A LENDA DO BOITATÁ
É cobra engolindo cobra
Nesses tempos de ilusão Onde o amor virou lenda E lenda virou jargão Delinqüência hoje é homônimo De violência e sinônimo De falta de educação. Mas a nossa tradição Não vai desaparecer Enquanto existir alguém Que não a deixe morrer Quem quiser que a desmereça Se eu puder fazer que cresça Farei tudo pra crescer. O que eu vou descrever Vem desde a antiguidade E é lembrado e comentado Até a atualidade Talvez por desinteresse Aparecendo hoje um desse Será grande novidade. Com muita sagacidade Padre Anchieta escreveu Na Carta de São Vicente Sobre um fogo que correu Num rio contra a corrente Deixando a água fervente E no campo se estendeu. Quando desapareceu O fogo virou serpente Matando quem encontrava Fosse índio ou outro vivente Com força descomunal Tinha instinto de animal E inteligência de gente. Essa entidade fervente Tem nome a nunca acabar Há quem chame de Boiúna, De Mboi, Boitatá, A Cobra, a Coisa, o Agente, O Bicho do couro quente Batatão, Biatatá.. Não vem ao caso o chamar Interessa a falação Lá no Sul, Tatá de Fogo Corre em meio a um temporão Coxilha abaixo ou acima Na querência ou na campina, Mais freqüente no verão. Inimiga de traição Chega sempre de surpresa Quando alguém tenta agredi-la Agredindo a Natureza Não deixa o mal avançar, Se este proliferar Ela chega e vira a mesa. Da floresta, com certeza, É grande representante, Defensora das montanhas No seu vulto saltitante, Há quem chame alma penada Por ser vista a madrugada Como um facho cintilante. Mas há uma variante Na lenda do Boi-tatá, Há histórias de sacrilégio, De traição, de azar, De prática de bruxaria Quando ela entra em agonia Não há quem possa agüentar. Quem essa fera encontrar Precisa tomar cuidado Prender a respiração Ficar imobilizado Que ela passa e vai embora Fumaçando estrada a fora Lhe deixando aliviado. Isso é coisa do passado, É lenda da antiguidade Mas está sempre presente Em nossa realidade Nas bazófias e bravatas Pouco presente nas matas Mais freqüente na cidade. O que era antiguidade Hoje é cotidiano O crime é acobertado Pelo tal Direito Humano, Bandido faz o displante E a Justiça garante: Ninguém toca no fulano. Muitas vezes um insano Com intenção de vingar Um desafeto passado Faz algo de irregular, Não pode ser revidado, Pois, como diz o ditado, Está vendo o Boi-tatá. Este jargão popular Usado sem cerimônia Hoje também se associa A quem consome maconha, O cabra perde a razão E uma lenda do sertão Vira coisa sem vergonha. Diamba, a erva maconha, Foi nativa no Brasil Em toda América do Sul Para remédio serviu, De uma planta nativa Passou a erva nociva Quando o povo a descobriu. E das matas do Brasil Foi parar nas capitais Deixou a vida silvestre Pra se esconder nos quintais. Por ser levada somente Pra fabricar delinqüente O Boi-tatá foi atrás. Não podendo voltar mais Pra seu “habitá” primeiro Ficou vivendo em favelas Lá do Rio de Janeiro Fazendo o que não é certo, Deixando o preso liberto E o livre prisioneiro. Lá no Norte brasileiro Se não me foge a lembrança, Há vinte anos atrás Índio fazia festança Com a dança da lambada, Até vir uma cambada E exportá-la pra França. O modo como se dança Imitava o Boi-tatá Serpenteando os quadris Saia godê a voar, Da França se alastraria Pra vir parar na Bahia E tudo se transformar. De modo particular Lambada virou fricote, Boi-tatá cuspindo fogo Fez homem virar frangote Dançar abrindo a rodinha Requebrar como galinha Depilar-se, usar saiote. Axé, galinha, fricote, Hoje é apenas lembrança, Juventude ha vinte anos Que viveu esta mudança