José Medeiros de Lacerda

Leia poesia - A poesia é o remédio da alma

Textos

A ESCRAVIDÃO NO BRASIL E O BRASIL NA ESCRAVIDÃO
Nosso Brasil é moeda
Com duas faces cunhadas
Dois pesos, duas medidas,
Duas caras disfarçadas
Que escandalosamente
Vem fazendo nossa gente
Viver mal acostumada.

Começou com a cambada
De cachos e de galão
Explorando nosso índios
Iniciando a corrupção
Depois, para completar,
Começaram a escravizar
Gente de outra nação.

Os laços da escravidão
Foi o mais cruel engano
Que o país fez com o negro
Do continente africano
E até hoje causa insônia
No nosso Brasil colônia
Imoral e desumano.

O poder de um soberano
Rolo compressor da massa
Ao negro submetia
Todo tipo de desgraça
Fez do trabalho forçado
Um sofrimento calado
Pela força da mordaça.

A pele escura da raça
A valentia de um bravo
Fez o negro virar caça
Do caçador de escravo
Trabalhando noite e dia
Em favor da burguesia
Sem receber um centavo.

Como efeito do conchavo
De poder e fazendeiro
Raptavam o africano
Que feito prisioneiro
Deixava a sua nação
Empilhada no porão
De algum navio negreiro.

Começava o cativeiro
Nessa embarcação sem nome
Negros e negras, sofridos,
Enfraquecidos de fome,
Por cama, lama e podrura,
Por alimento amargura,
Pra servir a brancos homens.

Pareciam lobisomens
Nessa viagem sofrida
Não passavam de animais
Sem remédio e sem comida
Muita gente adoecia
No final da travessia
Metade estava sem vida.

Com a identidade perdida
E o banzo no coração
Um negro quando morria
Ninguém lhe dava atenção
Pois a ordem do tirano
Era atirar no oceano
Pra alimentar tubarão.

Vencida a triste missão
No Brasil eram deixados
Abandonados no porto
Entre si acorrentados
Dali eram conduzidos
Expostos pra ser vendidos
Como bichos nos mercados.

Um coronel abastado
Olhava a mercadoria
A idade, a força bruta
E ali mesmo escolhia
Os de perfil mais forte
Para trabalhar no corte
Da cana que produzia.

Um feitor lhes conduzia
Com armas cheias de bala
E um chicote de couro
Que usava como fala
Até uma grande tenda
Num recanto da fazenda
Que se chamava senzala.

Formada por grande sala
Com sufocantes janelas
De portas sempre fechadas
Com guardas na frente delas
Onde dormiam no chão
Na maior escuridão
Sem ter sequer luz de velas.

Era uma grande mazela
No trabalho e no abrigo
Um tronco en frente à senzala
Pra negro levar castigo
Muitos morriam por nada
Na base da chicotada
Do feitor, seu inimigo.

Com sua vida em perigo
Tinha que obedecer
As ordens que recebia
Sem perguntar o porquê
Se não fizesse o serviço
Pagava caro por isso
Chegando até a morrer.

Depois de tanto sofrer
No regime sanguinário
Pouco a pouco foi surgindo
Um movimento contrário
Fazendo muita pressão
Em prol da abolição
Contra o governo arbitrário.

Ato revolucionário
Em todo canto explodiu
Que a princesa Isabel
A pressão não resistiu
Com seu ato mais singelo
Baniu pra sempre o flagelo
Da escravidão no Brasil.

Foi assim que o mundo viu
A Lei Áurea sancionada
No dia treze de maio
Pela mão abençoada
De uma princesa regente
Que pôs a dor dessa gente
Numa página virada.

A história foi manchada
Com o sangue da estupidez
O negro mostrou ser forte
Por tanta coisa que fez
Ficou sem nada na vida
Mas teve fé aguerrida
Pra começar outra vez.

O branco na insensatez
Na sede pelo poder
Depois de explorar o negro
Não soube se refazer
Acabou a monarquia
Promoveu a anarquia
E botou tudo a perder.

Não soube se precaver
Ante a deficiência
Ao ter perdido os escravos
Que lhes davam oponência
Perderam seus nobres postos
Ficaram reféns de impostos
Depois da independência.

Na política a inclemência
Criava a corrupção
Quem se abastava com algo
Praticava a opressão
Pela soberba envolvidos
Contra os empobrecidos
Sem pudor, sem compaixão.

Foi por aí que Nação
Afundou no atoleiro
Passando a ser dependente
De outro país estrangeiro
Fomos perdendo o valor
Passando a ser devedor
De um bocado de dinheiro.

O senhorio estrangeiro
Que aos poucos nos consome
Como os Estados Unidos
Que ganham poder e nome
E o resultado assim fica:
Uma minoria enrica
E o resto morre de fome.

O brasilieirismo some
Sem classe e sem moralismo
Porque no mundo da troca
Do vício, do egoismo,
No escravagismo persistem
São coisas que só existem
Onde tem capitalismo.

Combate o socialismo
Desemprega e nos assola
A tal globalização
Desconforta e desconsola
Alterando a natureza
Acumulando riqueza
No mundo que pede esmola.

Já fomos donos da bola
Hoje é só recordação
Porque faz até vergonha
Falarmos da seleção;
A política é outra chaga
Que se alastra como praga.
Propagando a corrupção.

O idioma da Nação
Sempre foi o português
Hoje, escravo do sistema,
Brasil tá falando inglês
Nos costumes, no comércio,
Cativo do retrocesso
Que o americano fez.

Com toda essa estupidez
O negro foi libertado
Mas nas altas sociedades
É sempre discriminado
A política lhe persegue
Quando muito ele consegue
Um cargo de deputado.

Chega de ser disfarçado
Se dizendo independente
Vamos mostrar nossos brios
Afinal, somos potentes,
Nosso lema, Liberdade,
Mostra superioridade,
Não pode ser diferente.

Nossa terra, nossa gente,
É sempre forte e viril,
Desculpem meios devaneios,
Não quis ser torpe nem vil,
Só escolhi esse tema
Pra mostrar mais um problema
Dessas COISAS DO BRASIL.
Série Coisas do Brasil, Vol XXI
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 31/01/2011
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