OS COSTUMES DO PASSADO E OS USOS DE HOJE EM DIA
Chamo a atenção dos leitores
Pra esta apreciação Sobre usos e costumes Que faço com precisão E depois digam comigo Se os costumes antigos Eram melhores ou não. Os tempos de educação Deixaram à revelia No mundo de antigamente Só uma lei o regia Mas cresceram as vaidades E hoje se vê novidades Que antes jamais se via. Começou com a monarquia Que governava o Brasil Trocaram pela República Suas leis são mais de mil Uma delas, a mais certa, Que mais o sujeito aperta É o casamento civil. Qualquer sujeito viril Que se casa atualmente Só por casar, como dizem Os matutos geralmente Mas da mulher enjoando E de outra se agradando Pode casar civilmente. Mais ainda, infelizmente, Quem casar só com efeito De casamento católico Ao governo está sujeito Morrendo milionário Filho e mulher no inventário Nada levam por direito. Onde tudo era respeito Hoje é só devassidão Os professores usavam A mais séria educação As famílias que criavam A bailes não frequentavam Temiam a religião. Criança por educação Se por um caminho ia E um velho encontrava Logo a benção lhe pedia Hoje em lugar de benção Eles fazem mangação Até da mãe que os cria. Se duas pessoas havia Conversando em um salão Um menino não passava Entre eles, isso não. E se na conversa entrasse Sem que alguém o chamasse Sofria repreensão. Se hoje pessoas estão Numa sala a conversar Passa um menino entre eles E para pra atrapalhar O pai reclama, ele diz: «Passei aqui porque quis» E manda o pai se catar. O pai pretende fumar O filho pede e acende Se o cigarro não tem marca Da forma que ele entende Diz ao pai pilheriando: «Voce vai morrer fumando E a fumar não aprende.» Os filhos de antigamente Respeitavam os seus pais Não fumavam em sua vista Não usavam ditos tais Brinquedo algum frequentavam E jogo, os que jogavam Eram oculto de mais. Mas hoje, nas bacanais, Pai e filho é companheiro E os dois na mesma roda Se põe a jogar dinheiro Dito vem, pilhéria vai Entre ambos, filho e pai Um do outro é «pariceiro». Irmãos eram companheiros E todos eram unidos Arengar uns com os outros Pelos pais eram proibidos E os que eram teimosos Por castigos rigorosos Seriam repreendidos. Irmão hoje é desunido Um ao outro faz afronta Os pais ralham, ameaçam Eles não levam em conta Respondem com palavrão Somente a malcriação Trazem da língua na ponta. Nada mais os amedronta Ninguém tem religião A família antigamente Tinha a obrigação De aprender a doutrina Respeitar a lei divina Com jejum e confissão. O que vemos hoje então? Vemos os pais de família Proibir a confissão E levar filhos e filhas Pra cinemas imorais Espetáculos teatrais E indecentes quadrilhas. Antes os filhos e filhas Eram plenos de inocência Hoje só se ver maldade Vaidade, experiência, Castidade é retrocesso, Religião é comércio Sexo é conveniência. Namoro virou ciência Os jovens são corrompidos As namoradas são falsas Os namorados fingidos Quanto ao uso, então os povos Vão descobrindo usos novos Os velhos foram esquecidos. ] Mulher fazia um vestido Com nove metros de chita Enfeitava com bordado E grandes laços de fita Ficava muito contente Pois além de estar decente A roupa estava bonita. Hoje, com roupa esquisita De tecido um metro e meio, Vestido, só na barriga, Descobre a bunda e o seio Sai com as amigas, feliz, Até quando alguém diz: «Meu deus, que vestido feio!» Anáguas, roupas do meio, Botões na saia pregados Tudo muito simplesmente Sem rodapés nem babados Eram uso inocente Que faziam igualmente Os pobres e os ilustrados. Os casacos decotados São coisas de hoje em dia A saia com bico e renda E a tal passamanaria Camiseta e saiote Gola, ponta e decote E o que mais agradaria. As fitas, quem usaria Eram os anjos e santo, Hoje as senhoras e moças Com fitas se enfeitam tanto Usam fitas com fartura No cabelo, na cintura, No casaco, em todo canto. Antes se usava, portanto, Botão, anquinha, corpinho, Hoje se usa espartilho E um cinto apertadinho Quem viu na antiga data Mulher andar de gravata Punhos, chapéu, colarinho? Tantas modas nos caminhos Que no mundo se propala Com as quais mulheres ricas Com as pobres se iguala Enfim, as ricas e pobres Gastam com usos os cobres Que os maridos viram mala. Além de moda e de fala Elas usam igualmente Tanta tinta no cabelo De admirar a gente Enfim, como sempre digo, Os usos no tempo antigo Era tudo diferente. Mulheres antigamente Usava um cocó pequeno Hoje elas usam implante «Mega hair», oxigênio E tem alguma que gosta De tanta coisa suposta Que pro cabelo é veneno. Moças de cabelo pleno Eu hoje vejo enfim Encrespá-lo com papel Para ficar pixaim E negras fazendo apelo Qualquer coisa no cabelo Pra deixar de ser vruim. São tantos usos enfim Que faz a gente pensar Que ainda vai se ver coisa Do diabo se admirar Eu digo e ninguém se ofenda Já vi homem fazer renda E mulher a campear. Tudo que se possa usar É sempre um gosto perdido Porque vexa quem é pai Aperta quem é marido Faz irmão comprar fiado Com isso o pobre coitado Dos bolsos fica abatido. Passado é tempo perdido Tempo bom jamais se viu Caos é a bola da vez Pureza, já existiu! São dois polos controversos E eu descrevi em versos Mais um COISAS DO BRASIL. Série Coisas do Brasil, Vol. XI
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 12/05/2009
Alterado em 31/01/2011 Copyright © 2009. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |