José Medeiros de Lacerda

Leia poesia - A poesia é o remédio da alma

Textos

QUE REI SOU EU?
Vivo triste neste mundo,
Sinto a vida tão vazia,
Não tenho mais alegria,
Meu sofrimento é profundo,
Sou como um cheque sem fundo,
Me chamam de Majestade
Porque, na realidade,
Sou o REI DOS VAGABUNDOS.

Bebendo de bar em bar,
Cabarés e botequins,
Durmo em bancos de jardins
Ou em portas de garagem,
Exposto à chuva e à friagem,
Me chamam de Majestade
Porque, na realidade,
Sou o REI DA MALANDRAGEM.

A vida que eu já vivi
Hoje só resta lembrança,
Não tenho mais esperança
De abraçar meus companheiros,
Vivo liso, sem dinheiro,
Me chamam de Majestade
Porque, na realidade,
Sou o REI DOS CACHACEIROS.

Quando nasce um novo dia
Já me encontro nas calçadas
Com minha voz embargada
Cantando velhas canções
Ou poesias de Camões,
Me chamam de Majestade
Porque, na realidade
Eu sou o REI DOS LADRÕES.

Quando estou embriagado
Sozinho fico sonhando
E assim vou recordando
Minhas noites de seresta,
Hoje, só saudade resta,
Me chamam de Majestade
Pois sou, na realidade,
REI DE TUDO QUE NÃO PRESTA.

Já fui o REI DO ASFALTO,
Rei do Morro, Rei em Tudo,
O maioral no estudo,
Rei da Harpa, Rei da Lira,
Hoje que a sorte me tira
Minha razão de viver,
Quando muito eu posso ser
O grande REI DA MENTIRA.

Nos tempos de boa ventura
Todo mundo me estimava,
Namoradas não faltava,
Tinha mais de mil amores,
Não vivia nestas dores,
Meu nome era Majestade
Pois era, na realidade,
O REI DOS CONQUISTADORES.

Por isso que vos pergunto,
Meu bom Deus, que rei sou eu?
Sou alguém que já morreu,
Porém já fui triunfante.
Hoje, peregrino errante,
Folhas que o vento levou,
Agora, nada mais sou
Que um cadáver ambulante!
Brasília, 18.04.74
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 29/06/2008
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