O CABELEIRA
Cabeleira era o apelido
De um cangaceiro de fama Que já nasceu no cangaço Zona da mata e da cana Província de Pernambuco De um casal de mameluco Joaquim Gomes e Joana Sujeito de más entranhas Joaquim Gomes induzia O seu filho José Gomes Tão cedo à patifaria Dos mais hediondos crimes Aos mais perversos regimes Que era a cangaçaria Com o filho e o pai agia Também um sujeito pardo Por nome de Teodósio No crime um grande aliado Que tinha por primazia Do que não lhe pertencia Trazê-lo para o seu lado. Como já fora citado No estado pernambucano Lá em Glória de Goitá Foi nascido esse tirano Misto de pardo e alvacento No século mil e setecentos E cincoenta e um o ano. Esse trio desumano Muitas léguas percorria Cobrindo a província toda Com sua selvageria Deixando rastos bem fortes De roubos, incêndios, mortes. E tudo de mau que havia. Mesmo na cangaçaria O terrível Cabeleira Tinha uma namorada Trabalhadora e ordeira Por nome de Luisinha Sangue nobre, bonitinha. E além de tudo solteira. Mas a vida cangaceira Isso ela não suportava Continuava o namoro Porque muito ela o amava Mais vivia entristecida E a deixar aquela vida Sempre o aconselhava. Ele às vezes vacilava Prometia até mudar E por amá-la também Tentou se regenerar Mesmo com o pai reclamando Ele ia começando Do cangaço a se afastar. Lá em Glória de Goitá Triste fato aconteceu Luisinha ficou doente De um mal que lhe acometeu Entre o remédio e a doença Saiu perdendo a ciência E a mocinha faleceu. O Cabeleira sofreu Com a morte de sua amada Que tinha quase o livrado De uma vida desregrada Agora sem proteção Aquela resolução Adiante não foi levada. Com Luisinha findada E tomado de sentimento Volta ele pro cangaço Ainda mais violento Mas muito desnorteado Cada vez mais descuidado Mais macambuzo, mais lento. E foi num enfrentamento Com a policia local Lá mesmo na região Dentro de um canavial Junto com seus companheiros Que o trio de cangaceiros Teve o combate final. Joaquim Gomes mais o tal Teodósio e o Cabeleira Foram aprisionados Lá mesmo na bagaceira Da cana e foram levados Sendo os três encarcerados Em uma prisão praieira. Chegara ao fim a carreira Desse trio de renegados No tribunal em Recife Logo os três foram julgados Júri por conveniência Pois todos tinham ciência Que seriam condenados. Os três foram enforcados Um dia de tardezinha Do ano setenta e seis O mesmo que Luisinha Morreu deixando o amado Já quase regenerado Da vida errada que tinha. O local que mais convinha Para o tal enforcamento O Largo das Cinco Pontas Três cordas soltas ao vento Com três corpos enforcados Duas horas pendurados E um grande movimento. Como tantos adventos De cangaço e de maldade Cabeleira morreu jovem Ainda na mocidade A faixa etária da morte Era com um pouco de sorte 25 anos de idade. Narrei todas as maldades De outra etapa cangaceira Joaquim Gomes já idoso Teodósio, cabra sem eira Nem beira e bem resumido O relato conhecido Do famoso Cabeleira. Série Cangaceiro, Vol. VI
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 16/12/2009
Alterado em 01/02/2011 Copyright © 2009. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |