José Medeiros de Lacerda

Leia poesia - A poesia é o remédio da alma

Textos

A LENDA DO BOITATÁ
É cobra engolindo cobra
Nesses tempos de ilusão
Onde o amor virou lenda
E lenda virou jargão
Delinqüência hoje é homônimo
De violência e sinônimo
De falta de educação.

Mas a nossa tradição
Não vai desaparecer
Enquanto existir alguém
Que não a deixe morrer
Quem quiser que a desmereça
Se eu puder fazer que cresça
Farei tudo pra crescer.

O que eu vou descrever
Vem desde a antiguidade
E é lembrado e comentado
Até a atualidade
Talvez por desinteresse
Aparecendo hoje um desse
Será grande novidade.

Com muita sagacidade
Padre Anchieta escreveu
Na Carta de São Vicente
Sobre um fogo que correu
Num rio contra a corrente
Deixando a água fervente
E no campo se estendeu.

Quando desapareceu
O fogo virou serpente
Matando quem encontrava
Fosse índio ou outro vivente
Com força descomunal
Tinha instinto de animal
E inteligência de gente.

Essa entidade fervente
Tem nome a nunca acabar
Há quem chame de Boiúna,
De Mboi, Boitatá,
A Cobra, a Coisa, o Agente,
O Bicho do couro quente
Batatão, Biatatá..

Não vem ao caso o chamar
Interessa a falação
Lá no Sul, Tatá de Fogo
Corre em meio a um temporão
Coxilha abaixo ou acima
Na querência ou na campina,
Mais freqüente no verão.

Inimiga de traição
Chega sempre de surpresa
Quando alguém tenta agredi-la
Agredindo a Natureza
Não deixa o mal avançar,
Se este proliferar
Ela chega e vira a mesa.

Da floresta, com certeza,
É grande representante,
Defensora das montanhas
No seu vulto saltitante,
Há quem chame alma penada
Por ser vista a madrugada
Como um facho cintilante.

Mas há uma variante
Na lenda do Boi-tatá,
Há histórias de sacrilégio,
De traição, de azar,
De prática de bruxaria
Quando ela entra em agonia
Não há quem possa agüentar.

Quem essa fera encontrar
Precisa tomar cuidado
Prender a respiração
Ficar imobilizado
Que ela passa e vai embora
Fumaçando estrada a fora
Lhe deixando aliviado.

Isso é coisa do passado,
É lenda da antiguidade
Mas está sempre presente
Em nossa realidade
Nas bazófias e bravatas
Pouco presente nas matas
Mais freqüente na cidade.

O que era antiguidade
Hoje é cotidiano
O crime é acobertado
Pelo tal Direito Humano,
Bandido faz o displante
E a Justiça garante:
Ninguém toca no fulano.

Muitas vezes um insano
Com intenção de vingar
Um desafeto passado
Faz algo de irregular,
Não pode ser revidado,
Pois, como diz o ditado,
Está vendo o Boi-tatá.

Este jargão popular
Usado sem cerimônia
Hoje também se associa
A quem consome maconha,
O cabra perde a razão
E uma lenda do sertão
Vira coisa sem vergonha.

Diamba, a erva maconha,
Foi nativa no Brasil
Em toda América do Sul
Para remédio serviu,
De uma planta nativa
Passou a erva nociva
Quando o povo a descobriu.

E das matas do Brasil
Foi parar nas capitais
Deixou a vida silvestre
Pra se esconder nos quintais.
Por ser levada somente
Pra fabricar delinqüente
O Boi-tatá foi atrás.

Não podendo voltar mais
Pra seu “habitá” primeiro
Ficou vivendo em favelas
Lá do Rio de Janeiro
Fazendo o que não é certo,
Deixando o preso liberto
E o livre prisioneiro.

Lá no Norte brasileiro
Se não me foge a lembrança,
Há vinte anos atrás
Índio fazia festança
Com a dança da lambada,
Até vir uma cambada
E exportá-la pra França.

O modo como se dança
Imitava o Boi-tatá
Serpenteando os quadris
Saia godê a voar,
Da França se alastraria
Pra vir parar na Bahia
E tudo se transformar.

De modo particular
Lambada virou fricote,
Boi-tatá cuspindo fogo
Fez homem virar frangote
Dançar abrindo a rodinha
Requebrar como galinha
Depilar-se, usar saiote.

