José Medeiros de Lacerda

Leia poesia - A poesia é o remédio da alma

Textos

O CORPO QUE A TERRA NÃO QUIS
Eu já ouvi esta estória
De norte a sul do Brasil,
Em meia dúzia de Estados
Muita gente já o viu,
Houve quem visse uma vez
E a visagem repetiu.

Se você viu, se não viu,
A isso não dou valia,
Se a estória é verdadeira
Ou apenas fantasia,
Eu tomei conhecimento
Vou transformá-la em poesia.

Conta-se que certo dia
Um sujeito muito mal,
Arruaceiro, arrogante,
Tremendo cara de pau,
Fazer mau aos semelhantes
Prá ele era essenci

Desonesto, desleal,
Quem pudesse maltratava,
Batia na própria mãe
Todo mundo o odiava
Não falava com ninguém,
Apenas em si pensava.

A mãe que não o suportava
No mundo se escafedeu
E ele ficou sozinho
Tão mau que quando morreu
Logicamente não foi
No céu aceito por Deus.

No inferno também os seus
Parceiros não aceitaram
Pois os piores demônios
Vendo ele se assustaram
Jogaram-lhe fogo em cima
E seu espírito queimaram.

E na vida, os que ficaram
Livres desse malfeitor
Fizeram o sepultamento
Dando glórias e louvor,
Porém o corpo maldito
A terra não aceitou.

Sua matéria secou
Ficou o couro e a ossada
A terra o repeliu
De junto da defuntada
Ficou aquela marmota
Assombrando nas estradas.

Meia noite à madrugada
No Estado do Paraná
É comum se ouvir gritos
Horríveis cortando o ar
Deixando o povo com medo
Do corpo-seco encontrar.

Nas ruas ou noutro lugar
Se ver gente apavorada
Temerosa de encontrar
Essa coisa indesejada,
Por isso ninguém mais sai
De casa na madrugada.

Nas horas da alvorada
Lá no Norte do Brasil
Quem ama a vida noturna,
Não trabalha ou é vadio,
É difícil ter um desses
Que ainda não o viu.

Minas Gerais já assistiu
Esse corpo aparecer
Sempre nas horas abertas
Quando não está a chover,
Seis horas e meia noite
É muito fácil se ver.

Ele vem aparecer
Sempre nas encruzilhadas
Ou nas matas  ciliares
Que ladeiam as estradas,
Só a pele sobre ossos
E a cabeleira assanhada.

Em áreas desabitadas
O som mais fácil se espalha,
Se ouve ao longe o ruído
Do arrastar de uma palha,
Quem passar nesses setores
Dá de cara com o canalha.

Sua aparição não falha
Prá quem faz coisas erradas,
Se você não for correto
Cuidado com as trapalhadas,
Que o Corpo-Seco te espera
Na primeira encruzilhada.

Não há nota registrada
Que ele atacou ninguém
Mas seu aspecto horroroso
Não deve fazer o bem,
Quem for mau em vida pode
Ter essa sina também

Já foi visto por alguém
Lá em Santa Catarina
No interior do Estado
Pertinho de Xavantina
E próximo a Florianópolis
Na cidade de Angelina.

Os paulistas de Andradina
Viveram dias assombrados
Com gritos horripilantes
Desse corpo rejeitado,
Também aqui no Nordeste
Foi visto em muitos Estados.

Os locais mais visitados
Pelo sobrenatural
São casas abandonadas,
Todas na zona rural
Pelos donos que migraram
Pras bandas da Capital.

Pratica um tremendo mal
Quem abandona o Sertão
Cortando todas as árvores
Deixando mais seco o chão
E vem morar nas cidades
A procura de ilusão.

É mais uma assombração
Que tem a mente cansada
Na rua vira avarento
E fica sem fazer nada.
Com o decorrer dos anos
Vira uma alma penada,
Um Corpo-Seco demente
Que sai assombrando a gente
Meia-noite à madrugada
SÉRIE LENDAS BRASILEIRAS - VOLUME 1





Volume I)
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 16/04/2009
Alterado em 19/11/2022
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