QUANDO CHOVE NO SERTÃO (MOTE EM CORDEL)
Criado no sangradouro do
Açude Novo de Santa Luzia-PB, que transbordava desde Janeiro de 2004, após10 anos sem água. Sertão onde eu fui nascido Sertão onde eu me criei Castigado pela seca Desprezado pela lei; Inspirado em pensamento O poeta de talento Na sua imaginação Esquecendo a desventura Descreve a grande fartura QUANDO CHOVE NO SERTÃO. Cangaceiro no passado Retirante no presente Duas figuras distintas Um sofrido, outro valente As festas de vaquejada, Argolinha em cavalhada, As festas de apartação Se produz o ano inteiro São festejos do vaqueiro QUANDO CHOVE NO SERTÃO. Poeta canta o sertão Em toda sua grandeza Com a força da inspiração Exaltando a Natureza; Sertanejo em sua messe Que de grande só conhece Sofrimento e precisão, Na seca é sede e tortura Mas tem riqueza e fartura QUANDO CHOVE NO SERTÃO. O valente sertanejo Que crê em Deus e confia Vê chuva na experiência Dia de Santa Luzia Se não chover até Março E vendo o inverno escasso Deixa sua obrigação. E párte prá bem distante Porém volta saltitante QUANDO CHOVE NO SERTÃO. Parte, mas volta depois, Esquecendo a amargura, Prá destocar sua roça, Fazer sua agricultura; Hospeda sempre a sorrir Com a mulher prá servir Numas coisas e outras não Presenteando o hospedado Com a lavra do seu roçado QUANDO CHOVE NO SERTTÃO Ainda existe a candura Da cabocla sertaneja Que só crer no casamento Se for feito na igreja; Crendices do meu Nordeste O Cariri, o Agreste Pedaços do meu rincão Onde com orgulho se encerra A fibra forte da terra QUANDO CHOVE NO SERTÃO. Meu sertão dos tabuleiros Onde canta a siriema Descansando nos verdores Da Serra da Borborema; Canta cheia de esperança Quando a chuva com tardança Não vem esfriar o chão E canta mais animada Vendo a terra resfriada QUANDO CHOVE NO SERTÃO. Sertanejo no sol quente Vê o tempo da estiagem Transformá-lo em forja ardente Do heroismo e da coragem; Até que chega o inverno Transformando aquele inferno Na Terra da Redenção E o verde volta de novo E canta alegre o seu povo QUANDO CHOVE NO SERTÃO. E canta o sertão inteiro Na copa verde dos matos Nas cachoeiras dos rios, No murmúrio dos regatos. O cantador de repente Que mexe na alma da gente Faz a sua louvação Cantando verso inspirado Exaltando o chão molhado QUANDO CHOVE NO SERTÃO. A festiva passarada Se desmancha em cantoria Anunciando ao sertanejo O despontar de outro dia; Nos galhos da baraúna O pássaro preto Graúna Faz a sua pregação Parece um vigário velho Cantando o Santo Evangelho QUANDO CHOVE NO SERTÃO. Quando o Sol vai descambando, Se despedindo da terra Deixa as tardes mais morenas Beijando a crista da serra; O céu fica mais bonito Avermelhando o infinito. Fazendo a comparação É um grande chapéu de couro Todo folhado de ouro QUANDO CHOVE NO SERTÃO. Sertão canta noite a dentro O sertanejo se intrete No chorado da sanfona Os mais moços se divertem Os velhos sentem saudade Dos tempos da mocidade Quando dançavam baião No seio da Natureza Tem encanto e tem beleza QUANDO CHOVE NO SERTÃO. Nas frescas noites de escuro As estrelas têm ciúme Quando a terra cá em baixo Se esfarela em vagalume Com suas luzes em bando Se acendendo e se apagando Deixam na mata um clarão Até amanhecer o dia Com a neve na serrania QUANDO CHOVE NO SERTÃO. Sertão seco é vida e morte Lutando num grande jogo As grandes secas do Norte O sertão pegando fogo A terra fica queimada As árvores desfolhadas Parecem pés de carvão Mas um fenômeno se nota No milagre da rebrota QUANDO CHOVE NO SERTÃO. No pingo do meio dia O Sol tinindo de quente A terra que não esfria Na sola dos pés da gente; Num desafio ao braseiro Só os velhos juazeiros Dão abrigo a criação Aonde um boi velho muge Se lembrando da babugem QUANDO CHOVE NO SERTÃO. Eu faço aqui um apelo Aos homens de posição: Dê mais carinho e desvelo Ao caboclo do sertão! Esse povo flagelado Foi quem fez o Deputado E o Senador da Nação Mas só conhece melhora E bota a fome prá fora QUANDO CHOVE NO SERTÃO. Série Cantadores, Vol. XXV
Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 28/06/2008
Alterado em 22/12/2009 Copyright © 2008. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |