José Medeiros de Lacerda

Leia poesia - A poesia é o remédio da alma

Textos

ATESTADO DE ÓBITO DE UM AMOR QUE NÃO MORREU (Escrito em maio de 1983)
E ERA MENTIRA!
O que? Como? Por quê?
Todos esses sofrimentos
São conseqüências das horas
De distração que passei
A me iludir com você.

Noite de estágio,
Várias amigas,
Muitas calúnias,
Minha inocência,
Tua incompreensão.

Te afastaste.
Apaga-se a chama,
A mesma chama
Que há dias atrás
Criaste.

A chama da vida,
Da felicidade,
Da ilusão e do fim        
Dos meus dissabores.

Mas te afastaste.
E, só tua ausência
Me faz renascer
Tais dores.

Fim de romance.
Já sinto voltando
O eterno momento
Da solidão.

Momento da mágoa,
Do medo de tudo,
Da dor do ser só,
Do amar em vão.

Prolongas tua ira
Em outro ambiente
Mais familiar,
Mais aconchegante.

E rompes com tudo,
E rasgas o verbo
E me esculachas,
Me cospe no rosto
Teu ódio inflamante.

E chegas ao auge
De tua loucura.

E tu me destratas,
Me chama de fraco,
Covarde, corrupto,
Chantageador;
Em tua cegueira
Que o ódio provoca
Nem vês que te choro
Tão singelo amor!

Tu não me dás trégua,
Tu não me dás tempo,
Tu não me dás chance
De me defender;
Somente deplora,
Machuca, maltrata
Alguém que sonhava
Contigo viver.

E fica esquecida
Do que me juraste:
Um amor tão puro,
Tão meigo, tão lindo,
Sofrido, escondido
E tão proibido
Que me dedicaste.

Esqueceste tudo:
As tuas carícias,
Os teus alisados,
As tuas mordidas,
Os teus beliscões;
Esqueceste rápido
Os nossos acochos,
Os nossos encontros
Em ruas desertas,
Como dois ladrões.

Chegou o momento:
Maldade na “cuca”,
Veneno nos lábios,
Você mata tudo,
Você põe um fim.
Você. Só você.
Profana, despreza,
Castiga, condena,
Sem pena de mim.

E eu fico chorando,
Sofrendo, sozinho,
Triste e desprezado
Por ter confiado
No teu fingimento.
Chegou minha vez
De te detratar,
Também te julgar,
De ser violento.

E digo, querida,
Tu nunca me amaste,
Tu só me enganaste,
Tu só me ajudaste
A sofrer bem mais.
Depois disto tudo
Que tu me fizeste
Apenas me deste
Direito de ver-te
Como Satanás.

Mas eu te amo tanto ...

Que mesmo sofrendo
Eu tenho esperanças
De ainda beijar-te,
Beber dos teus lábios
Toda tua ira.
A ira que levas
No teu coração
Que dizia me amar...
E ERA MENTIRA!

Patos, 05.05.83
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 04/07/2008
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