem guardado
Em plena felicidade
Para falar sobre um ser,
Jurupari, na verdade,
O diabo para os nativos
Que infernizava os vivos
Com o espírito da maldade.

Vivia em dificuldade
O invisível vilão
Pra atingir os Maués
Faltava-lhe ocasião
Quase sempre ele tentava
Porém a tribo gozava
De Tupã a proteção.

Cheio de insatisfação
Dizia: - Um dia eu dou jeito
De destruir o menino
Sendo o humano perfeito
Todos têm o seu revés
Entre o zelo dos Maués
Encontrarei um defeito.

Depois de seu plano feito
O grande espírito do mal
Passa a seguir o menino
Qual persistente rival
Espreitando para enfim
Nos passos do curumim
Armar-lhe um laço fatal.

Um lugar especial
Naquela floresta havia
Cercada por mil segredos
Por isso se proibia
Que alguém que ali passasse
Nesse canto penetrasse
Fosse de noite ou de dia.

O curumim certo dia
Soube daquele ambiente
E pensou consigo mesmo:
«Vou ver coisa diferente»
E saiu às escondidas
Na floresta proibida
Foi brincar muito contente.

Seus guardiões, simplesmente,
Inda o julgavam dormindo
E por isso não puderam
Vê-lo quando ia saindo.
O curumim onde andava
Certamente nem pensava
No que estava caindo.

Jurupari o seguindo
Agiu repentinamente
Se materializando
Transformou-se em serpente
Com seu espírito mal
Pra dar o bote fatal
No curumim inocente.

O menino indiferente
Em uma árvore subiu
Uma cascavel gigante
Naquele instante surgiu
Do jovem se aproximando
Na árvore se enroscando
Sua calda sacudiu.

De cima o curumim viu
Muito decepcionado
Que a floresta encantada
Da qual haviam falado
E estava à sua frente
Era muito diferente
Do que tinha imaginado.

Desceu dali apressado
Mas quando no chão pisou
Viu a serpente, porém
Simplesmente ignorou
Jurupari, traiçoeiro,
Foi chegando sorrateiro
Deu o bote e lhe picou.

O curumim se assustou
Rumo a aldeia correu
Sentindo arder o veneno
Percorrendo o corpo seu
E ali mesmo na selva
Deitou-se em meio à relva
Perdeu as forças, morreu.

Quando a tribo percebeu
Que ele havia sumido
Todos foram procurá-lo
Fazendo grande alarido
Encontrando seu corpinho
Na beirada do caminho
Sem vida no chão caído.

«Nosso povo foi vencido
- Gritavam em comoção -
Um povo comum seremos
Sujeitos à maldição
À peste, à fome e à guerra
Haverá sangue na terra
Ao invés de plantação!»

Todos pediam perdão
A Tupã, Deus de bondade,
Junto ao corpo do menino
Em grande calamidade
Pelo pajé comandado
E esse ritual sagrado
Dos Maués não foi debalde.

Numa grande claridade
Ouviram Tupã falar:
«Os olhos do curumim
Arranquem para plantar
Escolham um fértil canto
E depois com vosso pranto
A terra devem regar.

Assim feito irá brotar
Dessa terra umedecida
Uma planta diferente
Pra vocês, desconhecida
Haverão galhos frondosos
E seus frutos milagrosos
Serão os frutos da vida.

Após a ordem cumprida
Pouco tempo constatavam
Que estranha planta nascia
E os frutos que vingavam
Além de seu gosto fino
Com os olhos do menino
Os frutos se assemelhavam.

Assim eles explicavam
Como o guaraná nasceu
E de aldeia em aldeia
A lenda prevaleceu
Na selva e outros abrolhos,
O fruto que lembra os olhos
Do menino que morreu.
SÉRIE LENDAS BRASILEIRAS - VOLUME 11
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 31/01/2011
Alterado em 20/11/2022
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