José Medeiros de Lacerda

Leia poesia - A poesia é o remédio da alma

Textos

OS COSTUMES DO PASSADO E OS USOS DE HOJE EM DIA
Chamo a atenção dos leitores
Pra esta apreciação
Sobre usos e costumes
Que faço com precisão
E depois digam comigo
Se os costumes antigos
Eram melhores ou não.

Os tempos de educação
Deixaram à revelia
No mundo de antigamente
Só uma lei o regia
Mas cresceram as vaidades
E hoje se vê novidades
Que antes jamais se via.

Começou com a monarquia
Que governava o Brasil
Trocaram pela República
Suas leis são mais de mil
Uma delas, a mais certa,
Que mais o sujeito aperta
É o casamento civil.

Qualquer sujeito viril
Que se casa atualmente
Só por casar, como dizem
Os matutos geralmente
Mas da mulher enjoando
E de outra se agradando
Pode casar civilmente.

Mais ainda, infelizmente,
Quem casar só com efeito
De casamento católico
Ao governo está sujeito
Morrendo milionário
Filho e mulher no inventário
Nada levam por direito.

Onde tudo era respeito
Hoje é só devassidão
Os professores usavam
A mais séria educação
As famílias que criavam
A bailes não frequentavam
Temiam a religião.

Criança por educação
Se por um caminho ia
E um velho encontrava
Logo a benção lhe pedia
Hoje em lugar de benção
Eles fazem mangação
Até da mãe que os cria.

Se duas pessoas havia
Conversando em um salão
Um menino não passava
Entre eles, isso não.
E se na conversa entrasse
Sem que alguém o chamasse
Sofria repreensão.

Se hoje pessoas estão
Numa sala a conversar
Passa um menino entre eles
E para pra atrapalhar
O pai reclama, ele diz:
«Passei aqui porque quis»
E manda o pai se catar.

O pai pretende fumar
O filho pede e acende
Se o cigarro não tem marca
Da forma que ele entende
Diz ao pai pilheriando:
«Voce vai morrer fumando
E a fumar não aprende.»

Os filhos de antigamente
Respeitavam os seus pais
Não fumavam em sua vista
Não usavam ditos tais
Brinquedo algum frequentavam
E jogo, os que jogavam
Eram oculto de mais.

Mas hoje, nas bacanais,
Pai e filho é companheiro
E os dois na mesma roda
Se põe a jogar dinheiro
Dito vem, pilhéria vai
Entre ambos, filho e pai
Um do outro é «pariceiro».

Irmãos eram companheiros
E todos eram unidos
Arengar uns com os outros
Pelos pais eram proibidos
E os que eram teimosos
Por castigos rigorosos
Seriam repreendidos.

Irmão hoje é desunido
Um ao outro faz afronta
Os pais ralham, ameaçam
Eles não levam em conta
Respondem com palavrão
Somente a malcriação
Trazem da língua na ponta.

Nada mais os amedronta
Ninguém tem religião
A família antigamente
Tinha a obrigação
De aprender a doutrina
Respeitar a lei divina
Com jejum e confissão.

O que vemos hoje então?
Vemos os pais de família
Proibir a confissão
E levar filhos e filhas
Pra cinemas imorais
Espetáculos teatrais
E indecentes quadrilhas.

Antes os filhos e filhas
Eram plenos de inocência
Hoje só se ver maldade
Vaidade, experiência,
Castidade é retrocesso,
Religião é comércio
Sexo é conveniência.

Namoro virou ciência
Os jovens são corrompidos
As namoradas são falsas
Os namorados fingidos
Quanto ao uso, então os povos
Vão descobrindo usos novos
Os velhos foram esquecidos.
]
Mulher fazia um vestido
Com nove metros de chita
Enfeitava com bordado
E grandes laços de fita
Ficava muito contente
Pois além de estar decente
A roupa estava bonita.

Hoje, com roupa esquisita
De tecido um metro e meio,
Vestido, só na barriga,
Descobre a bunda e o seio
Sai com as amigas, feliz,
Até quando alguém diz:
«Meu deus, que vestido feio!»

Anáguas, roupas do meio,
Botões na saia pregados
Tudo muito simplesmente
Sem rodapés nem babados
Eram uso inocente
Que faziam igualmente
Os pobres e os ilustrados.

Os casacos decotados
São coisas de hoje em dia
A saia com bico e renda
E a tal passamanaria
Camiseta e saiote
Gola, ponta e decote
E o que mais agradaria.

As fitas, quem usaria
Eram os anjos e santo,
Hoje as senhoras e moças
Com fitas se enfeitam tanto
Usam fitas com fartura
No cabelo, na cintura,
No casaco, em todo canto.

Antes se usava, portanto,
Botão, anquinha, corpinho,
Hoje se usa espartilho
E um cinto apertadinho
Quem viu na antiga data
Mulher andar de gravata
Punhos, chapéu, colarinho?

Tantas modas nos caminhos
Que no mundo se propala
Com as quais mulheres ricas
Com as pobres se iguala
Enfim, as ricas e pobres
Gastam com usos os cobres
Que os maridos viram mala.

Além de moda e de fala
Elas usam igualmente
Tanta tinta no cabelo
De admirar a gente
Enfim, como sempre digo,
Os usos no tempo antigo
Era tudo diferente.

Mulheres antigamente
Usava um cocó pequeno
Hoje elas usam implante
«Mega hair», oxigênio
E tem alguma que gosta
De tanta coisa suposta
Que pro cabelo é veneno.

Moças de cabelo pleno
Eu hoje vejo enfim
Encrespá-lo com papel
Para ficar pixaim
E negras fazendo apelo
Qualquer coisa no cabelo
Pra deixar de ser vruim.

São tantos usos enfim
Que faz a gente pensar
Que ainda vai se ver coisa
Do diabo se admirar
Eu digo e ninguém se ofenda
Já vi homem fazer renda
E mulher a campear.

Tudo que se possa usar
É sempre um gosto perdido
Porque vexa quem é pai
Aperta quem é marido
Faz irmão comprar fiado
Com isso o pobre coitado
Dos bolsos fica abatido.

Passado é tempo perdido
Tempo bom jamais se viu
Caos é a bola da vez
Pureza, já existiu!
São dois polos controversos
E eu descrevi em versos
Mais um COISAS DO BRASIL.
Série Coisas do Brasil, Vol. XI
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 12/05/2009
Alterado em 31/01/2011
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