Constata sem alegria, Que os modismos da Bahia Virou coisa de criança. O forró hoje se dança, Seja em clube ou discoteca, Com a mulher tirando a roupa E mostrando a perereca E até parece mentira, Quanto mais roupa ela tira Mais o homem desmunheca. Ceará na “bundoteca” Assumiu a realeza, Já desbancou a Bahia Em dança de safadeza, Palco virou pardieiro Transformando em galinheiro Os quartinhos de princesa. De modo particular Lambada virou fricote, Boi-tatá cuspindo fogo Fez homem virar frangote Dançar abrindo a rodinha Requebrar como galinha Depilar-se, usar saiote. Axé, galinha, fricote, Hoje é apenas lembrança, Juventude ha vinte anos Que viveu esta mudança Constata sem alegria, Que os modismos da Bahia Virou coisa de criança. O forró hoje se dança, Seja em clube ou discoteca, Com a mulher tirando a roupa E mostrando a perereca E até parece mentira, Quanto mais roupa ela tira Mais o homem desmunheca. Ceará na “bundoteca” Assumiu a realeza, Já desbancou a Bahia Em dança de safadeza, Palco virou pardieiro Transformando em galinheiro Os quartinhos de princesa. De modo particular Lambada virou fricote, Boi-tatá cuspindo fogo Fez homem virar frangote Dançar abrindo a rodinha Requebrar como galinha Depilar-se, usar saiote. Axé, galinha, fricote, Hoje é apenas lembrança, Juventude ha vinte anos Que viveu esta mudança Constata sem alegria, Que os modismos da Bahia Virou coisa de criança. O forró hoje se dança, Seja em clube ou discoteca, Com a mulher tirando a roupa E mostrando a perereca E até parece mentira, Quanto mais roupa ela tira Mais o homem desmunheca. Ceará na “bundoteca” Assumiu a realeza, Já desbancou a Bahia Em dança de safadeza, Palco virou pardieiro Transformando em galinheiro Os quartinhos de princesa. Boitatá virou a mesa Também dos cabras da peste Lampião e Padre Cícero, Eram símbolos do agreste, Coronel e cangaceiros Hoje seriam cordeiros Se voltassem no Nordeste. Não há música que preste Como antes existia O forró da juventude Hoje é pornofonia, A moça imita a minhoca E a do homem nem se toca, Dorme como lesma fria. Textos com pornografia Se ler na televisão, As danças libidinosas Tomam conta do sertão, O jovem vai se envolvendo Com o momento e esquecendo Da palavra educação. Precisa reflexão De quem criou essas leis, Pensar no mal impetrado E desmanchar o que fez Seja em parte ou no todo Pois o efeito desse engodo Centuplica a cada mês. Se não pararmos de vez Com esta falta de ação Bandido faz o decreto Pra mandar no cidadão Termina o bem se extinguindo E o Boitatá dirigindo Tudo que é repartição. O habitante do sertão Já foi chamado de Jeca Hoje todo sertanejo Sabe o que é discoteca, Está tudo alienado E já se ver no roçado Matuto que desmunheca. Essa Boiúna sapeca Soube tão bem se vingar Que a seu modo sorrateiro Fez tudo se transformar Deixando o mundo mudado E o jovem alucinado Ficar vendo o Boitatá. E para tudo voltar A ser como no passado Já não há mais condições Porque foi tudo mudado Cidadão mora escondido, Polícia atira, é bandido, Bandido é pobre coitado. Qualquer pai é processado Se ao seu filho exemplar Como ele foi criado Pensando em o educar, E a criança cria asa, Pinta, borda, agita, arrasa, Faz tudo que lhe agradar. É a lenda do Boi-tatá Cada dia mais sutil, Chegou com o descobrimento E daqui jamais saiu, Com seus modos controversos. E eu descrevi em versos Mais um COISAS DO BRASIL. SÉRIE LENDAS BRASILEIRAS - VOLUME 5
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 15/04/2009
Alterado em 19/11/2022 Copyright © 2009. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |