José Medeiros de Lacerda

Leia poesia - A poesia é o remédio da alma

Textos

SIMPATIAS EM CORDEL
Simpatias são crendices
Que do folclore se emana
Alguma mais divulgada
Outra menos soberana
Provenha de onde prover
Tem grande força e poder
Diante da mente humana.

Quando a poesia me chama
Me esforço pra não faltar
E neste folheto escrevo
Com cuidado no versar
As melhores simpatias
Vindas da sabedoria
Da crendice popular.

Para ciume acabar
Coloque numa panela
Três dentes de alho roxo
Três flores de beringela
Três folhas de urtiga preta
Três pimentas malagueta
Dentro de chá de macela.

Bote fogo na panela
Até tudo derreter
Depois jogue num jardim
Não se esqueça de dizer:
«Que o ciume se vá
E a paz volte a reinar
Entre a pessoa e você.

Pra seu dinheiro render
Ponha um pouco de fermento
Dentro de um prato de barro
E guarde em seu pensamento
Essa frase popular:
«Sempre que o pão aumentar
Meu dinheiro tem aumento.»

Pra apressar o crescimento
De uma vasta cabeleira
Uma mecha de cabelo
Num olho de bananeira
Conforme o seu crescimento
O cabelo em movimento
Cresce da mesma maneira.

Para acabar com coceira
Também é interessante
Bata com os nós dos dedos
Onde coça a todo instante
Com firmeza vá dizendo:
«No corpo não estou batendo,
Bato na parte coçante.»

Para os seios da gestante
Nunca ficar deformado
A partir do quinto mês,
Isso nunca dar errado
Quebrar um coco no meio
E uma banda em cada seio
Coloque após ser raspado.

Com dez minutos passados
Ela deve retirar
Passar óleo de amêndoas
Para os seios refrescar
Faça isso todo dia
E constate com alegria
Que eles não vão deformar.

Para o marido amarrar
Compre uma moringa rasa
Com tampa e coloque em baixo
De uma goteira da casa
Deixe lá até encher
Tampe e trate de esconder
Que o marido nunca atrasa.

Manter o marido em casa
Não é muito complicado,
O seu nome num papel
Em quatro partes dobrado
Embaixo do pé direito
Da cama faz o sujeito
Ficar caseiro e domado.

Pra evitar mau olhado
Boa simpatia ajuda,
Coloque em sua carteira
Uma galhinho de arruda
Onde guarda o seu dinheiro
Ao abri-la sinta o cheiro,
Verá que sua sorte muda.

Pois o galhinho de arruda
Mantém sua mente aberta
Porém seu corpo fechado
Nenhuma inveja disputa;
Sua vida é um sucesso
Com muita ordem, progresso
E felicidade certa

Para nova descoberta
No campo profissional
Pegue uma página de emprego
Dessas que vem em jornal
Coloque em uma panela
Sobre ela acenda uma vela
De forma bem natural.

Com uma fé divinal
Faça o seguinte pedido:
«Espero que meus anseios
Sejam enfim atendidos
Pelos meus superiores
E que todos meus valores
Possam ser reconhecidos.

Para objeto perdido
Ficar fácil de se achar
Faça o sinal da cruz
Nem precisa procurar,
Só basta dar três pulinhos
Chamando por são longuinho
Que a coisa aparecerá.

Pra fazer chuva parar:
Com uma folha de papel
Amasse, faça uma bola
E pendure num cordel
Na janela ou na varanda
Que a chuva forte se manda
Volta a brisa no vergel.

Pra quem mora de aluguel
Preste bastante atenção:
Quando for alugar casa,
Pra não pegar maldição
Deixada por inquilinos
Alterando seu destino,
Faça uma obrigação:

Pegue uma bisnaga de pão
Uma garrafa de vinho
E uma lata de sardinha
Abra e deixe num cantinho
Da casa com esperança
Um dia antes da mudança
Pra proteger o seu ninho.

O que tiver no caminho
Da sua nova morada
Que seja pecaminoso
Sairá, não fica nada;
Quando chegar jogue fora
E a partir dessa hora
Tenha a casa imunizada.

Se a pessoa é paquerada
E quer disto se livrar
Pegue uma malagueta,
Esmague, depois salgar,
Amarre em um saquinho
E conduza com carinho
Por onde voce passar.

Sempre que o dito encontrar
Não evite ou esmoreça
Passe a mão no tal saquinho
Depois em sua cabeça
Não demonstre antipatia,
Deixe que essa simpatia
Fara com que ele te esqueça.

Pra que um amor permaneça
Em sua vida presente
Por volta da meia noite
De lua quarto crescente
Quando já dorme o fulano
Pegue um pedaço de pano
Agulha e linha corrente.

Ao lado dele se sente
Com a agulha, linha e pano
E diga, «Estou costurando
O coração de «fulano»
Pra que ele não me esqueça
Ao meu lado permaneça
E não me dê desengano.»

Sete vezes, sem engano,
Por sete noites afim
Depois enterre esse pano
Num vaso com alecrim
E viva tranquilamente
Com seu amado presente
Pela vida até o fim.

Se voce está afim
De  transar com uma menina
Mas ela não lhe dar bola
Esta simpatia ensina
A deixá-la com vontade,
Use sua sagacidade
Que voce consegue a mina.

Corte um chumaço da crina
De uma égua no cio
Espalhe na casa dela
Que ela entra em desvario
E se excita em campo aberto,
Se voce estiver por perto
É quem vence o desafio.

Ganhar um amor arredio:
Nome da pessoa botar
No filtro de um cigarro
Acenda e deixe queimar
Sopre bem devagarinho
Até queimá-lo todinho,
Não é preciso fumar

Depois disso é só jogar
Na frente da casa dela
O filtro com o dito nome
E para evitar novela
Não conte nada a ninguém
Pode esperar que seu bem
Cairá na esparrela.

Bronquite é uma mazela
Deixa nosso peito arfante
Faça uma simpatia
Na noite de lua minguante:
Nove folhas de graviola
Com rabo de tatu bola
Dar um bom expectorante.

Pra se fazer o laxante
Torre tudo e faça um pó
Dê pra criança beber
Pra adulto ainda é melhor
Por nove noites seguidas
Que está salva a sua vida,
Pode ir até pra forró.

Por todo esse cafundó
Dos sertões do meu sertão
O nosso folclore é cheio
De crença e religião
No seio da Natureza
A nossa maior riqueza
Ainda é superstição.
Coisas do Brasil, Vol. XXV
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 31/01/2011
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