Axé, galinha, fricote,
Hoje é apenas lembrança,
Juventude ha vinte anos
Que viveu esta mudança
Constata sem alegria,
Que os modismos da Bahia
Virou coisa de criança.

O forró hoje se dança,
Seja em clube ou discoteca,
Com a mulher tirando a roupa
E mostrando a perereca
E até parece mentira,
Quanto mais roupa ela tira
Mais o homem desmunheca.

Ceará na “bundoteca”
Assumiu a realeza,
Já desbancou a Bahia
Em dança de safadeza,
Palco virou pardieiro
Transformando em galinheiro
Os quartinhos de princesa.

De modo particular
Lambada virou fricote,
Boi-tatá cuspindo fogo
Fez homem virar frangote
Dançar abrindo a rodinha
Requebrar como galinha
Depilar-se, usar saiote.

Axé, galinha, fricote,
Hoje é apenas lembrança,
Juventude ha vinte anos
Que viveu esta mudança
Constata sem alegria,
Que os modismos da Bahia
Virou coisa de criança.

O forró hoje se dança,
Seja em clube ou discoteca,
Com a mulher tirando a roupa
E mostrando a perereca
E até parece mentira,
Quanto mais roupa ela tira
Mais o homem desmunheca.

Ceará na “bundoteca”
Assumiu a realeza,
Já desbancou a Bahia
Em dança de safadeza,
Palco virou pardieiro
Transformando em galinheiro
Os quartinhos de princesa.

De modo particular
Lambada virou fricote,
Boi-tatá cuspindo fogo
Fez homem virar frangote
Dançar abrindo a rodinha
Requebrar como galinha
Depilar-se, usar saiote.

Axé, galinha, fricote,
Hoje é apenas lembrança,
Juventude ha vinte anos
Que viveu esta mudança
Constata sem alegria,
Que os modismos da Bahia
Virou coisa de criança.

O forró hoje se dança,
Seja em clube ou discoteca,
Com a mulher tirando a roupa
E mostrando a perereca
E até parece mentira,
Quanto mais roupa ela tira
Mais o homem desmunheca.

Ceará na “bundoteca”
Assumiu a realeza,
Já desbancou a Bahia
Em dança de safadeza,
Palco virou pardieiro
Transformando em galinheiro
Os quartinhos de princesa.

Boitatá virou a mesa
Também dos cabras da peste
Lampião e Padre Cícero,
Eram símbolos do agreste,
Coronel e cangaceiros
Hoje seriam cordeiros
Se voltassem no Nordeste.

Não há música que preste
Como antes existia
O forró da juventude
Hoje é pornofonia,
A moça imita a minhoca
E a do homem nem se toca,
Dorme como lesma fria.

Textos com pornografia
Se ler na televisão,
As danças libidinosas
Tomam conta do sertão,
O jovem vai se envolvendo
Com o momento e esquecendo
Da palavra educação.

Precisa reflexão
De quem criou essas leis,
Pensar no mal impetrado
E desmanchar o que fez
Seja em parte ou no todo
Pois o efeito desse engodo
Centuplica a cada mês.

Se não pararmos de vez
Com esta falta de ação
Bandido faz o decreto
Pra mandar no cidadão
Termina o bem se extinguindo
E o Boitatá dirigindo
Tudo que é repartição.

O habitante do sertão
Já foi chamado de Jeca
Hoje todo sertanejo
Sabe o que é discoteca,
Está tudo alienado
E já se ver no roçado
Matuto que desmunheca.

Essa Boiúna sapeca
Soube tão bem se vingar
Que a seu modo sorrateiro
Fez tudo se transformar
Deixando o mundo mudado
E o jovem alucinado
Ficar vendo o Boitatá.

E para tudo voltar
A ser como no passado
Já não há mais condições
Porque foi tudo mudado
Cidadão mora escondido,
Polícia atira, é bandido,
Bandido é pobre coitado.

Qualquer pai é processado
Se ao seu filho exemplar
Como ele foi criado
Pensando em o educar,
E a criança cria asa,
Pinta, borda, agita, arrasa,
Faz tudo que lhe agradar.

É a lenda do Boi-tatá
Cada dia mais sutil,
Chegou com o descobrimento
E daqui jamais saiu,
Com seus modos controversos.
E eu descrevi em versos
Mais um COISAS DO BRASIL.
SÉRIE LENDAS BRASILEIRAS - VOLUME 5
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 15/04/2009
Alterado em 19/11/2022
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