José Medeiros de Lacerda

Leia poesia - A poesia é o remédio da alma

Textos

A MULHER QUE DEIXOU O MARIDO POR UM VIRA-LATA
AUTORIAS DE EDIMOM MEDEIROS E ZÉ LACERDA
O calçadão em Campina
Tem uma grande atração
Que são os aposentados
A sucata da Nação
Que depois de tantos anos
Sofrem discriminação.

É de praxe a reunião
Desse povo experiente
Nas manhãs ensolaradas
Antes que o Sol fique quente
Se fala até de política,
De prefeito a presidente.

Quem não pega no batente
Gosta de participar
Eu, quando estou em Campina
Às vezes passo por lá
Mas sou de pouca conversa,
Prefiro mais escutar.

Sem querer ouví falar
De uma mulher sensata,
Informes com precisão
Uma estória exata,
Mulher deixou o marido
Por causa de um vira-lata.

Cidadezinha pacata
Era Perpétuo Socorro
Onde um pequeno cinema
Só tinha filme do Zorro,
Morava uma família
Nas encostas de um morro.

A dona do tal cachorro
Era mãe dessa mulher
Morreu deixando pra ela
Ou pra outro que o quiser
Mas, na vida há de tudo,
Nem sempre, o que se quer.

Essa suposta mulher
Filha da tal falecida
Gostava do cachorrinho
E ficou agradecida
Pela herança deixada
por sua mamãe querida.

Criou o cão decidida
O bichinho foi crescendo
Recebendo muito afeto
E sempre lhe devolvendo,
O noivo, desconfiado
Do que estava acontecendo.

Já ia até esquecendo
Desse que desconfiou
É que a moça estava noiva
Quando o cachorro arranjou,
Por causa do tal bichinho
Seu noivado desandou.

Crescido o bicho mostrou
Ser da sua proteção
Guarda costa de primeira
E muito bom no portão
E ela noiva de um cara,
Com aliança na mão.

Casou mas levou o cão
Pra viver em sua tutela
Ele ia para o trabalho
O cão ficava com ela
Mas ele sempre dizia:
«Eu tiro o cachorro dela.»

Vivendo entre ele e ela
O cão foi envelhecendo
E o bem dessa mulher
Ao bichinho foi crescendo
Até que um dia o marido
Terminou se aborrecendo.

Chamou a mulher dizendo:
«Ouça o que vou lhe dizer,
Você com este cachorro
Não dar para entender,
Vamos dar um fim ao cão.
O que podemos fazer?

Não adianta você
Querer meu plano obstar
Porque estou decidido
E nada me faz mudar,
Eu mato ou mata você,
Ou então mando matar.»

Essa mulher pegou ar
Com a proposta do marido
«Nunca pensei que você
Fosse ficar ofendido
Pois sente de frente a mim,
Quero fazer-te um pedido

Tu é bastante atrevido
Propondo isto prá mim
Esse cão é de família
E terá que ser assim
Agora fiquei sabendo
O quanto você é ruim.

Não vou matar nem dou fim
Também não vai dormir fora
Se não me quiser com ele
Pegue a roupa e vá embora
Que eu fico com meu cachorro
Até chegar sua hora.

Vá pra seus pais que te adora
E suas idéias acata
Eu fico com meu cãozinho
Não mato nem outro mata
Fique com sua família
Que eu fico com o vira-lata.

Sei que este fato é bravata
E não conversa granfina
Mulher se casa com homem
E não com raça canina,
Isso é somente lorota
Do calçadão de Campina.

Nesta vida severina
Tem gosto pra todo lado
Os velhos do calçadão
Sintam-se homenageados.
Quem escreveu isto aqui
Um tá perto de sair.
O outro tá aposentado.
Série Parceria, Volume III
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 02/06/2009
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